Fortemente amarrados aos postes que existiam no grande largo
da aldeia, os presos olhavam uns para os outros, com angústia, já quase perdida
por completo a fé em qualquer espécie de auxílio.
O ritmo da dança acelerava-se cada vez mais, À medida que a
noite caia rapidamente até que a escuridão se tornou absoluta fora do raio de
luz das fogueiras , aumentando o horror daquelas horas trágicas.
O canto monótono com que os guerreiros acompanhavam a dança
e o desesperante retumbar dos tambores eram insuportáveis e capazes de fazerem
endoidecer o mais corajoso. Os índios mexiam-se incansavelmente a contorcerem
os corpos com trejeitos de loucos; a cabeça abanava do peito para as costas,
com violência, enquanto iam dando voltas sem descanso, num trote lento, de
animal amestrado, que parecia apisoar o chão com os enormes pés, e como
desconjuntados, fletiam a cintura, o pescoço, os ombros, todo o corpo, sem
pararem um momento sequer, durante horas e horas.
Vivian sentia a cabeça a estalar e bem desejaria tapar os
ouvidos, mas as grossas cordas que lhe atavam as mãos impediam qualquer
movimento. De vez em quando, um pele-vermelha lançava um grito penetrante que
parecia ter o condão de excitar ainda mais os selvagens dançarinos e que punha
crispações nos desafinados nervos da jovem. O pânico apoderara-se dela e, com
os olhos dilatados pelo terror, olhava para tudo cheia de medo. As caras
diabolicamente pintadas dos guerreiros e os seus ágeis saltos, de mistura com
esgares pavorosos, obrigaram-na a fechar os olhos; queria fugir àquele
pesadelo, mas voltava a abri-los quase imediatamente porque os barulhos iam
adquirindo intensidade e a imaginação tornava ainda mais atroz aquele horror.
(Coleção Búfalo, nº 27)
A seguir: Sombras de esperança na noite
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