sexta-feira, 13 de setembro de 2013

PAS076. A dança da morte

Fortemente amarrados aos postes que existiam no grande largo da aldeia, os presos olhavam uns para os outros, com angústia, já quase perdida por completo a fé em qualquer espécie de auxílio.
O ritmo da dança acelerava-se cada vez mais, À medida que a noite caia rapidamente até que a escuridão se tornou absoluta fora do raio de luz das fogueiras , aumentando o horror daquelas horas trágicas.
O canto monótono com que os guerreiros acompanhavam a dança e o desesperante retumbar dos tambores eram insuportáveis e capazes de fazerem endoidecer o mais corajoso. Os índios mexiam-se incansavelmente a contorcerem os corpos com trejeitos de loucos; a cabeça abanava do peito para as costas, com violência, enquanto iam dando voltas sem descanso, num trote lento, de animal amestrado, que parecia apisoar o chão com os enormes pés, e como desconjuntados, fletiam a cintura, o pescoço, os ombros, todo o corpo, sem pararem um momento sequer, durante horas e horas.
Vivian sentia a cabeça a estalar e bem desejaria tapar os ouvidos, mas as grossas cordas que lhe atavam as mãos impediam qualquer movimento. De vez em quando, um pele-vermelha lançava um grito penetrante que parecia ter o condão de excitar ainda mais os selvagens dançarinos e que punha crispações nos desafinados nervos da jovem. O pânico apoderara-se dela e, com os olhos dilatados pelo terror, olhava para tudo cheia de medo. As caras diabolicamente pintadas dos guerreiros e os seus ágeis saltos, de mistura com esgares pavorosos, obrigaram-na a fechar os olhos; queria fugir àquele pesadelo, mas voltava a abri-los quase imediatamente porque os barulhos iam adquirindo intensidade e a imaginação tornava ainda mais atroz aquele horror.
(Coleção Búfalo, nº 27)
 
 
A seguir: Sombras de esperança na noite
 

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