segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

CLT017.13 Suspeitas infundadas desvanecem-se

Ronald soltou um uivo e abriu a mão. O revólver escapou-lhe dos dedos e caiu lá em baixo. Então, Tony fincou o joelho no estômago do ajudante do «sheriff» e arrojou-o para longe. Levantaram-se os dois ao mesmo tempo, respirando ofegantes. Tony não podia dar oportunidade ao seu rival para sacar o outro revólver. Deu-lhe um soco no estômago.

Ronald uivou de dor e dobrou-se, mas ao mesmo tempo que o fazia disparou uma esquerda que atingiu Tony nos lábios.

Trevor cambaleou e esteve a ponto de cair, mas fazendo um esforço sobre-humano saltou para a frente. Entraram novamente em contacto e continuaram a golpearem-se. Os seus punhos sulcavam o ar e por vezes encontravam no caminho os alvos a que eram dirigidos.

Ao chegarem ao esgotamento, os seus movimentos começaram a ser lentos e cada um punha nos seus punhos o resto de energias, procurando pôr fora de combate o seu inimigo.

Tony conseguiu alcançar o queixo de Ronald, mas este, antes de cair, conseguiu agarrar-se a Trevor e os dois caíram pela encosta. Rolaram separados até chegar ao fim.

Tony levantou-se, cuspindo sangue, suado e com as roupas destroçadas, mas deu-lhe satisfação ver o estado em que se encontrava Ronald, que tentava levantar-se, com grande dificuldade.

A sua cara era uma máscara sangrenta, tinha um olho fechado e um lábio aberto.

Tony foi até ele e deu-lhe um murro na ponta do queixo. Desta vez, Ronald nem sequer deu um suspiro. Caiu e ficou inerte.

Tony contemplou-o um momento, vacilante, a ponto de cair também. Depois aproximou-se do seu cavalo, agarrou no cantil e bebeu um trago de água. Lavou a cara e secou-a com um lenço. As suas mãos estavam cheias de arranhões e os dedos inchados.

Aproximou-se de Ronald, o qual ainda não tinha recobrado o conhecimento. Agachando-se sobre ele, tirou-lhe os dois revólveres que levava no cinturão. Meteu-os nos coldres, tirou-lhe o cinturão e lançou-o para longe, para as rochas.

Sentou-se numa pedra para descansar. Na mão direita segurava o cantil. Estendeu o braço e despejou um pouco de água na cara de Ronald, que começou a mexer-se. O firmamento estava cheio de estrelas.

Ronald apoiou a palma da mão na terra ressequida e sentou-se. Cuspiu saliva misturada, com sangue, e disse:

— Maldito sejas, Trevor!... Voltaste a ganhar pondo em prática os teus malditos truques.

— Quando se luta com um selvagem como tu» não se tem mais remédio senão exibir o seu reportório. Mas não é disso que vamos falar agora, tu e eu. Há temas mais interessantes para mim.

— Por exemplo?

— Lee Carey.

Ronald passou o dorso da mão pela boca.

— Vai para o inferno! — exclamou.

— Solta outra como essa e arranco-te os dentes que te restam. Houve um silêncio.

— Perdes o tempo comigo, Trevor. Eu não sei nada acerca da morte de Lee Carey.

— Não tinha vontade de rir agora. Quando quiser uma anedota te a pedirei... Vamos falar a sério. Tu vieste a El Paso e contrataste Ray Jackson e Spencer Murray para que matassem Lee Corey. Ronald meneou a cabeça em sinal negativo.

— Não há nada de verdade em tudo isso. Nem sequer sei quem são esses tipos.

Tony deu-lhe uma bofetada na boca com as costas da mão. Ronald inclinou-se para trás e cobriu a cara com o braço, gemendo.

— Garanto-te que não os conheço. Desejava a morte de Lee Carey, isso é verdade, mas jamais me atrevia a matá-lo.

— Claro que não. És um cobarde. E por isso contrataste aqueles dois tipos.

— Não contratei ninguém! Dou-te a minha palavra de honra!

— Tua palavra de honra?... Essa é que é boa. Que classe de honra é a tua, Ronald? Pelos vistos, preferes que te faça em bocados... E palavra que o vais conseguir.

Tony fez tensão de bater outra vez, e Ronald encolheu-se como um rato.

— Não me batas mais!... É verdade o que te digo. Não tive nada a ver com a morte de Lee Carey.

— Por todo o inferno! Vais esgotar a minha paciência? — agarrou-o pelo peito da camisa e aproximou a sua cara da dele. — Vamos, Ronald!... Confessa de uma vez!

Ronald teve um soluço e todo o seu corpo estremeceu.

— Não me castigues mais!... Será que não dás conta?... Sou o que disseste antes. Sou um cobarde... Sempre o fui. Nunca fui capaz de tocar num cabelo a Lee Carey. Também o contei a Lídia. Pensei muitas vezes matar Lee, mas nunca levei o meu plano avante, precisamente por isso. Eu temia-o muito. Lee era o que eu queria ter sido. Possuía uma rapidez endiabrada com o revólver, vencia todas as lutas e era admirado por todos os vizinhos da comarca... E ele tinha Lídia... Podia ter contratado uns quantos «pistoleiros» para acabar com a sua vida, mas nem sequer a isso me atrevi, porque Lee tinha um sexto sentido e sabia que eu o odiava. Era astuto e se conseguisse livrar-se da emboscada que eu lhe tivesse preparado, Sabia que semente Ronald Donovan era o culpado.

— Contradizes-te a ti mesmo. Ou não dás por isso? Se tu dizes que Lee, em caso de se livrar da emboscada, saberia que eras tu o promotor dela, porque foi morto por esses «pistoleiros»? Quem lhes pagou?

— Não fui eu. Ê a única coisa que te posso dizer.

Ronald suspirou aliviado. Suava por todo o corpo.

— O «sheriff»! — exclamou.

— Smilles?

— Pode tê-lo feito.

— Vou-te fechar para sempre essa suja boca! O «sheriff» apreciava Lee Carey. Falou-me dele nos melhores termos.

— Então não sei quem possa tê-lo feito!

Tony olhou-o fixamente um instante e depois deixou-o livre.

Ronald caiu novamente batendo com as costas no chão.

— Ouve— pediu. — Podes dar-me um trago de água, Trevor.

Tony estendeu-lhe o cantil enquanto franzia as sobrancelhas.

— O «sheriff». Porque não?

Nesse momento dançavam no seu cérebro as palavras que tinha ouvido da boca de Lídia.

«O «sheriff» e meu pai foram muito bons amigos e, quando ele morreu, Smilles, de certo modo ocupou o seu lugar»

Santo Deus! Não pode ser. Mas, quem então?

Olhou para Ronald, que acabava de beber a última gota de água do cantil.

— Vamos, Ronald.

— Não quero ir contigo!... Deixar-te-ei em paz... podes ficar com Lídia... Voltarei a Pau Verde.

— Nada disso. Tu vens comigo. Regressamos a Paso. Anda, levanta-te.

— Que vou fazer agora a El Paso?... Só quero voltar a Pau Verde.

— Tu obedecerás às minhas ordens, Ronald. Nisso está a tua vida.

Ronald levantou-se e sacudiu a cabeça em sentido afirmativo.

— Está bem — disse com tristeza. — Tu é que mandas. Subiram para as selas e voltaram as garupas para El Paso.

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