Quando chegou à extremidade da rua, um homem, segurando ainda na mão o martelo de que acabara de servir-se para amoldar o ferro na bigorna, saiu da oficina de ferreiro para vir ao seu encontro.
— Pelo visto és tu o novo xerife cá da comarca —disse o homem, olhando para Mike com a maior curiosidade.
— Por enquanto, pelo menos, estou desempenhando esse cargo.
— Ontem ouvi referir o que se passou contigo e com Luck. Confesso que me custou um pouco a acreditar.
— Foi a coisa mais simples deste mundo. O que mais me surpreendeu foi a passividade de toda a gente que ali se encontrava, pois, podiam ter armado logo ali uma tremenda zaragata se o tivessem querido.
— Aquilo é tudo uma súcia de cobardes — disse o serralheiro em voz baixa. — Quando encontram pela frente alguém que lhes não vira as costas, agacham-se como os rafeiros fustigados pelo dono. Isso mesmo era o que todos nós deveríamos ter feito já há muito tempo. Infelizmente, aqui em Lenox, há muita gente que treme de medo. Pois digo-lhe, xerife, que me tem a seu lado para o que for necessário.
— Os meus agradecimentos. Vai ser-me de grande utilidade poder contar com algumas pessoas decididas que me auxiliem a restabelecer a paz e a ordem.
— Pode estar certo de que há muito mais pessoas do meu género. Descanse que elas cá virão oferecer-lhe os seus préstimos.
— Oxalá que assim seja.
Apertou a mão ao mestre ferreiro e prosseguiu o seu caminho. Naquele mesmo instante acabava de dar entrada na povoação uma diligência escoltada por três cavaleiros. Encontravam-se todos armados e parecia olharem para toda a gente com grande desconfiança. Mike deteve-se para observar o que se passava e foi nessa altura que um dos recém-chegados descobriu a estrela que o mancebo tinha pregada na camisa.
— Muito bons dias — cumprimentou, aproximando-se do jovem representante da Lei. — O senhor é que é o xerife Mac Bride?
Mike acenou afirmativamente.
— Fui encarregue de uma missão junto de si, na hipótese de ainda se encontrar vivo.
— Muito folgo que tenham chegado a tempo. Quem é que vocês vêm a proteger com essa escolta?
— Trata-se de uma remessa de dinheiro enviada pelo Banco de Graham. Só depois de o juiz Grant ter garantido que havia aqui uma pessoa de toda a confiança é que se decidiram a enviar o dinheiro.
— A importância é grande?
— Cinquenta mil dólares em papel e uma reserva de moedas de ouro, num total de oitenta mil dólares.
— Não surgiu qualquer contratempo no caminho?
— Absolutamente nada. Preveniram-nos apenas de que devíamos trazer os olhos bem abertos, para a hipótese de Dong Blitte pretender meter lá o nariz.
— Espero que esse tipo não venha meter-se onde não é chamado. Eu acompanho-os até ao Banco.
Minutos depois a diligência parava em frente do estabelecimento que tinha a dirigi-lo um homem de baixa estatura, bastante magro e de olhos muito vivos. Chamava-se Snydell e fora já vítima de dois assaltos, um dos quais se frustrou pela intervenção enérgica e decidida do texano Burke, que era o xerife dois anos antes.
Snydell mostrava-se inquieto. Vigiava cuidadosamente a transferência do dinheiro sem parecer confiar demasiado na presença de Mike. Sabia muito bem que a existência de um xerife em Lenox não era garantia suficiente para segurança do dinheiro, pelo que se valia de dois empregados do Banco, fortemente armados e dispostos para tudo.
— Esperemos que não venha a ter muitas visitas desagradáveis — disse, ao terminar a operação.
— Também assim o espero; apesar de que me custa muito dinheiro o facto de prevenir essa hipótese.
—Pagando a guardas especiais? Snydell abanou negativamente a cabeça, enquanto os seus olhos vivos e inquietos olhavam para um e outro lado da rua.
— A única maneira eficaz consiste em pagar a quem se encarregue da sua proteção, dada a sua influência junto dessa corja de piratas.
— Não compreendo.
— Será melhor que me não faça perguntas, xerife. Lamento não poder confiar demasiado na eficiência da lei. Os acontecimentos anteriores dão-me sobejos motivos para isso.
— Tantos insucessos tem tido até hoje?
Snydell ficou-se a olhá-lo, como se quisesse avaliar a espécie de proteção que podia esperar do novo representante da Lei.
—Bastantes foram. Até que decidi mudar de processos.
— E quem é que toma agora o Banco sob a sua proteção?
— Lamento não poder dizer-lho, xerife, mas é das cláusulas do contrato.
— Muito dispendioso?
—É também segredo.
Mike acabou por compreender que nada conseguia de pessoa tão obstinada e desistiu de fazer perguntas. No seu cérebro, porém, tomava vulto um certo nome e tinha a convicção de que não andava longe da verdade. Preparava-se para prosseguir no seu caminho, quando Snydell se dirigiu ao seu encontro.
— Não quero que fique aborrecido, xerife. Deve convencer-se de que a segurança de Lenox não reside apenas no poder de um só homem. Para que cada um de nós pudesse sentir-se seguro, seria indispensável a presença de uma companhia de Polícia Rural.
— É uma opinião muito discutível essa. Suponho que não estará convencido de que vim para aqui à espera de que me aconteça o mesmo que sucedeu aos meus antecessores.
— Também espero que isso não venha a acontecer, mas como o senhor se tornou bastante simpático, tomo a liberdade de lhe dar um conselho: Não se intrometa nos assuntos do Banco.
— Se isso o tranquiliza, prometo fazer-lhe a vontade — disse Mike com um sorriso. — Entende que deverei intervir em qualquer ocasião em que, porventura, alguém venha exigir-lhe a entrega do dinheiro à mão armada, ou admite que bastará a sua diplomacia para o evitar?
Snydell mordeu os lábios, nervosamente.
— Gostaria de não estar dependente desses bandidos.
— Mas não se recusa a aceitar as suas exigências.
Estabeleceu-se um curto silêncio, interrompido um instante depois por Mike.
— Espera vir a fazer pagamentos de grande importância? — perguntou.
— Alguns. O engenheiro que dirige as obras do túnel de Haytonville deve estar a chegar para efetuar o pagamento do salário dos operários. Vários ganadeiros, necessitam de fundos para aquisição de gado. E além destes está também o senhor Dunn.
—Dunn? — murmurou Mike, recordando-se de que era este o nome usado ali pelo irmão do juiz Grant. —É alguma personagem importante de Lenox?
— Dunn é uma criatura um pouco estranha. Anda sempre por fora e despende somas muito importantes. Ainda há pouco solicitou uma transferência de dez mil dólares.
— Pode informar-me onde reside esse cavalheiro?
— Ignoro-o por completo. Vem a Lenox poucas vezes e anda sempre acompanhado de uma bela rapariga. Mandou avisar-me de que chegaria aqui amanhã por volta do meio-dia.
Mike não fez qualquer espécie de comentário e despediu-se do diretor do Banco. Era tão misterioso tudo o que acontecia naquela povoação que se sentia cada vez mais intrigado.
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