Naquele momento bateram à porta. Era Manuel acompanhado de um mexicano alto e robusto de nome Simon
— Simon deseja falar-te, Mike — disse o mancebo. — Estive no «saloon» de que é proprietário e ofereceu-me uma bebida. Não se atrevia a vir aqui, mas eu consegui convencê-lo.
O homem mostrava-se um tanto acanhado e receoso, mas a presença de Mike pareceu infundir-lhe confiança
— Fui informado do que se passou esta tarde contigo e com Luck. Foi o mesmo que assinares a tua sentença de morte.
— Procurarei conseguir que a sentença não chegue cumprir-se — explicou Mike, sorridente.
— Será bom que tragas os olhos bem abertos. Luck tem um pistoleiro a cada esquina.
— Obrigado pelo conselho.
— Não vim aqui apenas para isto. Ando às voltas com um problema e não vejo como poderei resolvê-lo. O meu estabelecimento é o único do género que existe em Lenox, além de mais duas tabernas de baixa categoria. Venho trabalhando desde os meus dezoito anos para conseguir transformá-lo naquilo que ele é presentemente.
Mike escutava-o em silêncio. Acendeu um cigarro observou o visitante.
— Aqui há dois meses apareceu por aqui um homem que me propôs a compra do estabelecimento. Pode imaginar-se coisa mais absurda? Vender o que tanto esforço me custou e, precisamente, quando começa a dar alguns lucros!!
— É claro que recusaste!
— Evidentemente. Disse ao homem que o não venderia por muito que ele mo pagasse. O outro olhou para mim, sorriu-se e despediu-se com a maior amabilidade. No dia seguinte recebia a visita de Luck.
— Que papel desempenha Luck, cá na povoação?
— Afirma que foi enviado para aqui para evitar que no cometam desacatos. Tem uns seis ou sete homens que o seguem por toda a parte e obrigam toda a gente a cumprir as suas ordens. Ninguém se atreveu até agora a resistir-lhe, porque todos sabem que os sequazes de Doug Blitte estão por detrás dessa quadrilha.
— Foi lá para tratar da compra do «saloon»?
— Não. Mas disse-me que, para evitar os meus prejuízos, tomava o estabelecimento sob a sua proteção.
— Começo a compreender.
O mexicano abriu os braços, desolado.
— Deverei entregar-lhe trezentos dólares por semana para que os seus homens protejam o estabelecimento. Diz que tem de pagar o soldo aos seus ajudantes e que de alguma parte há-de sair o dinheiro.
— E se te recusares a pagar essa miserável extorsão?
— Já lho dei a entender, mas ele, depois de se sorrir, afirmou-me que tinha a certeza de que o meu negócio se não aguentaria em pé mais de três ou quatro dias, segundo ouvira dizer a pessoa bem informada. A sua proteção era de todo o ponto indispensável.
Mike pôs-se em pé.
— Esta mesma noite irei ao teu estabelecimento Quero que toda a gente pacífica saiba de que vim p aqui a fim de estar a seu lado.
— Serás bem recebido na minha casa. Não fiques convencido de que toda a gente de Lenox treme de medo. E se virem que há um homem decidido a quem possam seguir, não duvides de que podes contar com muita gente para tudo aquilo de que necessites.
Mike despediu-se de Simon, após o que trocou algumas impressões com Manuel. Seguidamente sentaram-se a jantar na companhia de Chuck. Mal acabaram a refeição dirigiram-se para o «Colt Queen», designação de uma das tabernas da localidade
Haveria ali, não mais de uma escassa dúzia de clientes que os olharam sem se darem ao trabalho de disfarçar a curiosidade que a sua entrada lhes provocara. Sentaram-se a uma mesa um pouco afastada.
Havia numa das mesas um grupo de três indivíduos jogando aos dados que cessaram imediatamente a diversão, saindo, em seguida para o exterior.
— Aqueles já arranjaram ocupação para esta noite — disse Mike.
— Não me agradou o seu aspeto.
— Não é muito recomendável, com efeito. Mas eu vim aqui propositadamente para me familiarizar com estes antros. Não quero que eles suponham que me atemorizo facilmente.
Vinte minutos depois abandonaram o botequim. A rua estava completamente deserta, ouvindo-se apenas a voz destemperada de um borrachão que fazia uma serenata às estrelas. Mão ignota atirou-lhe um fragmento de tijolo, o que levou o alcoólico cantador a proferir uma praga afastar-se para longe.
O estabelecimento de Simon ficava situado na praça principal e ostentava o sugestivo nome de «Veracruz» lugar de onde era natural o seu proprietário. A iluminação correspondia perfeitamente à categoria da casa. Notava-se uma grande animação e jogava-se animadamente n roleta.
Uma mulher com o aspeto de mulata cantava unia alegre cançoneta sobre um pequeno estrado, onde um jovem meio raquítico martelava nas teclas de um velho plano.
A entrada de Mike no «Veracruz», contrariamente ao que sucedera na taberna, não pareceu despertar a atenção dom circunstantes. Todos procuravam divertir-se, sem se preocuparem com quem entrava.
— Aqui é que nós vamos tomar perfeito conhecimento das personagens preponderantes de Lenox — observou Mike, encaminhando-se para uma das mesas situadas no canto mais afastado da sala.
Não tardou muito que Simon descobrisse a sua presença. Tão depressa se aproximou dos visitantes, que era de supor que estivesse aguardando ansiosamente a sua chegada.
— Há cerca de dez minutos que recebi uma advertência — disse o homem, alarmado. — Foi um mensageiro enviado por Luck.
— Que veio dizer-te esse patife?
— Veio comunicar-me que por terem surgido diversas complicações, se via na necessidade de utilizar mais gente para proteger o estabelecimento.
—E claro que isso implicará maior despesa.
— Exatamente. Exige agora quinhentos dólares por semana. E a minha completa ruína.
— Qual foi a tua resposta?
— Que esta mesma noite decidiria. O homem respondeu que queria uma resposta imediata e que preparasse eu o dinheiro.
— Seremos dois a recebê-lo quando ele se apresentar. Basta que me faças um pequeno sinal. Passas um lenço pela testa e nada mais é preciso.
— Combinado.
Serviu umas bebidas e regressou ao balcão. Mal tinha acabado de ali chegar quando pareceu desencadear-se tremenda tempestade. Uma tremenda rajada de tiros irrompeu das negruras da noite através de uma das janelas, indo atingir a prateleira das garrafas e o espelho que se encontrava por detrás.
Grande número de frascos ficou totalmente estilhaçada, espalhando-se o conteúdo pelo sobrado. O espelho ficou literalmente crivado de balas. Uma gritaria infernal ecoou pelo salão, arrojando-se os frequentadores ao solo, derrubando mesas e cadeiras.
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