domingo, 5 de fevereiro de 2023

CLT017.12 Caçada fora de El Paso

Tony Trevor baixou a mão até ao coldre, mas 'lesse momento a voz de Ronald ameaçou:

— Um movimento mais com essa mão e aperto o gatilho, Trevor.

O jovem ficou quieto.

— Separa-te dela.

Lídia tentou detê-lo a seu lado, mas Tony desviou-se e recuou dois passos.

— Que vais fazer, Ronald? — perguntou Lídia.

O ajudante do «sheriff» de Pau Verde desatou a rir outra vez e fechou a porta nas suas costas com um forte empurrão.

— Trevor é um fugitivo da Lei... E nas presentes circunstâncias, posso meter-lhe uma bala no coração sem nenhuma responsabilidade.

— Não o farás! — exclamou a jovem.

— Não? Quem mo vai impedir? — Os olhos de Ronald brilharam de alegria. — Se eu me apresentar em Pau Verde com o seu cadáver, serei alvo de uma homenagem... E acontecerá algo mais do que isso. Nas próximas eleições, Ronald Donovan será o «sheriff» da cidade. Smilles já está velho. Disse-lhe que vinha até El Paso e não teve ânimo ide vir também... Tive de fazer viagem sozinho. Esta é a situação...

— Não podes matá-lo a sangue-frio.

— Oh, não! Claro que não, sobretudo estando diante de uma dama como tu. Mas isso tem fácil solução. Levá-lo-ei daqui e no caminho de regresso sempre haverá uma oportunidade.

— Se o matares, direi a verdade em Pau Verde I

— Quem te ia acreditar, tesouro?... O assassino de Lee Carey escapou do cárcere com a tua ajuda. Foste sua cúmplice. Não é verdade que é divertido?

Tony apertou os lábios com força.

— És um imundo réptil, Ronald— gritou.

— Somente um homem que se amolda às circunstâncias. Há muito tempo que espero uma oportunidade... Tu sabes, não é verdade, Lídia? Sempre esperando. Durante muitos anos que me conformei com um papel secundário, de suplente, de eterno aspirante... Ambicionei duas coisas em Pau Verde. A estrela de «sheriff» e a posse de uma mulher que me rouba o sono, de Lídia Howells... Mas os dois lugares estavam tomados. A estrela por Smilles, Lídia por Lee Carey... Eram os meus maiores desejos e nem lhes podia tocar com um dedo sequer. Pareciam que estavam muito longe de mim, mas agora os vou converter em realidade ao mesmo tempo. Terei a estrela de «sheriff» e a Lídia Howells!

Tony deu um passo para se lançar sobre Ronald. Mas este apontou-lhe o revólver e Tony manteve-se quieto.

— Não gostas da ideia, Trevor?

— Dá-me uma oportunidade para sacar e te responderei.

— Julgas-me louco? Não, Tony, não vou correr nenhum risco contigo... nem com ninguém... E a hora do meu triunfo.

Lídia olhou com os olhos chamejantes de fúria.

— Não me perguntaste se eu dava o meu consentimento para o plano que forjaste?

— Não preciso da tua opinião, rapariga. Nem sequer vou levar-te pela força para Pau Verde. Sei que voltarás. Ali está a tua mãe. Ela é uma inválida e não a podes abandonar.

— Ainda que assim seja, não me casarei contigo.

— Conheço umas quantas formas de conseguir que mudes de opinião. Seria muito lamentável que a uma inválida acontecesse algo.

— És um canalha, Ronald — exclamou Tony.

— Já desabafarás pelo caminho, Trevor. Volta-te de costas. És um tipo perigoso quando levas um revólver no cinturão e já te disse antes que não quero correr risco nenhum... Vamos, dá a volta com os braços bem no ar.

Tony voltou-se. Donovan acercou-se dele e rapidamente tirou-lhe as armas que meteu no seu cinturão.

— Adiante, Trevor!

Começaram a andar e quando estavam a chegar porta, Lídia exclamou:

— Espera um momento, Ronald!

Donovan desviou-se para um lado para poder ouvir Lídia sem perder de vista o seu prisioneiro.

— Dizias algo, querida?

— Consentirei em ser tua mulher com uma condição:

— Qual?

— Que deixes livre Tony.

Ronald Donovan desatou novamente a rir.

— Não, pequena. Não posso aceitar essa condição nem nenhuma, pois serás minha mulher de qualquer maneira, e sem ter de aceitar nenhuma condição tua. Sei que regressarás em seguida a Pau Verde... Lá nos veremos.

Ronald fez um sinal com o revólver a Tony para sair do quarto. Tony esperou um momento favorável para arrojar-se sobre o seu verdugo, mas Ronald estava de sobreaviso e não concedeu nenhuma oportunidade.

Meia hora mais tarde abandonaram El Paso a cavalo e empreenderam o caminho de regresso a Pau Verde. Apenas se tinham afastado duas milhas da cidade, Ronald obrigou Trevor a parar. Começavam a cair as primeiras sombras da noite. O lugar estava solitário. Era um terreno salpicado de cactos que pareciam gigantescas mãos elevando-se para o céu. Um pouco mais adiante Tony viu um aglomerado de rochas.

— Desce do cavalo, Trevor — ordenou Ronald.

Tony olhou-o com as sobrancelhas franzidas, mas no fim acabou por obedecer. Ronald também saltou da sela. Ambos se enfrentaram. O ajudante com o revólver na mão.

— Decidi que faças uma viagem mais descansado, Tony.

— Sim?

— Dar-te-ei um tiro e poderás dormir tranquilo. Não voltarás a sofrer.

— És muito generoso, Ronald.

— Alegro-me que gostes.

De repente, Tony disparou o punho contra a cara do seu inimigo. Ronald foi projetado para trás, mas sem largar o revólver; apertou o gatilho. A bala passou por cima da cabeça de Trevor. Este deu conta de que não podia lançar-se sobre Ronald, porque antes que lhe conseguisse tocar, seria morto por uma bala. Chegou a essa conclusão num décimo de segundo e então deitou a correr para as rochas que havia visto há poucos momentos. Ouviu atrás de si o riso sarcástico de Ronald.

— Porque corres, Trevor. Não te vai servir de nada!...

Fez outro disparo no momento em que Tony se lançava pelo ar procurando a proteção de uma rocha. O projétil assobiou sinistramente arrancando-lhe o tacão da bota direita. Encolheu-se no seu refúgio e mordeu o lábio inferior com força, pois pensou que, tal como estavam as coisas, tinha muito poucas possibilidades de escapar dali com vida.

A voz de Ronald fez-se ouvir mais clara.

— E a coisa mais divertida que me sucedeu na minha vida... Onde estás, Trevor?

O vento soprava do deserto levantando pequenas partículas das rochas.

Tony deitou -uma olhadela para trás e decidiu mudar de lugar. Pôs-se de gatas e começou a mover-se. Chegou-se o mais possível ao chão quando ouviu outro tiro. A bala embateu na rocha e mudou de direção. Umas quantas partículas da rocha embateram-lhe na cara e o sangue começou a correr-lhe pelo rosto.

— Tenho muitas balas, Trevor E palavra que te agradeço o teres subido para aí. Será a caçada mais emocionante da minha vida. Tony soltou uma maldição para si. Ele era a presa que Ronald tinha de caçar. A sua comparação não podia ser mais exata.

Ouviu os passos do caçador quando começou a subida. Rapidamente girou a cabeça de um lado para outro procurando um lugar mais favorável para esconderijo. Mais acima havia duas rochas separadas par um estreito desfiladeiro. Subitamente, pôs-se de pé e correu aos ziguezagues.

Contou que Ronald cometesse um erro, o de julgar que subiria pelo lado direito da rocha superior. Era uma questão de caras ou bicas. Uma bala atravessou-lhe a camisa por altura do ombro e sentiu a pele a arder.

Girou bruscamente até à esquerda, como se fosse empreender a subida, e colou-se ao desfiladeiro atirando-se ao solo e rebolando como se fosse uma bola. O corredor tinha um par de jardas de largura e quando chegou ao outro lado dobrou para a direita manteve-se quieto. Esperou uns minutos e sorriu ao ouvir Ronald.

— Maldito cachorro!... Sujo cobarde!... Não vais conseguir nada com os teus truques.

Mas Tony deu um suspiro. Agora a sua situação tinha melhorado ligeiramente. Comprovava-o ao observar as rochas que tinha à esquerda, quase a pino. Ronald não se atrevia a subir ali, pois que a Tony seria fácil destroçar-lhe a cabeça com uma daquelas pedras.

Ronald devia ter parado para pensar na forma de lhe deitar a mão. Tratou de imaginar onde poderia ele encontrar-se. Viu as coisas claras. Ronald o atacaria pela parte de cima. Então, sem nenhuma precaução ao agarrar-se às pedras, trepou até ao cimo.

Viu Ronald avançar pouco a pouco, de gatas. Estava duas jardas mais abaixo dele, mas o ajudante do «sheriff» não olhava para cima, mas sim para a frente para dar a volta pelo outro lado.

Tony deixou cair o seu corpo sobre Ronald, e agarrou-o pelos braços. Ronald soltou uma maldição e fez um movimento brusco para se libertar da sua presa. Então ambos perderam o equilíbrio e rolaram pela ladeira embatendo nas pedras.

Detiveram-se numa rocha plana quando Tony conseguiu agarrar a mão armada.

Ronald estendeu o braço livre e apertou o pescoço de Tony tentando estrangulá-lo.

Tony dedicava todo o seu esforço a desalojá-lo da arma, e sentiu como pouco a pouco aos seus pulmões chegava menos ar.

A sua cara começou a ficar roxa e abriu a boca tentando tragar o oxigénio.

Torceu a mão do seu rival desesperadamente porque supôs que o separava da morte três ou quatro segundos.

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