segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

ARZ116.10 Ameaças aos vaqueiros

Quando regressou a casa, já Manuel e Chuck tinham removido o corpo do homem morto no dia anterior. Ninguém o tinha visto antes, nem foi possível obter qualquer informação a seu respeito. Deram-lhe sepultura e não mais se falou no caso.

Não havia dúvida, porém, de que os restantes elementos da quadrilha dariam muito em breve sinais de vida, removendo céu e terra para averiguar o destino que lhe fora dado. Mike tinha a certeza quase absoluta de que a morte do homem fora meramente casual, pois a bala que o vitimou se destinava, iniludivelmente, a matá-lo a si próprio, logo que desse entrada no seu gabinete.

Resolveu fazer uma visita ao rancho de Davies. Suspeitava de que o caminho de Rattbone era um lugar suscetível de explicar muitíssimas coisas e que, precisamente por se encontrar situado à saída do mesmo, é que o rancho de Davies era cobiçado por diversas pessoas.

Encontrou o rancheiro e a sua filha instalados sob o alpendre. Davies caminhava com dificuldade em virtude do ferimento, mas encontrava-se muito animado e com boa disposição. As feições de Sally, pelo contrário, eram reveladoras de profunda preocupação.

— Não haverá ninguém que me convença a vender —insistiu o rancheiro. — Sei que por detrás de tudo isto, há qualquer coisa de muito reles. Por ali — disse ele, apontando para um certo ponto — é que transita todo o gado roubado para seguir para o México. É claro que a minha presença aqui é um estorvo para eles.

— Não ignora, certamente, os perigos a que se expõe — observou Mike.

— Não me metem medo de espécie alguma. De uma coisa podem eles estar certos. Enquanto for mais do que um a interessar-se pela aquisição do rancho, o perigo não pode ser demasiado. Estão sempre à espera da ocasião para se atirarem uns contra os outros. Este despique é que contribui, de certo modo, para que eu me sinta em relativa segurança.

—Poderá saber-se quem são essas personalidades?

— Um deles é o senhor Moore, encarregado por um tal Flicker de efetuar a compra, convencido como está de que o traçado do caminho de ferro venha a passar por aqui, o que lhe permitirá realizar um excelente negócio. Devo esclarecer, porém, que duvido muito da existência do tal senhor Flicker.

—E mais?

— O outro... não sei bem quem é. Limita-se a enviar--me mensagens à mistura com ameaças, como aconteceu, por exemplo, ontem à noite. Procuram assustar--me, para que eu desapareça daqui.

Mike não insistiu. Examinou a situação do rancho e saiu acompanhado por Sally.

— Manuel não veio consigo? — perguntou, meio hesitante.

Mike olhou para a rapariga.

— Acha que o devia ter feito?

— É um rapaz bastante simpático e sei que posso confiar inteiramente nele.

— Compreendo — ripostou, sorrindo. — Esse Manuel é o que pode chamar-se um homem de sorte. Chego no momento exato para impedir que o enforquem, e mal acaba de conhecer uma mulher que é uma beldade logo esta começa a interessar-se por ele.

— Eu não disse semelhante coisa — disse Sally, meio sufocada.

— Acho que não é pecado nenhum apaixonar-se uma rapariga por um rapaz valente e desempenado como ele.

— Parece-me muito delicado e muito simpático.

— E que tal? Ele corresponde a esse entusiasmo? Tens alguma coisa que te preocupe?

A jovem pestanejou e gaguejou, antes de responder:

— Bem; é que os homens que aqui trabalham parece que vão deixar-nos.

A novidade deixou Mike desconcertado.

— Foram eles próprios que te informaram disso?

— Sim. Eles não querem revelar-nos coisa alguma, mas eu tenho quase a certeza de que têm sido compelidos a deixar-nos, através de diversas ameaças. Ainda esta manhã dispararam sobre Peter quando regressava das pastagens. A bala passou-lhe rente ao chapéu, mas foi mais do que suficiente para o intimidar.

— Eu tratarei de os convencer a ficarem...

— Tenho a certeza de que nada conseguirá. Dir-lhe-ão que vão trabalhar para outro rancho onde lhe oferecem maiores vantagens. Só eu é que sei que são movidos pelo medo.

— Procuraremos outros homens.

— Para trabalharem aqui, não é fácil que os encontre. Todos eles dizem que isto aqui é um lugar maldito e, para dizer a verdade, eu acho que têm razão.

— Tentarei fazê-los compreender que não há qualquer motivo para tamanhos receios.

— O senhor sozinho? Convence-se que a presença de um xerife na localidade é motivo suficiente para que se sintam em segurança?

—Mandarei para aqui Manuel para que eles se sintam mais protegidos.

— Retirar-se-ão de qualquer maneira. Deram-me um prazo até sábado. Sinto-me quase tentada a aconselhar o papá a que se desfaça de tudo isto e a que vamos viver para qualquer outra parte.

— Isso seria ir ao encontro dos desejos desses malandrins. Ficariam aptos a fazer transitar por aqui o gado roubado e ninguém poderá vir a saber como ele se escoa pelo desfiladeiro. Se teu pai se mostrar disposto a vender, procurarei convencê-lo a protelar o assunto, ao menos por algumas semanas.

— Tem a certeza de ainda se encontrar vivo daqui até lá? — perguntou a rapariga em tom irónico.

— Farei as diligências possíveis.

— Desejo-lhe muitas felicidades — disse Sally, estendendo-lhe a mão. — Vou ver se consigo convencer o meu pai. O que duvido é que os serviçais consintam em ficar.

Durante o percurso para Lenox, Mike ia congeminando na maneira de dar a toda aquela gente um ambiente de segurança de que tão necessitados se encontravam. Tratava-se de aguardar a indispensável oportunidade. Estava convencido que a ocasião não deveria tardar muito. E os acontecimentos encarregaram-se de lhe dar razão.

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