terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

ARZ116.04 Conversa com a serpente

A primeira visita, efetuada por Mike naquela mesma tarde, foi a Phil Moore. Ardia em desejo de começar a Impor a sua autoridade.

Moore era um advogado de Dodge, recentemente chegado a Lenox. Dizia-se à boca cheia que fora forçado a fugir devido a encontrar-se envolvido em negócios pouco sérios. De positivo, porém, ninguém sabia dizer fosse o que fosse acerca da sua vida ou da sua pessoa.

O facto era que Moore se estabelecera em Lenox, onde montou um escritório de transações comerciais, intervindo na maioria dos negócios de toda a espécie que ali se realizavam. Moore dispunha do apoio de muitos habitantes da povoação e vinha empreendendo uma campanha, havia Jã alguns meses, a fim de conseguir a sua eleição de juiz da comarca, opondo-se assim ao atual titular, Samuel T. Grant. E um dos seus principais argumentos consistia em acusar publicamente o outro candidato da sua total Incapacidade para resolver o grave problema da ordem naquela parte do Estado, e muito especialmente em Lenox, que uma horda de malfeitores tinha escolhido para campo das suas criminosas façanhas.

Efetivamente, em Lenox, a lei brilhava pela sua ausência. Todos os esforços feitos pelo juiz Grant para resolver aquela caótica situação tinham resultado em outros tantos fracassos.

Mas ninguém podia, apesar dos rumores que corriam, acusar Moore de manter qualquer espécie de relações com Blitte ou com qualquer dos outros cabecilhas que abundavam por todas aquelas redondezas. E também não era menos certo que Moore nunca encontrara quaisquer embaraços à sua liberdade de movimentos, fosse em que circunstância fosse. Tinha-se a impressão de que os bandidos ou o temiam ou o respeitavam. E esse facto era por demais suspeito para que Mike não achasse conveniente encetar as suas pesquisas por esse lado.

Moore costumava estar ausente a maior, parte das vezes, mas naquela noite Mike teve a sorte de encontrá-lo. Acabava de regressar de uma longa viagem e preparava-se para saborear o jantar que a sua velha criada lhe tinha preparado.

— Mac Bride? — murmurou, surpreendido, enquanto apertava a mão do visitante. — Confesso que me sinto agradavelmente surpreendido. Como é possível que ninguém me tivesse dito nada?

— Isto deve-se a uma recente decisão do juiz Grant — explicou Mike.

— Aquela velha raposa de Grant — disse o advogado, sorrindo-se abertamente. — Não posso nem quero censurar o juiz Grant, pela maneira como têm pretendido impor a autoridade em toda a comarca, mas se a sua tática se limita a enviar novas vítimas para este matadouro, mal vai a coisa. Não suponha que pretendo assustá-lo, Mac Bride, mas acho que é do meu dever preveni-lo para que traga sempre os olhos bem abertos. Não ignora, certamente, o fim que tiveram os seus antecessores.

— Estou perfeitamente informado acerca de tudo — afirmou Mike com um sorriso.

— Pode considerar-me como um bom amigo.

— Os meus agradecimentos. É isso mesmo o que eu quero. E como o senhor é, com toda a certeza, uma das pessoas mais interessadas no êxito da minha missão, que outra coisa não é do que o bem-estar e a paz de todos os habitantes de Lenox, espero poder contar com o seu apoio em todas as decisões que, porventura, venha tomar.

— Pode contar antecipadamente com ele.

— Isso dá-me, desde já, uma grande confiança. E agora, se me permite, passemos a falar de certas pessoas relacionadas com as minhas funções. Mal tinha acabado de chegar, logo me vi na contingência de defrontar um indivíduo de aspeto pouco recomendável.

— Estou ao par do sucedido e dê-me licença que o felicite pelo êxito da sua primeira intervenção.

— Sabe dizer-me quem é essa personagem?

— Pela descrição que acabo de ouvir, deverá tratar-se de um tal Luck. Não sei grande coisa acerca dele, mas posso dizer-lhe que é dos tais que estão acostumados a fazer justiça pelas suas próprias mãos.

— E os rancheiros?

— Todos o temem. Tem as costas quentes, de forma que ninguém se atreve a discutir as suas decisões.

— Quer isso dizer, portanto, que arranjei um inimigo.

— Pode estar certo disso. Acautele-se com esse homem. Não quero negar que o senhor foi simplesmente formidável e que deu a esse tipo uma grande lição de valentia.

— Tratava-se simplesmente de salvar um infeliz.

— Informaram-me que era um ladrão de cavalos.

— Um homem que não roubou coisa alguma.

— Aconselho-o a não confiar demasiado no primeiro forasteiro que lhe apareça. É capaz, talvez, de matar próprio pai, jurando depois, por todos os santos, que criminoso foi um vizinho.

— Sempre me deixei levar pelo primeiro impulso. E a propósito: também tomei conhecimento com uma jovem chamada Sally. Parece que o seu pai possui um rancho em Rattbone.

— Bem sei; é um rendeiro de nome Davies. Conheço aquilo.

— Parece que o senhor se propôs comprar-lho.

—É exato. Um rancheiro, de apelido Flicker, estava interessado em adquirir uma propriedade nesta região. Propus o negócio a Davies e este recusou. É apenas isto.

— Mas, segundo consta, alguém se entretém a fazer a vida negra a Davies.

Moore fez um gesto de profundo espanto.

— Não faço a menor ideia a esse respeito.

— A noite passada incendiaram-lhe o celeiro e parece que também desapareceram diversas cabeças de gado.

— Existem por ali muitos indesejáveis. Davies encontra-se, na realidade, num péssimo local.

— Que outro, pelo visto, não se importa de ir habitar. O pretendente deve estar nas melhores relações com os que se dedicam a atemorizá-lo.

Moore acusou o toque. Ficou um tanto ou quanto desconcertado, mas acabou por sorrir-se.

— Flicker é um homem de vistas largas. Por ali deverá passar um dia o caminho de ferro para Santa Fé e, como é natural, os terrenos subirão imenso de valor.

Mike não fez qualquer comentário e estendeu a mão to advogado, num gesto de amável despedida.

— Folgo imenso em tê-lo conhecido, senhor Moore; o meu desejo era tomar contacto consigo a fim de poder montar com o seu apoio, quando dele venha a necessitar.

— Estarei absolutamente a seu lado, Mac Bride.

Moore acompanhou-o até à porta. Antes de sair, Mike fez o gesto significativo de quem se recorda de qualquer coisa.

— Tem ouvido falar de um tal Willy Grant?

— Willy Grant? — Moore franziu as sobrancelhas. —Se bem me recordo, o juiz Grant tem um irmão com esse nome. Exato. Informaram-me de que se encontra em Lenox e perguntei a mim mesmo que poderá fazer, nestas paragens, um homem desta espécie.

— É pessoa que não conheço.

— Nem sabe sequer se se encontra por aqui?

— Eu paro pouco em Lenox. Passo a maior parte do tempo em viagem por outras comarcas. Mas se tiver muito interesse procurarei informar-me.

— Não, não — replicou Mike, fazendo um gesto negativo com a mão. — Fiz a pergunta por mera curiosidade.

Abandonou a casa e regressou à repartição. Era já noite fechada e as ruas estavam pouco concorridas. Chuck tinha já regressado das compras e ocupava-se a preparar o jantar.

— Sinto-me no meu elemento — disse o homem ao ver entrar Mike. — E um excelente pretexto para me ver livre de minha mulher e de minha sogra.

— Resides cá na povoação?

— Moro aqui, mas raramente aqui paro. Trabalho em tudo o que me aparece enquanto não chega um novo xerife. O lamentável é que todos eles duram muito pouco

— Já viste alguma vez Doug Blitte?

— Nunca; mas não deve andar por muito longe.

— Disseram-me que ele tem uma irmã. –

— É certo. Chama-se Sara e é uma mulher excecional. Aparece por aqui com muita frequência.

— Sozinha?

— Não. Anda acompanhada de um homem chamado Dunn. É um homem reservado e um tanto estranho.

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