sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

ARZ116.07 No quartel-general dos bandidos

Mal acabou de jantar, Phil Moore montou a cavalo e abandonou a povoação. A chegada ali de um novo xerife representava para ele um sério contratempo e um motivo de grande preocupação.

A verdade era que o mesmo tinha acontecido por diversas outras vezes, acabando, no entanto, sempre, por se desfazerem todas as tentativas tendentes a fixar uma autoridade que conseguisse impor a lei e a ordem na comarca.

Alguma coisa, porém, havia nas atitudes do novo enviado de Grant que preocupava o advogado. E, naturalmente, acabou por convencer-se de que se impunha adotar medidas enérgicas antes de que o perigo lhe desabasse em cima com todas as suas consequências.

A cerca de uns quinze quilómetros existia um pequeno rancho cujo aspeto denunciava claramente o abandono em que se encontrava, o que, aliás, não se tornava demasiadamente notado, por se encontrar num local pouco frequentado que ninguém se dava ao trabalho de visitar.

Era voz corrente de que se reuniam ali salteadores de toda a espécie, como ladrões de gado, bandidos e foragidos que procuravam ocultar-se das vistas de toda a gente.

O seu proprietário era um tipo de aspeto indesejável, e cuja ocupação parecia ser a de domador de cavalos que depois vendia por alto preço. Eram, porém, muito poucos, aqueles que acreditavam que ganhava a vida honradamente.

Naquela noite parecia haver ali uma grande animação, vendo-se sete cavalos amarrados aos pilares do alpendre e todos eles devidamente arreados e aparelhados.

Moore apeou-se e prendeu o seu cavalo na extremidade do tapume. Os seus movimentos eram objeto da maior vigilância por parte de um homem que se encontrava encostado a um dos cunhais da porta.

— Enganou-se no caminho? — perguntou o homem ao advogado, sem arredar pé do sítio em que se achava.

— Vai dizer ao teu patrão que Phil acaba de chegar.

— Moore?

— O próprio. — Não é necessário avisá-lo.

Ele espera-te. Moore passou por diante da sentinela e empurrou a porta. Cinco homens encontravam-se sentados em volta de uma mesa, voltando todos •ao mesmo tempo a cara para a entrada.

— Que há de novo, Phil? — perguntou um homem relativamente novo, de olhar penetrante e de cabeça quase rapada.

Estava todo vestido de negro, trazendo ao pescoço um lenço vermelho amarrado na nuca. Tinha ambas as mãos sobre o tampo da mesa e entretinha-se a brincar com uma faca de gume afiado.

— Tens visto Luck? — perguntou Moore, depois de percorrer com os olhos todos os assistentes.

— Não vejo essa alma do diabo vai para três dias. Mas tive conhecimento da sua aventura.

— Acaba de chegar um novo xerife a Lenox.

— Também já estou informado acerca disso. É algum dos teus amigos?

— Nunca o tinha visto até ao dia de hoje. Foi para aqui enviado por Grant.

— É mais um que vem tentar a sorte.

Moore deixou-se cair numa cadeira, ao mesmo tempo que abanava a cabeça.

— Não tem aspeto de ser como os seus antecessores. E a prova é que conseguiu arrebatar a Luck a presa que ele julgava tão segura.

— Luck não passa de um perfeito imbecil. Ele aprenderá à própria custa a não ser tão confiado. –

— É muito possível que o caso não se repita. O xerife parece muito seguro do terreno que pisa e se consegue aguentar-se duas semanas, teremos de nos haver muito em breve com uma povoação de garras afiadas e dentes arreganhados.

Doug Blitte, que outro não era o cabecilha que presidia à reunião, sorriu-se com ceticismo.

— Quer parecer-me, amigo Phil, que estás a ver lobos onde apenas existem cordeiros. Tranquiliza-te! Esse audacioso não se aguentará mais de cinco ou seis dias.

— Bom será não esquecer que as eleições estão à porta.

— Sabes bem que podes contar com o nosso apoio. Onde não tenhas possibilidades de vencer, arma-se uma sarrafusca. Possuo bons argumentos para dissuadir os mais rebeldes.

— O júri poderá não se conformar.

— Conforma com toda a certeza — prosseguiu Blitte com a maior calma. — Eles sabem que se assim não for, muito terão de que se arrepender. Mas desde já te previno que exijo a nomeação de Long para Lenox, bem como a de Harry Guld para Graham.

— Serão nomeados logo que tenha poderes para o fazer.

— Só assim poderás aguentar-te no cargo. E bom será que não percas tempo a preocupar-te por causa desse pobre diabo nem com o que se passou com Luck. Ele aprenderá a não ser demasiadamente confiado.

— Talvez te convenças de que não é tão pobre diabo como tu pensas, quando te surgir pela frente. Tive ocasião de observar, quando me visitou, que não vem de mãos a abanar.

— Parece que a sua visita te deixou muito impressionado — observou Blitte com ironia. — Perguntou-me se eu sabia o que era feito de Willy Grant.

— Muito interessante. Isso é mais uma prova de que foi enviado para aqui por Sam.

— Talvez não fosse asneira mandá-lo daqui para fora.

— Mandá-lo embora, para quê? Enquanto ele por aqui se mantiver, poderemos utilizá-lo como uma poderosa arma contra o juiz. Sara se encarregará de o conseguir.

— E Arnold Davies?

— Esse acabará por ceder. Quando acabar por se convencer que a sua permanência no rancho lhe pode custar a vida, levantará voo e venderá tudo por qualquer preço.

— Não quero que pareça uma violência. Tenho um compromisso de compra.

— Não te preocupes com isso. Não haverá aparências de qualquer violência, amigo Phil — sorriu Blitte com bonomia. — Ainda não há muito que enviei para lá Salter com um grupo de homens. Como há muitos interessados em ter a passagem livre para escoamento do gado, ninguém se convencerá que sou eu apenas a pretender comprar o rancho de Davies.

Encheu um copo e apresentou-o ao advogado. Este olhou para a bebida que lhe era oferecida, mas não fez qualquer gesto para lhe pegar.

— Vamos, bebe — insistiu Blitte. — Vejo-te demasiadamente nervoso esta noite. Estás preocupado com a personagem que para cá mandaram? Não gastes tempo a pensar nisso. muito possível que a esta hora já não haja motivos para preocupações.

Moore encarou-o, alarmado.

— Onde queres tu chegar com isso? Que queres dizer?

— Nada de especial. Simplesmente que tenho por hábito tomar oportunamente as medidas que acho necessárias. Mandei-lhe hoje, por intermédio de Ronny, o meu cartão de visita a fim de lhe expressar os meus muito respeitosos cumprimentos. Ronny sabe fazer as coisas conscienciosamente.

Moore pôs-se em pé. Estava nervoso e não se dava ao trabalho de o dissimular.

— Acho que era conveniente esperar que eu me ausentasse da povoação... Estas coisas são sempre pouco agradáveis e podem vir a comprometer-me.

— Ninguém te acusará de semelhante coisa, podes estar tranquilo.

Moore resmungou qualquer coisa de ininteligível e saiu. O homem que se mantinha de guarda fez um gesto silencioso com a cabeça. Moore passou sem corresponder e encaminhou-se para o cavalo. Momentos depois iniciava a marcha de regresso à povoação.

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