Tony Trevor acabou de contar a Lídia Howells os últimos acontecimentos passados no «Hotel Bom Samaritano». A jovem deu um suspiro e comentou:
— É uma lástima. Jackson teria demonstrado a sua inocência.
— O mesmo posso conseguir com Murray.
— Mas a estas horas ele deve estar muito longe de El Paso.
— Não creio.
Lídia surpreendeu-se.
— Porquê? Que razões tem para pensar que Murray não foge daqui depois do ocorrido?
— Existe uma coisa importante: A morte de Jackson.
— Não o compreendo.
— Murray dirigiu-me a primeira bala, mas a segunda, estava destinada ao seu companheiro Jackson. Pensamos um pouco com a cabeça. Porque diabo o havia de matar? Esta classe de gente não concede importância ao facto de serem reclamados num sítio ou noutro por delitos que cometeram. Não deve ter morto Jackson para evitar que o nome aparecesse num novo cartaz, Murray deve ter uma boa coleção deles.
— Então porque o matou?
Tony coçava a cabeça enquanto passeava de um lado para o outro.
— Eles protegiam outra pessoa. A que lhes pagou para realizarem o seu trabalho.
— Mas nós sabemos que essa pessoa é Ronald Donovan.
Tony deteve-se observando a jovem.
— Lee Carey não tinha mais inimigos em Pau Verde?
— Eu não conheço ninguém mais.
— É estranho.
— Porque diz isso?
— Conheci Ronald no decorrer destes últimos dias e a sua forma de falar a respeito do assunto impressionou-me. Durante a nossa viagem para El Paso tive tempo de refletir. Quando Ronald se apresentou em sua casa bêbado, referiu-se a Lee Carey dizendo que tinha sentido desejos de matá-lo, que celebrava que estivesse morto e que ele mesmo o teria morto de boa vontade.
— Sim, é verdade.
— Não é a maneira vulgar de um assassino falar, mesmo quando está debaixo dos efeitos do álcool?
— Todos gostavam de Lee.
Trevor olhou fixamente a jovem.
— Isso já me disse antes.
Lídia corou. Houve um silêncio que Tony quebrou dizendo:
— Não faça caso. Os últimos acontecimentos transtornaram-me e dou rédea solta aos meus pensamentos. Logicamente, tal como conhecemos os factos, Ronald foi quem pagou a Murray e Jackson.
— Disse você antes que Murray não se irá embora desta cidade.
— Posso enganar-me, mas é uma esperança que tenho. De qualquer maneira, deixei Peter no «Bom Samaritano». Murray tem ali o cavalo.
A janela da sacada estava aberta. O sol com a desaparecer e o céu era uma combinação de vermelho, amarelo, verde e azul. Tony fez um movimento com a cabeça.
— Queria que estivesse informada. Agora tenho de me ir embora.
— Aonde vai?
— Falar de novo com a mulher que me deu morada de Murray e Jackson.
— É.… é bonita?
— Sim, muito.
Lídia voltou-se de costas para o jovem, olhando para o firmamento.
— Quando voltará?
— Não sei. Será melhor que não me espere levantada. Trate de dormir.
— Sim. Em seguida me deitarei.
Nesse momento na rua soou um tiro. Lídia soltou um grito sobressaltada. Tony correu para ela cobrindo-a com o seu corpo Na rua partiu uma maldição e um homem começou a falar em espanhol.
— Se te vejo outra vez a rondar a minha mulher mato-te, José!... E não me contentarei a atirar para o ar.
Nos lábios de Tony desenhou-se um sorriso e voltou a guardar a arma. Olhou para Lídia. Esta também tinha o rosto voltado para ele. Os seus lábios estavam separados por uma pequena distância. Aspiravam o mesmo ar. Tony continuava agarrando-a pela cintura. Sentiu que o seu coração batia com violência. Então apertou-a mais contra si e beijou-a nos lábios. Lídia não opôs resistência e correspondeu ao beijo. Quando os lábios se desuniram, ele disse:
— Não queria estar próximo de ti... porque sabia que este momento chegaria.
— Por favor, cale-se.
— Não posso calar-me agora. Ê necessário que saibas. Amo-te, Lídia.
— Por favor! — repetiu ela e tentou afastar-se dele.
Tony segurou-a por um braço. Encostou a sua boca ao seu ouvido e disse: — Não te enganes a ti própria. Queres manter-te fiel à recordação de Lee Carey..., mas ele já não existe... Não podes sacrificar-te por ele.
Ela desprendeu-se com um puxão e voltou-se. Nos seus olhos havia firmeza.
— Que classe de mulher sou eu que posso mudar Ião facilmente de sentimentos?
— Só há uma resposta para essa pergunta. Tu não gostavas verdadeiramente de Lee Carey.
— Como podes tu sabê-lo? — Tratou-o por tu pela primeira vez. — Dizes isso para justificares que a mim me parece injustificável.
— Não, Lídia. Sempre existem razões... motivos... e, portanto, também existem para explicar os teus sentimentos para com Lee Carey.
— Mas se tu nem sequer o conhecias!
— Mas faço uma ideia de como era pelo que me contaram. Tu, o «sheriff», Peter Morrow. Agora já faço uma ideia da tua situação nesse pequeno mundo de Pau Verde... Corrige-me se me engano — Tony fez uma pausa e prosseguiu. — Lee Carey era um homem temido em Pau Verde... Conheci muitos outros como ele num sem fim de sítios. Impôs o respeito pela sua habilidade com o revólver, mais nada tinha importância senão a sua força, os seus punhos. O «sheriff» ajudou-me a completar a história. Uma das noites que passou no cárcere, veio à minha cela e perguntei-lhe o que havia entre ti e Carey... Contou-me que Lee Carey pensou em fazer de ti sua mulher quando tinhas catorze ou quinze anos, e não houve nenhum jovem na comarca que se aproximasse de ti a partir daí... Nas festas, tu estavas sempre acompanhada de Lee Carey e quando ele faltava por qualquer razão, sentavas-te numa cadeira junto das mulheres casadas e não havia um único rapaz que te fosse buscar para dançar. Tu és bonita, Lídia. Muitos desejariam enlaçar-te pela cintura... Provavelmente todos, mas todos temiam Lee Carey e começaste a conformar-te com o teu destino. Tu eras como uma rês marcada. Tinhas gravada na tua pele a marca de Lee Carey. Provavelmente, alguma vez sentiste desejos de revoltar-te contra o futuro para o qual não tinhas dado o teu consentimento, mas a tua força de vontade foi desaparecendo pouco a pouco... E chegou o dia em que pensaste que gostavas verdadeiramente de Lee Carey, que estavas enamorada dele. Mas não era assim, Lídia. Tu só julgavas amá-lo e até é possível que o tenhas feito, inconscientemente, verdadeiros esforços para o conseguir...
Os olhos da jovem estavam brilhantes pelas lágrimas prestes a saltar.
— Cala-te, Tony.
Ele avançou para ela agarrando-a fortemente pelos braços, e mantendo-lhe o olhar fixo no seu, continuou:
— Tens de te convencer de uma vez... Lee Carey obrigou-te simplesmente a suportá-lo... Não eras livre quando lhe deste o teu consentimento para ser sua esposa. Tu estavas passando um calvário e por isso desejavas terminar de uma vez, ser sua mulher. O casamento era um descanso e por isso quando te inteiraste de que eu era o suposto assassino agiste daquela forma. Agarraste no rifle para matar-me... Havias chegado a convencer-te que o amavas, e ali em tua casa, estando eu contigo, sobreveio a explosão do teu cérebro. Os teus nervos estalaram... Realmente, a desaparição de Lee era para ti a liberdade, mas não o soubeste naquele momento e por isso agiste daquela forma histérica, querendo matar o homem que julgavas o assassino de Lee...
— Agora já passou tudo.
Ela mostrou o seu rosto banhado em lágrimas e disse:
— Não me deixes só, Tony.
— É necessário que eu vá— e sorriu. — Ou esqueceste porque viemos aqui?
— E se te matam?... Quase o conseguiram. Tentarão outra vez...
— Sou duro, querida... Não o conseguirão, facilmente... Sobretudo agora, quando tenho uma razão mais forte para viver.
— Tenho medo, Tony. É algo que não posso evitar.
— Vou agora, mas, quando voltar outra vez, já não sairei do pé de ti.
De repente soou uma gargalhada e uma voz disse atrás deles:
— Não haverá outra vez para ti, Tony Trevor.
Os jovens voltaram-se sobressaltados e viram no umbral Ronald Donovan, o qual de cabeça um pouco inclinada, mostrava os dentes e exibia na mão direita uma pistola.
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