O ganadeiro e o ajudante do xerife irromperam como um furacão dentro do recinto rochoso. Os seus rostos estavam descompostos.
— Loveland — exclamou Granwley com voz rouca —, sabe quem é um dos três indivíduos que estes homens mataram? Chill Talbott!
— Chill Talbott? — murmurou o xerife, perplexo.
Um silêncio súbito e pesado envolveu a atmosfera. Paul Keener devia sentir-se muito cansado pela cavalgada que acabava de fazer. Aproximou-se de uma das rochas mais pequenas e sentou-se nela colocando a muleta contra outra rocha situada atrás dele. Não a devia ter colocado devidamente porque escorregou entre as rochas, acabando por cair... entre os penhascos onde Cole Derry enterrara o cofre vazio.
Os dois jovens cruzaram um olhar cintilante, as faces descoradas por uma repentina lividez. O único que notou a mudança operada em Boyds e Derry foi Granwley em cujas pupilas fulgurou, instantaneamente, a luz do receio.
Antes de que Boyds e Derry pudessem correr para junto de Keener para lhe apanhar a muleta: já o inválido se havia inclinado e os seus dedos se fechavam sobre a madeira polida e redonda.
Uma exclamação surda, entrecortada, brotou de improviso da boca do coxo:
— Céus, este cofre...!
Todos os rostos se voltaram, expectantes e curiosos, para Keener. Este olhava, com as pupilas dilatadas pelo assombro, o cofre que sustinha nas mãos trémulas. Uma fina camada de pó cobria parcialmente a tampa trabalhada da caixinha. O xerife aproximou-se do jovem excitado.
— Que tem esse cofre, Paul? — inquiriu com as sobrancelhas arqueadas.
Keener pareceu não ter ouvido a pergunta. Com dedos trémulos e o olhar estrábico abriu a caixinha. Um gemido profundo, desgarrado, saiu da sua garganta:
— Vazio, está vazio, levaram todas as joias! — e rompeu num choro entrecortado.
O xerife sacudiu-o por um braço com energia para o fazer cair em si.
— Com mil diabos, Paul, queres explicar-te de uma vez?
O inválido pareceu não o ouvir. Havia atirado o cofre para o chão e, cobrindo a cara com as mãos, soluçava como uma criança. Por entre os soluços, compreenderam-se-lhe frases soltas, desconexas:
-- Pobre Cinthia... continuaremos tão pobres como ratos... as joias dos Keener...
Um silêncio espesso, pesado, havia caído sobre eles. ninguém compreendia o que sucedia. Ninguém ? Não! Houve alguém que fez trabalhar furiosamente o seu cérebro procurando uma explicação lógica para tudo aquilo: Max Granwley.
O ganadeiro estabeleceu a relação entre os últimos sucessos e a cena que estava a presenciar e viu tudo claro. Sacou velozmente de um revólver e dirigiu-o para Boyds e Derry. Gritou com voz rouca, ameaçadora:
— Finalmente descobri o vosso jogo. Levantem os braços, depressa!
— Mas, que significa isto ? — resmungou o xerife, desconcertado.
— Que foram estes dois tipos quem esvaziou o cofre. Agora compreendo porque é que Chill Talbott e esse me queriam comprar o rancho — e apontou para o sardento. — Sabiam que o cofre estava escondido nas minhas terras e queriam afastar-me daqui para se apoderarem tranquilamente das joias. Reviste-lhes os bolsos e verá que não me engano, mas antes desarme-os, Loveland, e evitará um desgosto sério. Já sabe que são duas centelhas a «sacar».
O xerife, influenciado pela voz do ganadeiro deu um passo na direção dos dois jovens. A voz duro, seca, do sardento, fê-lo deter-se:
— Não se incomode, xerife, tudo quanto esse homem disse é certo, as joias estão em nosso poder. Para nos apoderarmos delas acabámos de pôr a vida em jogo... e continuaremos a pô-la se Keener não responder satisfatoriamente às minhas perguntas. Calou-se durante alguns segundos. Voltando a cabeça para o inválido continuou num tom imperioso:
— Como pode provar que estas joias são suas ?
Keener levantou a cabeça. Havia serenado por completo e, nos seus olhos, brilhava, agora, uma luz acerada:
— Xerife — exclamou com gravidade —, verifique se, sob a tampa do cofre não estão gravadas as iniciais de minha mãe: D. K. Dorothy Keener. Para confirmar veja o lado esquerdo da caixinha. Encontrará alguns arranhões em forma de cruz. Fê-los minha irmã, quando pequena. Eu fiz também um arranhão no lado direito: um machado de guerra do tamanho de um dólar.
O xerife verificou tudo quanto o inválido dissera. Estendeu o cofre aos dois jovens. Disse:
— A coisa é clara, Derry. — Ainda não, xerife. Terá de descrever as joias e dizer-nos onde foi o cofre roubado.
— S6 me lembro de algumas — observou Keener. —Minha irmã é que as poderá descrever porque ela via-as com frequência visto que minha mãe lhas mostrava sempre que ia a alguma festa. Quanto à segunda pergunta, todos sabem que procedemos do sul de Kentucky onde possuímos uma fazenda na comarca de Oak Ridge. Um dia, os ianques arrasaram-na, mataram meus pais e a minha noiva e roubaram tudo quanto encontraram.
Descreveu, em seguida, várias joias. Boyds e Derry olharam-se em silêncio. Sim, tudo se confirmava naquela estranha história. Tudo menos uma coisa: como sabia Chill Talbott que eles procuravam aquele cofre?
— Paul — perguntou o sardento, de improviso. — Chill Talbott sabia do roubo das joias?
— Todos em Bay Sping o sabíamos — interrompeu o xerife, gravemente. — Paul quando se embriaga di-lo em altos gritos. Um dia, perguntei à irmã se era verdade tudo quanto Paul dizia e ela confirmou interrompeu-se bruscamente para beliscar o queixo.
— Lembro-me agora — acrescentou, excitado: — Uma vez ouvi dizer a Spencer Hacker quando estava meio ébrio que, pela boca de Paul, falava o Evangelho, uma vez que ele servira no esquadrão que arrasou a fazenda dos Keener. Quando, no dia seguinte lhe perguntei se era verdade o que havia dito na noite anterior, fingiu que não se lembrava de nada e atribuiu as suas afirmações ao uísque.
Boyds e Derry olharam-se, novamente. Sorridentes, desta vez. As palavras do xerife haviam apagado as suas dúvidas. Já tudo estava claro, definitivamente claro. Compreenderam que Spencer, ao ouvir o nome de Boyds, o associara a Fred, seu antigo companheiro, e calculara o motivo da sua estadia em Bay Sping. Interiormente, alegravam-se do fim surpreendente que havia tido a aventura. Consideravam justo, normal, que as joias voltassem aos seus verdadeiros donos.
Outra coisas seria se Granwley e os seus homens tentassem tirar-lhas pela força.
— Creio que também eu tenho alguma coisa a dizer neste assunto — interrompeu o capataz Wayland.
Havia recordado, subitamente, a sua conversa com Spencer Hacker, a sua afirmação de que depressa seria rico. Depois de referir quanto sabia afirmou,' indicando o sardento e Boyds:
— Não há dúvida de que reconheceu estes homens e decidiu apoderar-se das joias aliando-se a Chill Talbott.
Isto continha, como é evidente, uma acusação contra Derry e Boyds: a de terem sido eles os autores do roubo e assassínio dos pais de Paul Keener. O coxo, compreendendo-o assim, pôs-se em pé com os punhos crispados e o rosto lívido:
— Assassinos! — uivou, soluçando.
— Nisso está enganado, Paul! — exclamou Brian com gravidade. — Tanto Derry como eu somos alheios à vossa tragédia. Informámo-nos acidentalmente de que existia um tesouro oculto neste rancho e decidimos apoderar-nos dele. Ignorávamos a quem pertencia — dirigindo-se ao xerife acrescentou: — Podemos comprovar que nos encontrávamos a muitas milhas de distância da fazenda deste rapaz quando a arrasaram. As nossas unidades operavam em Virgínia.
O xerife voltou a beliscar o queixo, pensativo. Via-se torturado pela dúvida.
— Prenda-nos até comprovar o que lhe disse o meu amigo — interrompeu Derry a sorrir. — Outra coisa não podemos fazer para demonstrar a nossa inocência.
Granwley que vira esfumar-se o seu desejo de reclamar o tesouro escondido nas suas terras pôs a mão no ombro do inválido. Apreciava sinceramente Keener e sua irmã. Não esquecia que sua filha fora muito amiga de Cinthia antes de casar. Inclusivamente ainda se escreviam frequentemente.
— Paul, estou certo de que estes rapazes disseram a verdade. Esquece o passado de uma vez para sempre e procura refazer a tua vida agora que tens meios para isso. Estou disposto a vender-te o meu rancho por um preço razoável. Já não me interessa continuar aqui. Cinthia gosta muito destas terras e tu terias em que ocupar o teu tempo.
O coxo levantou a cabeça e olhou francamente para os dois jovens. Dos seus olhos havia desaparecido o ódio, o desejo de vingança. Neles tremulava agora uma luz muito diferente: alegre, confiada, agradecida. Seguindo um impulso interior, estendeu-lhes as mãos.
— Obrigado, Brian. Obrigado, Cole — murmurou com emoção mal contida. — E perdoem-me a minha acusação; estava como louco.
— Loveland — exclamou Granwley com voz rouca —, sabe quem é um dos três indivíduos que estes homens mataram? Chill Talbott!
— Chill Talbott? — murmurou o xerife, perplexo.
Um silêncio súbito e pesado envolveu a atmosfera. Paul Keener devia sentir-se muito cansado pela cavalgada que acabava de fazer. Aproximou-se de uma das rochas mais pequenas e sentou-se nela colocando a muleta contra outra rocha situada atrás dele. Não a devia ter colocado devidamente porque escorregou entre as rochas, acabando por cair... entre os penhascos onde Cole Derry enterrara o cofre vazio.
Os dois jovens cruzaram um olhar cintilante, as faces descoradas por uma repentina lividez. O único que notou a mudança operada em Boyds e Derry foi Granwley em cujas pupilas fulgurou, instantaneamente, a luz do receio.
Antes de que Boyds e Derry pudessem correr para junto de Keener para lhe apanhar a muleta: já o inválido se havia inclinado e os seus dedos se fechavam sobre a madeira polida e redonda.
Uma exclamação surda, entrecortada, brotou de improviso da boca do coxo:
— Céus, este cofre...!
Todos os rostos se voltaram, expectantes e curiosos, para Keener. Este olhava, com as pupilas dilatadas pelo assombro, o cofre que sustinha nas mãos trémulas. Uma fina camada de pó cobria parcialmente a tampa trabalhada da caixinha. O xerife aproximou-se do jovem excitado.
— Que tem esse cofre, Paul? — inquiriu com as sobrancelhas arqueadas.
Keener pareceu não ter ouvido a pergunta. Com dedos trémulos e o olhar estrábico abriu a caixinha. Um gemido profundo, desgarrado, saiu da sua garganta:
— Vazio, está vazio, levaram todas as joias! — e rompeu num choro entrecortado.
O xerife sacudiu-o por um braço com energia para o fazer cair em si.
— Com mil diabos, Paul, queres explicar-te de uma vez?
O inválido pareceu não o ouvir. Havia atirado o cofre para o chão e, cobrindo a cara com as mãos, soluçava como uma criança. Por entre os soluços, compreenderam-se-lhe frases soltas, desconexas:
-- Pobre Cinthia... continuaremos tão pobres como ratos... as joias dos Keener...
Um silêncio espesso, pesado, havia caído sobre eles. ninguém compreendia o que sucedia. Ninguém ? Não! Houve alguém que fez trabalhar furiosamente o seu cérebro procurando uma explicação lógica para tudo aquilo: Max Granwley.
O ganadeiro estabeleceu a relação entre os últimos sucessos e a cena que estava a presenciar e viu tudo claro. Sacou velozmente de um revólver e dirigiu-o para Boyds e Derry. Gritou com voz rouca, ameaçadora:
— Finalmente descobri o vosso jogo. Levantem os braços, depressa!
— Mas, que significa isto ? — resmungou o xerife, desconcertado.
— Que foram estes dois tipos quem esvaziou o cofre. Agora compreendo porque é que Chill Talbott e esse me queriam comprar o rancho — e apontou para o sardento. — Sabiam que o cofre estava escondido nas minhas terras e queriam afastar-me daqui para se apoderarem tranquilamente das joias. Reviste-lhes os bolsos e verá que não me engano, mas antes desarme-os, Loveland, e evitará um desgosto sério. Já sabe que são duas centelhas a «sacar».
O xerife, influenciado pela voz do ganadeiro deu um passo na direção dos dois jovens. A voz duro, seca, do sardento, fê-lo deter-se:
— Não se incomode, xerife, tudo quanto esse homem disse é certo, as joias estão em nosso poder. Para nos apoderarmos delas acabámos de pôr a vida em jogo... e continuaremos a pô-la se Keener não responder satisfatoriamente às minhas perguntas. Calou-se durante alguns segundos. Voltando a cabeça para o inválido continuou num tom imperioso:
— Como pode provar que estas joias são suas ?
Keener levantou a cabeça. Havia serenado por completo e, nos seus olhos, brilhava, agora, uma luz acerada:
— Xerife — exclamou com gravidade —, verifique se, sob a tampa do cofre não estão gravadas as iniciais de minha mãe: D. K. Dorothy Keener. Para confirmar veja o lado esquerdo da caixinha. Encontrará alguns arranhões em forma de cruz. Fê-los minha irmã, quando pequena. Eu fiz também um arranhão no lado direito: um machado de guerra do tamanho de um dólar.
O xerife verificou tudo quanto o inválido dissera. Estendeu o cofre aos dois jovens. Disse:
— A coisa é clara, Derry. — Ainda não, xerife. Terá de descrever as joias e dizer-nos onde foi o cofre roubado.
— S6 me lembro de algumas — observou Keener. —Minha irmã é que as poderá descrever porque ela via-as com frequência visto que minha mãe lhas mostrava sempre que ia a alguma festa. Quanto à segunda pergunta, todos sabem que procedemos do sul de Kentucky onde possuímos uma fazenda na comarca de Oak Ridge. Um dia, os ianques arrasaram-na, mataram meus pais e a minha noiva e roubaram tudo quanto encontraram.
Descreveu, em seguida, várias joias. Boyds e Derry olharam-se em silêncio. Sim, tudo se confirmava naquela estranha história. Tudo menos uma coisa: como sabia Chill Talbott que eles procuravam aquele cofre?
— Paul — perguntou o sardento, de improviso. — Chill Talbott sabia do roubo das joias?
— Todos em Bay Sping o sabíamos — interrompeu o xerife, gravemente. — Paul quando se embriaga di-lo em altos gritos. Um dia, perguntei à irmã se era verdade tudo quanto Paul dizia e ela confirmou interrompeu-se bruscamente para beliscar o queixo.
— Lembro-me agora — acrescentou, excitado: — Uma vez ouvi dizer a Spencer Hacker quando estava meio ébrio que, pela boca de Paul, falava o Evangelho, uma vez que ele servira no esquadrão que arrasou a fazenda dos Keener. Quando, no dia seguinte lhe perguntei se era verdade o que havia dito na noite anterior, fingiu que não se lembrava de nada e atribuiu as suas afirmações ao uísque.
Boyds e Derry olharam-se, novamente. Sorridentes, desta vez. As palavras do xerife haviam apagado as suas dúvidas. Já tudo estava claro, definitivamente claro. Compreenderam que Spencer, ao ouvir o nome de Boyds, o associara a Fred, seu antigo companheiro, e calculara o motivo da sua estadia em Bay Sping. Interiormente, alegravam-se do fim surpreendente que havia tido a aventura. Consideravam justo, normal, que as joias voltassem aos seus verdadeiros donos.
Outra coisas seria se Granwley e os seus homens tentassem tirar-lhas pela força.
— Creio que também eu tenho alguma coisa a dizer neste assunto — interrompeu o capataz Wayland.
Havia recordado, subitamente, a sua conversa com Spencer Hacker, a sua afirmação de que depressa seria rico. Depois de referir quanto sabia afirmou,' indicando o sardento e Boyds:
— Não há dúvida de que reconheceu estes homens e decidiu apoderar-se das joias aliando-se a Chill Talbott.
Isto continha, como é evidente, uma acusação contra Derry e Boyds: a de terem sido eles os autores do roubo e assassínio dos pais de Paul Keener. O coxo, compreendendo-o assim, pôs-se em pé com os punhos crispados e o rosto lívido:
— Assassinos! — uivou, soluçando.
— Nisso está enganado, Paul! — exclamou Brian com gravidade. — Tanto Derry como eu somos alheios à vossa tragédia. Informámo-nos acidentalmente de que existia um tesouro oculto neste rancho e decidimos apoderar-nos dele. Ignorávamos a quem pertencia — dirigindo-se ao xerife acrescentou: — Podemos comprovar que nos encontrávamos a muitas milhas de distância da fazenda deste rapaz quando a arrasaram. As nossas unidades operavam em Virgínia.
O xerife voltou a beliscar o queixo, pensativo. Via-se torturado pela dúvida.
— Prenda-nos até comprovar o que lhe disse o meu amigo — interrompeu Derry a sorrir. — Outra coisa não podemos fazer para demonstrar a nossa inocência.
Granwley que vira esfumar-se o seu desejo de reclamar o tesouro escondido nas suas terras pôs a mão no ombro do inválido. Apreciava sinceramente Keener e sua irmã. Não esquecia que sua filha fora muito amiga de Cinthia antes de casar. Inclusivamente ainda se escreviam frequentemente.
— Paul, estou certo de que estes rapazes disseram a verdade. Esquece o passado de uma vez para sempre e procura refazer a tua vida agora que tens meios para isso. Estou disposto a vender-te o meu rancho por um preço razoável. Já não me interessa continuar aqui. Cinthia gosta muito destas terras e tu terias em que ocupar o teu tempo.
O coxo levantou a cabeça e olhou francamente para os dois jovens. Dos seus olhos havia desaparecido o ódio, o desejo de vingança. Neles tremulava agora uma luz muito diferente: alegre, confiada, agradecida. Seguindo um impulso interior, estendeu-lhes as mãos.
— Obrigado, Brian. Obrigado, Cole — murmurou com emoção mal contida. — E perdoem-me a minha acusação; estava como louco.
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Estavam a selar os seus cavalos na quadra da pousada quando ouviram chiar os gonzos da porta. Voltaram a cabeça. A figura airosa de Cinthia Keener recortava-se em contraluz junto da entrada.
Os raios do sol tiravam reflexos áureos da sua cabeleira sedosa e ondulada, nimbando-a de uma beleza feiticeira.
Avançou para os dois homens com um sorriso nos lábios, mas Brian e Derry notaram que o busto da rapariga era agitado por convulsões que punham a blusa tensa.
— Porque se vão embora de Bay Sping? — a sua voz soava arrastada, musical.
— Já nada temos a fazer aqui, pelo menos eu — exclamou o sardento com um sorriso malicioso. — Estou desejoso de voltar para junto de minha esposa e da minha pequenita Joan.
— A si... a si também o espera alguém ? — inquiriu a jovem olhando para Brian.
O sardento voltou a sorrir ao notar que a voz da rapariga se havia quebrado ao fazer a pergunta.
— A este não o espera ninguém — disse, rindo. — Estou certo de que, se alguém lhe oferecesse trabalho aqui, ficaria. Confessou-me há alguns dias que gostaria de deitar raízes em Bay Sping.
Cinthia corou. Durante um segundo apenas. Pondo-se ao lado do sardento devolveu-lhe a piscadela de olho, sorrindo. Depois voltou-se para Boyds que permanecia silencioso, um tanto contraído:
— Meu irmão acaba de comprar o rancho ao senhor Granwley. Se é verdade o que Cole diz, ofereço-lhe o cargo de capataz da nossa fazenda.
Brian Boyds, ao notar o olhar intenso que a jovem lhe dirigia, engoliu saliva. Derry soltou uma gargalhada.
— Desta vez emperrou-se-te o gatilho, rapaz — disse rindo com mais força. Dando-lhe uma forte palmada nas costas acrescentou: — Por fim tenho alguma coisa superior a ti: o disparar das palavras.
Ao notar que os dois jovens não pareciam ouvi-lo uma vez que continuavam absortos contemplando-se, uma luz maliciosa brilhou nos seus olhos. Empurrou Boyds para a rapariga:
— Acabarás por lhe dizer de uma vez que estás ardendo por aceitar esse lugar, para estares a seu lado o mais tempo possível? Anda, diz-lho de uma vez. E diz--lhe também tudo quanto me disseste sobre os seus encantos. Estou certo de que ela te compreenderá melhor que eu.
Brian Boyds olhou-o aturdido. Quando lhe teria dito aquilo ? Contudo, o que lhe acabava de dizer era a verdade. Amava Cinthia desesperadamente mas não se atrevia a confessar-lhe o seu amor. E muito menos agora. Podia pensar que se declarava por causa do seu dinheiro...
O sardento desprendeu o seu cavalo e tirou-o da quadra sorrindo enigmaticamente. Ao sair fechou a porta com o calcanhar. Montou e pôs-se a enrolar um cigarro calmamente. Estava a passar a língua pelo papel gomado, quando a porta se abriu com violência. Na ombreira ficou recortada a figura de Brian Boyds, todo alvoroçado.
— Então, aceitaste ? — inquiriu Derry, ironicamente.
— Fez mais que isso, Cole — gritou alegremente Cinthia, mostrando a sua cara risonha por detrás do jovem. — Beijou-me como um louco e depois pediu-me que casássemos. E eu aceitei, está claro. Concordámos em que sejas tu o capataz do rancho e o padrinho do casamento.
— «Okay», isso já é outra maneira de falar — riu alegremente Cole Derry, desmontando de um salto.
F I M
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