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Franck McGinnis estava deitado no chão poeirento daquela praça larga da povoação, de barriga para baixo, com as mãos atadas atrás das costas. As botas pertenciam a Graham Hook, um tipo alto e forte, de músculos vigorosos, que era o proprietário da maior extensão de terra nos limites do povoado e, por via disso, o dono de Hayman City, sem sombra de dúvida. Mas Franck sabia mais: Hook era também o dono de Lily Carmena, a rapariga mais bonita que ele jamais vira em Hayman City, e era por causa disso que estava a ser sovado, publicamente.
McGinnis fechou os olhos ao ver Graham levantar a bota pela décima vez. A pancada desferida na base da cabeça doeu-lhe, profundamente.
— Toma, maldito negro. Ou desapareces para sempre desta terra, ou dou cabo da tua miserável pele. Não queremos miseráveis da tua laia a conviver connosco!
Estas palavras doeram a Franck, muito mais do que a pancada. Era sempre assim! O branco arranjava todo e qualquer pretexto para troçar da sua cor.
Pensou o que diria aquele homem se estivessem frente a frente e com uma arma cada um. Certamente, reduziria a sua petulância. Jurava vingar-se. Mas, a falar verdade, não via meio de se safar daquela enrascada.
Hook desferiu um pontapé que o atingiu a meio do peito e o atirou três metros para a esquerda. McGinnis encolheu-se com a dor. O rancheiro riu. Correu para ele e calcou-lhe a cabeça com as botas. McGinnis viu tudo da cor de fogo e desmaiou.
— Alto, Hook! O que é que você está a fazer ao homem?
Graham Hook voltou-se e encarou o xerife. Fez um trejeito de desagrado. Jack Flanagan, xerife de Hayman City, era o único rebelde às suas ordens. E aparecia logo no momento em que ele ia dar cabo do maldito preto!
— Chama a isto homem? — retrucou o rancheiro rindo. — Em Hayman City não queremos destes homens, não é verdade, rapazes?
Um murmúrio de assentimento, por parte dos presentes à cena, sublinhou a pergunta. Mas Flanagan sabia que, uma boa parte dos curiosos eram capangas de Hook. Ficou parado a alguns metros de distância do rancheiro, com as pernas abertas, em atitude hostil.
— Tens alguma coisa a dizer que prove que esse preto não é um homem, Graham?
Hook tartamudeou qualquer coisa que não chegou a ser audível. Entretanto, pensava: «este Flanagan dos diabos não consegue ainda discernir quem manda em Hayman! Subiu-lhe a estrela à cabeça e, qualquer dia, é capaz de ir para a cova com ela!». Jack voltou a falar:
— Este homem quando chegou a este povoado veio falar comigo. As suas intenções são pacíficas. Procura trabalho. Mas tu, Hook, precipitaste tudo. Ateaste o ódio no coração desse forasteiro e aviso-te, apesar de negro, é um grande pistoleiro. Se pensar vingar-se é capaz de te matar!
Graham Hook era de estatura mediana, forte, envergava uma camisa berrante e umas calças pretas, que metia por dentro das botas de montar. A cinta trazia um cinturão, de onde pendiam dois coldres e outras tantas armas. Ao ouvir o xerife esbugalhou os olhos de espanto e sentiu--se como o homem que, encontrando-se num ponto elevado, perde o equilíbrio.
Hook era, por natureza, um tipo medroso. Por isso, andava sempre rodeado pelos seus correligionários. O seu primeiro pensamento foi matar o pistoleiro negro. Talvez, adivinhando-lhe os intentos, o xerife Jack avisou-o:
— Eu aqui represento a ordem, Graham! Não tentes fazer qualquer asneira!
— Não disse que este homem ia matar-me?
— Não! Disse que, se ele quiser vingar-se, é capaz de o fazer.
— Então?!
— Só o poderei prender depois de ele o ter feito. Por outro lado, poderei prender-te a ti pelo que acabas de fazer — e Flanagan apontou para o corpo inanimado do preto.
— Fui dar com ele com Lily — defendeu-se o rancheiro.
— É um mal de quereres monopolizar tudo, Hook. Mas podes intentar uma ação judicial contra ele.
— Não gosto da maneira como você faz justiça, Jack. Acho que era bom arranjarmos outro xerife que defendesse os interesses das pessoas que vivem no povoado e não o dos estranhos.
— A ideia não é má, Hook, porque não a pões em prática? — Flanagan sabia que Hook ia tentar matá-lo para mandar, completamente, em Hayman City e Hook, por sua vez, sabia que o xerife ia precaver-se contra isso, tornando-se desde aquela altura o seu pior inimigo.
***
Franck McGinnis abriu os olhos e viu-se deitado no interior de uma cela protegida por grossos varões de ferro e admirou-se de ver a porta aberta. Através dela via, no aposento contíguo, uma secretária de madeira, em cima da qual repousava um cinturão de couro e uma arma que ele não teve dificuldade em reconhecer serem seus, uma cadeira giratória e uma carabina Springfield pendurada na parede. Refletiu que se devia encontrar na Delegacia da autoridade naquele povoado.
Doía-lhe o corpo todo dos maus tratos infligidos. Alguém lhe pensara os seus ferimentos. Ficou deitado, sem se mexer, a relembrar o que se havia passado. A seguir recordou a sua chegada a Hayman City até ao momento de ser espancado por Graham Hook...
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