sexta-feira, 27 de maio de 2022

FBV159.15 Mais uma vez, a Lei de Lynch

Dick Steiner, com o ombro vedado por um dos homens da mina — a ferida era apenas um sulco profundo, no músculo, que não atingira qualquer osso —entrou em Misoula levando os corpos de Lee e do irmão de Rush. 

Dirigiu-se diretamente ao "Strafford Saloon" desmontou devagar e entrou. Uma das primeiras pessoas que viu foi John Merrill. Este olhava-o, lívido. 

— Olá, Merril! Surpreendido, não? Nada receie... não é o meu fantasma. Apenas tenho urna ferida num ombro... Lee falhou o tiro…

— Não sei de que fala... 

— Sabe, sim... Lee explicou-me tudo claramente, enquanto me apontava a arma, convencido de que no fim me mataria... Disse-me da associação feita entre vocês... Ele queria a mina só para si... você queria Elizabeth Marlowe e algum oiro, também... 

— Quer comprometer-me... 

— Para quê? Já está comprometido até aos cabelos, homem. Acontece que Lee perdeu a partida...O corpo dele está ali fora, em cima de um cavalo. Mas há mais alguma coisa, advogado. Você nunca conseguiria Elizabeth... porque Lee a queria para ele e estava disposto a matá-lo. Compreende? 

— Mente! — gritou o advogado, verde de raiva. — Elizabeth seria para mim....estava combinado... 

— Depois de você assassinar o juiz Marlowe? 

— Tive de o matar porque... 

O advogado calou-se bruscamente, apavorado, compreendendo que se havia condenado a si próprio. Falara de mais... 

Olhou para os homens que o rodeavam e só viu expressões ameaçadoras, sombrias... Começou a gemer, a suplicar. Dick sentiu uma repugnância indizível. Falou em voz alta, sem olhar para Merrill: 

— Levem-no, rapazes! Apliquem-lhe a lei de Lynch... e amanhã festejaremos isso com uísque e alguns punhados de oiro... 

Não podia ter dito nada mais convincente. Como lobos esfomeados, sem piedade sobretudo, porque se tratava de um miserável que não merecia qualquer espécie de compaixão, os homens lançaram-se sobre ele e arrastaram-no para fora do “saloon". 

De nada serviram os gritos, as pragas, as súplicas ou as maldições. 

Da porta do "saloon", Dick viu como o levavam aos empurrões, batendo-lhe, insultando-o, cuspindo-lhe em cima. E minutos depois viu-o pendurado de uma árvore, ao fundo da rua, morto. Strafford, ao lado dele, murmurou: 

— Um chacal, esse advogado... 

— Sim, mas teve a sorte que merecia. Pela primeira vez compreendo a “lei de Lynch", Strafford. Quando se trata de indivíduos como este... Talvez porque há mais criminosos do que juízes, e de algum modo há que impor a justiça. Também já não culpo tanto meu irmão por ter espalhado os enforcados por esses caminhos. É preciso não ter piedade com certa gente... e talvez ele tivesse razão à sua maneira. É necessário ter entranhas de aço, em algumas situações... 

— Eu conheci teu irmão, rapaz. Não era um duro... ao princípio..., mas obrigaram-no a isso... 

Lon Toomey apareceu. Parecia preocupado, mais sombrio do que habitualmente. 

— É verdade o que se diz aí, Steiner? 

— Sim, xerife. Amanhã lhe explicarei tudo, com todos os pormenores, se não se importa... Trouxe comigo os corpos de Lee Stevens e desse homem que não encontramos da outra vez... 

— Você está ferido... — Não se preocupe com isso. Vou agora fazer uma visita... 

— Ao dr. Speelling? 

— Não, a outra pessoa...E creio que lhe deva desculpas, Toomey, porque a certa altura cheguei a desconfiar de você... 

— De mim? 

— Sim..., mas foi sobretudo por causa da feia cara do seu ajudante... 

Strafford riu-se. Dick fez um aceno amistoso, com o braço válido e afastou-se lentamente em direção à casa de Elizabeth Marlowe. Agora sim... poderia falar com ela... de muitos assuntos... De tudo o que se havia passado... de alguma coisa que provavelmente viria a passar-se... 

Porque os acontecimentos pareciam tê-los empurrado um para o outro...e essa era, com certeza, a direção mais certa... 



FIM


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