quarta-feira, 25 de maio de 2022

FBV159.13 Tudo ficou claro na manhã dos três funerais


Naquela manhã houve três enterros, o primeiro dos quais foi o do juiz Marlowe. Muita gente havia acompanhado o velho juiz, e no regresso encontraram-se com o cortejo que seguia atrás do caixão de Gilbert. O acompanhamento deste era menor, mas havia ainda uma dúzia de homens, entre os quais alguns dos trabalhadores da mina. 

Strafford caminhava em companhia de Lee Stevens e de Dick. Este último avistou Elizabeth e foi falar-lhe. 

— Não lhe disse ontem quanto sinto a morte à e seu pai, Elizabeth. Sei que era um grande homem, estimado por todos. Permitir-me-á que a visite, logo? Gostaria de falar consigo. 

— Sim, Dick. Agradeço-lhe que vá...será sempre bem recebido. Rezarei pela alma de Gilbert, Dick.

Separaram-se. 

John Merrill, que vinha um pouco atrás de Elizabeth, olhou com ódio para Dick. O jovem Steiner fitou-o friamente. Por momentos pensou que o ódio de Merrill talvez fosse também causado pelo receio de que Elizabeth se interessasse por ele, e intimamente a ideia agradou-lhe. Por seu lado, Elizabeth interessava-o, profundamente. 

O terceiro enterro foi o de Weis, a quem só o xerife acompanhava. Weis era mau e odiado por toda a gente. 

— Pensas ir à mina? — perguntou Stevens a Dick, quando voltaram à povoação. — Temos coisas a ver...

— Irei depois, Lee. Agora vou visitar Elizabeth. 

— Agrada-te? 

— Creio que sim... é estranho... 

— Não vejo que seja estranho, Dick. Talvez tu possas fazê-la feliz... o que Gilbert nunca conseguiria. 

— Talvez... 

Despediram-se. 


***


Dick ia a caminho de casa de Elizabeth, quando uma ideia surgiu no seu espírito. Tinha notado, quase inconscientemente uma coisa que... 

Montou a cavalo e saiu da povoação, a galope. Parou a meio do caminho da mina, junto de uma árvore de onde pendia um enforcado...e teve a certeza de que a sua ideia era certa. Aquele homem, que ele vira ao passar, não era Rush. Era outro, apenas vagamente parecido...e não tinha morrido por enforcamento... Uma bala atravessara-lhe o peito... Tudo começou a tomar forma no espírito de Dick a partir desse momento. Aquele era, sem dúvida, o homem a quem Gilbert se referira, o irmão de Rush, e o seu corpo havia sido retirado do caminho e posto ali, em lugar do outro. Decerto haviam enterrado Rush... ou talvez o próprio irmão tivesse feito isso antes de morrer... 

Voltou a montar a cavalo e galopou para a mina. Entrou na casa, chamou Lee, mas não obteve resposta. Lee Stevens ainda não voltara...ou saíra novamente. 

Dick tirou do bolso a chave que o irmão lhe tinha dado e abriu a gaveta das balas de oiro..., mas a gaveta estava vazia…

Excitado, abriu outras gavetas... procurou... e encontrou um estranho documento. Era um acordo legalizado, feito perante um notário... segundo o qual os dois sócios da mina se comprometiam a não ceder a terceiros a sua parte... nem mesmo por herança...  Se qualquer deles morresse, o outro ficaria único proprietário de tudo. Era um documento perfeitamente legal e inatacável, com uma única exceção... Porque Lee Stevens teria agora de responder por várias mortes...a de Marlowe... a de Gilbert... e a do desgraçado Byrnes, o homem das serpentes... 

— Já compreendeste tudo, Dick? 


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