Dick Steiner chegou a Misoula e dirigiu-se para o "Strafford Saloon", a fim de comprar provisões para a jornada.
— Já se vai embora, Dick? -... perguntou Strafford. — Vamos sentir a sua falta. Estávamos habituados a vê-lo por aqui...
Dick não respondeu. Não queria dar explicações, a quem quer que fosse, sobre os motivos da sua partida...
***
Gilbert atravessou a rua principal de Misoula, viu o cavalo do irmão e por momentos hesitou. Mas o seu orgulho impediu-o de ceder ao impulso fraternal. Continuou o seu caminho.
Chegou à porta da casa do juiz Marlowe, e desmontou. Sentiu que o coração batia com desusada força, ao pensar na possibilidade de se encontrar com Elizabeth... e talvez de lhe falar.
Não pôde ver alguém que o espreitava atrás de uma das janelas e se retirou apressadamente depois deter a certeza de que era ele. Um vulto percorreu a casa, desde o escritório do juiz até às portadas traseiras, e segundos depois desapareceu numa ruela.
Gilbert bateu à porta e esperou. Decorreram dois ou três minutos sem que alguém respondesse. Voltou a bater, mas o silêncio continuou. Viu então que a porta estava entreaberta e empurrou-a brandamente, espreitando para dentro. Chamou:
— Juiz Marlowe!
Silêncio…
Adiantou-se mais, viu a porta do gabinete do juiz. Intrigado, aproximou-se. A porta estava também entreaberta... e pareceu-lhe ver uns pés, de alguém que estivesse caído. Deu um passo, empurrando o batente...
O corpo do juiz Marlowe estava estendido no chão. Gilbert ajoelhou junto dele, precipitadamente e, tentou erguê-lo. Mas o juiz estava morto, e, quando Gilbert se ergueu, aterrado, viu que tinha as mãos sujas de sangue...
Um pânico súbito se apoderou de Gilbert. Teve o pressentimento de uma armadilha... e nesse momento ouviu um grito estridente.
Elizabeth Marlowe tinha acabado de provar um vestido. A modista comentou, sorridente:
— Se todas as clientes tivessem um corpo como o seu, todas as modistas do mundo seriam artistas... Assim dá gosto trabalhar...
Elizabeth sorriu também, satisfeita. Por muito grande que fosse a sua simplicidade, o comentário. não podia deixar de agradar-lhe.
— Está a ser lisonjeira, sra. Carol... Quando me dá o vestido pronto?
— Mando-lho amanhã à tarde. Está bem?
— Com certeza...
Minutos depois a jovem despedia-se da modista, e saía. Queria chegar cedo a casa para poder dar um passeio com o pai, como tinham combinado. Surpreendeu-se ao ver a porta aberta. E entrou para o gabinete do pai... e gritou com todas as sua forçar.
O juiz Marlowe estava caído no chão, inerte, e junto dele encontrava-se Gilbert Steiner, com as mãos sujas de sangue...
Elizabeth, apavorada, continuou a gritar. Gilbert olhava-a, querendo explicar-se, mas sem conseguir falar...
De repente, Elizabeth deixou de gritar e olhou para ele, com uma expressão de indizível ódio.
— Assassino! Assassino!
— Não, Elizabeth... Não o matei... Vinha trazer--lhe um documento... a porta estava aberta...
— Assassinaste-o!
— Juro-te que não...
— Não tardaremos a averiguar isso... - disse uma voz rude, à porta.
O xerife Toomey acabava de entrar, seguido por Weis. Ouviam-se mais vozes, dentro e fora da casa. Os gritos de Elizabeth tinham sido escutados, e começava a juntar-se gente... Falava-se em Gilbert e no juiz assassinado! ...
-- Não o matei! ... -bradou Gilbert, desesperado — Quando cheguei, vi a porta aberta... e ninguém me respondeu... Esta porta também estava aberta... Entrei... vi o juiz caído no chão e pensei que tivesse tido um ataque... Quis levantá-lo, e foi então que eu sujei as mãos de sangue... Elizabeth chegou nesse momento...
— Onde estava, menina Marlowe?
— Vim da loja da sra. Carol... e ao chegar vi isto... este homem...
Apareceu mais gente, entre essa gente vinha o dr. Speelling, o advogado Merrill... e Dick Steiner...
Elizabeth foi levada dali, por algumas amigas. O olhar de Dick encontrou o do advogado... e leu nele uma expressão estranha, de triunfo e ódio. Mas talvez fosse apenas impressão sua... porque lhe parecera ver a mesma expressão no olhar do xerife e até no de Weis.
Gilbert parecia um animal encurralado, desnorteado. O xerife aproximou-se dele e desarmou-o, bruscamente.
— Não o percas de vista... — recomendou a Weis, que empunhara o seu "Colt".
Toomey abriu o revólver de Gilbert e cheirou-o. Murmurou:
— Esta arma foi disparada recentemente...
— Sim... — retorquiu Gilbert, que parecia agora mais calmo. — Fui atacado por um homem, no caminho, e disparei sobre ele. Ainda lá deve estar, na Cruz do Corvo. Era um irmão de um tal Rush a quem enforquei.
— Um bom acaso, hem?... — grunhiu o xerife.
— É a verdade!
— Verificaremos isso, e outras coisas. Vejo que não substituiu a bala, no carregador...
— Não tinha pressa... Foi a primeira vez que disparei uma bala dessas... contra um homem...
— Há urna maneira de esclarecer isto prontamente... — interveio o advogado. — Se a bala que matou o juiz se encontra ainda no corpo dele... pode ser extraída...Talvez não seja uma bala de oiro... mas talvez seja...
Gilbert quase sorriu, aliviado. Sim, com efeito... a sua inocência não tardaria a ser demonstrada.
O dr. Speelling foi buscar a sua maleta e, tendo mandado estender o corpo do juiz em cima da secretaria, curvou-se sobre ele, empunhando o bisturi. Toomey, o xerife, fez sair toda a gente que se encontrava no gabinete.
Dick não pronunciou uma só palavra. Ao contrário de Gilbert, tinha a nítida certeza de que a bala só serviria para confirmar as suspeitas. Alguém preparara a armadilha... e o pormenor não podia ter sido esquecido. Tinha razão. Minutos depois o médico reaparecia trazendo entre os dedos uma bala de oiro!
— Então, Gilbert Steiner? Que diz agora? É uma das suas balas?
— Sim..., mas não a disparei... -respondeu Gilbert, lívido.
— Vamos verificar agora o que disse a respeito desse homem que o atacou na estrada... -declarou o xerife. — Se não houver outra bala como essa no corpo dele, o assunto está resolvido... à força...
— Suponho que não aplicará também a lei de Lynch... — disse Dick em voz alta.
Foi John Merrill quem respondeu:
— E porque não? O seu irmão tem-na posto em prática... Mas descanse, ninguém pensa em fazer o mesmo que ele faz. No entanto, se verificarmos que não existe sequer o tal homem que ele diz ter abatido... o resultado é o mesmo e o julgamento não alterará as coisas...E a forca para Gilbert Steiner.
Dick voltou-se para o irmão, e por momento os olharam-se fixamente. Mas não havia animosidade nesse olhar... Eram novamente dois irmãos.
— Confia em mim, Gilbert. Sei que não foste tu...
— Sim... mas quem foi deve ter tudo bem preparado... Podem tentar matar -te...
— Se o fizerem... isso provará a tua inocência.
Gilbert encolheu os ombros. Sentia-se perdido. Tinha agora a certeza de que alguém devia ter feito desaparecer o corpo do irmão de Rush.
— Faz o que entenderes, Dick. Não tenho nada a censurar-te... e tenho muito que censurar a mim mesmo.
O advogado interveio, voltando-se para o xerife e ordenando:
— Meta este homem na cadeia, Toomey.
Toomey e Weis levaram Gilbert. Na rua, a "cambada" - como ele dizia - olhou-o com escárnio. Odiavam-no...
Dick regressou ao caminho da mina, acompanhado pelo xerife e pelo seu ajudante. Pararam no lugar exato onde Gilbert dissera ter disparado sobre o seu assaltante, o irmão do enforcado Rush. Não havia sinais de qualquer corpo, por mais que procurassem.
— O seu irmão mentiu... — disse o xerife.
— Não o afirme com tanta certeza... Sei que o odeiam e esperavam há muito tempo uma oportunidade destas... Vocês e esse John Merrill...
— As provas...
— São contra Gilbert, bem sei. Mas sei que a provas podem ser forjadas pelos inimigos dele. Tarde ou cedo desmascararei o verdadeiro culpado... ou os culpados...
— Pois apresse-se, ou não chegará a tempo de salvar o seu irmão. Volta para Misoula?
— Fico ainda aqui. Irei depois, para falar com Gilbert. Suponho que isso é permitido.
— Sem dúvida...
Dick esperou que os dois homens se afastassem e renovou as buscas... mas o resultado foi o mesmo. Alguém removera o corpo sem deixar rastro. Resolveu ir à mina e falar com Lee Stevens...
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