terça-feira, 24 de maio de 2022

FBV159.12 Quem com serpente mata...

Dick Steiner tinha colocado as almofadas de madeira que, se alguém espreitasse da porta do quarto, julgaria vê-lo deitado na cama e profundamente adormecido. Depois sentou-se a um canto, de arma em punho. 

Esperava que alguém tentasse assassiná-lo naquela noite.  Mas as horas foram passando, sem que, nada acontecesse. Até que, cerca das duas da madrugada, ouviu várias detonações em rápida sucessão. Par e -ciam vir dos lados da cadeia onde Gilbert se encontrava preso. 

Alguém teria disparado sobre o irmão, por uma das janelas que davam para a cela? Alguém teria receado que Gilbert não fosse condenado? 

Pensou em Merrill... O advogado sabia agora que Elizabeth não acusaria Gilbert... 

Em menos de um minuto, correndo, Dick Stein, chegou ao edifício da cadeia. Viu várias pessoas que corriam também, outras, ainda meio despidas, que tinham chegado já. Merrill era uma dessas... 

Chegou à cadeia, lamentando ter perdido alguns minutos antes de sair do quarto, no momento em que o xerife aparecia à porta, acompanhado pelo dr. Speelling. Todos os olhares se fitavam nos dois homens, e havia espanto em algumas caras. Dick abriu caminho e perguntou; ansioso: 

— Que aconteceu com meu irmão, doutor? 

— Está morto... 

— Quem disparou contra ele? Ouvi tiros... 

— Ninguém disparou contra o seu irmão, Dick Steiner... -disse o xerife. — Fui eu quem disparou... contra uma serpente mocassim que estava na cela... 

Num impulso, afastando toda a gente, Dick entrou na-cadeia. Viu a serpente e o irmão, ambos mortos. Ficou imóvel por momentos, mas logo a seguir saiu, deu a volta ao edifício... e reapareceu pouco depois trazendo nas mãos um pequeno cesto de verga… o mesmo onde havia sido transportada a serpente. 

— Alguém trouxe a serpente neste cesto e a atirou para dentro da cela... — disse, fitando Merrill. 

— Ouvimo-lo gritar e acorremos..., mas era tarde de mais... — explicou o xerife. — Só pude matar a serpente e chamar o médico... -que nada pôde fazer. 

— Compreendo... -murmurou Dick. — Já não haverá julgamento... Amanhã virei buscar o corpo de meu irmão, para tratar do funeral... 

Afastou-se, indiferente aos olhares que o seguiam. Sentia-se acabrunhado, mas não vencido. A morte do irmão era um rude golpe para ele..., mas a tarefa que a si próprio impusera não estava ainda acabada. 

Viu Strafford, estremunhado, contou-lhe em poucas palavras o que havia acontecido, e subiu ao seu quarto. Mas parou à porta, bruscamente. Num relance de olhos vira a janela levantada... e mantida assim por um outro cesto de verga, um pouco maior do que o que encontrara junto da prisão. 

Empunhou o revólver, num movimento vagaroso, e quando os seus olhos se habituaram mais à obscuridade do quarto, obscuridade que não era total apenas porque alguma luz entrava pela janela, viu o vulto da serpente e disparou. 

O réptil, que estava em cima da cama, torceu- se desesperadamente... e Dick despejou o tambor da arma, num ímpeto de raiva. O que foi um erro... porque outra mocassim avançava para ele, rastejando no sobrado. 

Com uma exclamação de espanto, Dick saltou pana cima de uma cadeira e meteu apressadamente duas balas no "Colt". Não podia falhar.... Foi nesse momento que, alarmado pelos tiros que ouvira, Starfford empurrou a porta, trazendo um candeeiro aceso. A luz fez com que a serpente se imobilizasse de repente, surpreendida. 

— Não entre, Strafford! ... — bradou Dick. — Espere! 

Apontou e fez fogo. A primeira bala esmagou a cabeça do réptil. 

Strafford olhava, de olhos muito espantados, lívido. O candeeiro tremia na sua mão. Dick disse: 

— Creio que não haverá mais, mas ponha o candeeiro no chão e afaste-se. Vou ver... Não havia mais serpentes. Puseram o candeeiro em cima de um móvel. Strafford praguejava, ainda lívido. Dick foi buscar o cesto de verga, examinou-o e perguntou: 

— Strafford... Sabes de alguém que faça cestos destes... e lide com serpentes? 

— Sim... -balbuciou Strafford, ainda impressionado. -Há um tipo estranho... chamado Byrnea. Pensas que alguém lhe pagou para fazer isto? 

— Talvez. Onde vive? 

— A três milhas de Misoula, no caminho de Piegan. É numa cabana, perto de um charco... à direita. Mas é um sítio perigoso, Dick... Tem a casa cheia de serpentes... Ninguém lá vai... 

— Alguém lá foi, Strafford. E eu irei também me agora mesmo... 

Quando saiu, Dick encontrou Toomey e o seu ajudante, que iam a caminho do "saloon". 

— Ouvi tiros para estes lados, Steiner... — disse o xerife. — Que aconteceu? 

— Isto... — respondeu Dick, atirando para o chão o cesto de verga. — Quem matou o meu irmão quis fazer o mesmo comigo, mas eu estava acordado. Encontrei duas serpentes mocasim no meu quarto. 

— Logo duas?... — Comentou o ajudante do xerife, com um sorriso mau. — E matou-as? Você é um tipo de sorte. 

— Os assassinos terão menos sorte do que eu, Weis, aviso-o disso.

— Avisa?... — Retorquiu Weis, ameaçador — Quem julga você que é... O seu irmão também falava de alto... e veja como acabou... 

Riu-se...e Dick deu-lhe um soco que o atirou ao chão. 

— Maldito! Vais ver como... 

Weis levantou-se e levou a mão ao coldre. Empunhou-o num gesto rápido, engatilhou-o com o polegar, apontou-o... Mas Dick foi mais rápido. A sua mão direita moveu-se como um raio, o seu "Colt" detonou. Weis voltou a cair. Estava morto quando bateu no chão, com uma bala cravada entre as sobrancelhas. Dick voltou-se para Lon Toomey: 

— Tem alguma coisa a dizer, xerife? 

— Não... ele fez o que não devia e foi o primeiro a empunhar a arma. Você agiu em legitima defesa, e... Weis procedeu como um assassino. Teve a sorte que merecia... e que ele mesmo provocou... 

Dick olhou para o xerife, surpreendido. Que significaria aquela atitude? Mas não havia tempo para perder. Encolheu os ombros, guardou a arma, deu meia volta e encaminhou-se para onde havia deixado o seu cavalo. Momentos depois partia de Misoula, a galope. 


***


Não teve dificuldade em encontrar a cabana de Byrnes. Era à direita do caminho, perto de um, charco lamacento. Junto do charco, um penedo alto refletia-se na água escura, e urna árvore frondosa debruçava-se sobre a cabana miserável. 

Dick empunhou o revólver, desmontou, aproximou-se da porta da cabana e bateu. 

— Byrnes, abra... 

Interrompeu-se bruscamente. A porta abrira-se, sob a pancada. Byrnes não devia ter voltado ainda. Por instinto, Dick apanhou um pau que estava caído no chão. Ouvia rumores dentro da cabana, como de corpos rastejantes. A escuridão, para além da porta, era completa. Dick não tinha luz. Resolveu prontamente a dificuldade. Reuniu os punhados de erva seca, numa espécie de bola, acendeu um fósforo e largou-lhes fogo. Logo, empurrando a porta com o pau, atirou a bola de lume para dentro da cabana... 

Isso bastou-lhe para ver o que se passava ali. No chão estava estendido o corpo de um homem, numa poça de sangue. Morto, sem a menor dúvida. Em volta do corpo e sobre ele, dezenas de serpentes agitavam-se, assustadas pelo fogo... 

Só havia uma coisa a fazer, para anular o perigo que as serpentes representavam. Dick puxou a porta para si, servindo-se ainda do pau, amontoou erva seca de maneira a tapar a frincha inferior... e lançou, fogo à cabana... 

Voltou a montar a cavalo, e parado, do outro lado do charco, esperou até que as chamas envolvessem completamente a sinistra morada daquele homem que vivia em companhia de serpentes venenosas... Alguém se antecipara mais uma vez, alguém que se apressara a eliminar Byrnes para que ele nao pudesse falar... Esse alguém não quisera incendiar a cabana, como Dick tinha feito... talvez para não atrair atenções. Era mais uma pista que desaparecia..., mas agora Dick não tinha pressa. 


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