Sem perceber bem porquê, Elizabeth sentiu que podia confiar em Dick Steiner. Pareceu-lhe profundamente sincero. Pela primeira vez, sentiu-se inclinada a aceitar a hipótese de uma armadilha contra Gilbert.
— Mas quem supõe capaz de o ter feito?
— Tenho vários suspeitos..., mas não seria justo citar nomes sem estar convencido completamente.
— Então que espera de mim?
— Apenas uma coisa... que não tenha rancor contra o meu irmão. Ele veio a sua casa trazer um documento que o advogado Merrill lhe levou para que Gilbert e o sócio assinassem..., mas veio especialmente na esperança de a encontrar, a si.
— Deve saber...
— Eu sei... Ontem à noite tive uma trem lida discussão com Gilbert. Sei que ele não é o mesmo, que se transformou para muito pior. Mas sei também que não é culpado, e resolvi ficar para demonstrar a sua inocência. Meu irmão continua a amá-la, Elizabeth...
Ela respondeu, devagar, fitando Dick que lhe lembrava irresistivelmente o Gilbert que conhecera antes, não o de agora.
— Tenho pena, Dick, mas deixei de amar Gilbert há muito tempo, quando ele começou a transformar-se... a enforcar gente... a exibir-se. Agora não o aceitaria... nunca. No entanto não acredito na culpa dele quanto ao assassínio de meu pai. Creio que já tinha chegado a essa conclusão antes da sua visita, Dick... E tenho pena da situação em que se encontra.
— Vão julgá-lo amanhã... talvez a chamem como testemunha...
— Devem chamar-me, sim. Direi apenas a verdade... não farei o jogo dos verdadeiros assassinos. Direi o que penso...
— Agradeço-lhe. Posso ver o gabinete de seu pai? Não que espere fazer qualquer descoberta...
— Decerto, venha...
Dick examinou atentamente, o gabinete, sem encontrar qualquer indício útil. Despediu-se de Elizabeth, depois de lhe perguntar quando seria realizado o funeral do juiz.
— Amanhã, uma hora antes do julgamento...
Minutos depois. Dick entrava no "Strafford Saloon". Encontrou Merrill, o advogado, que sorriu ao vê-lo, parecendo, satisfeito e seguro de si.
— O xerife disse-me que não tiveram sorte, Steiner...
— Alguém esteve na Cruz do Corvo antes de nós — respondeu Dick.
— Acredita que tivesse existido algum cadáver, sem ser na imaginação de seu irmão? Não viu o juiz morto e Gilbert junto dele com as mãos sujas d sangue? Não viu a bala?
— Nada disso prova seja o que for e não sou apenas eu a pensar assim. Elizabeth Marlowe é da mesma opinião... — retorquiu Dick. — Também ela não acredita que Gilbert seja o assassino.
— Mente! — bradou Merrill, congestionado. — É tão embusteiro como o seu irmão!
Dick afastou-se do balcão, olhou-o fixamente e disse:
— Se não retira isso que disse, mato-o!
— Pois mate! Todos verão que dispara contra um homem desarmado...
— Isso nada altera, Merrill. Vou bater-lhe até o fazer cuspir as tripas.
E, ao mesmo tempo que falava, Dick atacou. O seu punho direito acertou em cheio na cara do advogado, atirando-o para cima de uma das mesas.
Merrill, endireitou-se, doido de raiva, mas segundo soco fê-lo cair sem sentidos.
— Strafford, — disse Dick... — dê-me uma panela com água.
O dono da casa obedeceu, e Dick despejou a água por cima do advogado. Merrill agitou-se, tossiu, acabou por se levantar.
— Maldito...
— Ainda não acabei, Merrill. Tem de retirar o que disse.
O advogado lançou-se sobre Dick, de cabeça perdida, mas dois socos mais puseram-no de novo a dormir.
— Mais água, Starfford…
Outra vez despertado sob o novo dilúvio, Merrill não se atreveu a levantar-se. Ficou sentado no chão, encharcado, repelente, apavorado. Dick segurou-o pelas bandas do casaco e içou-o.
— Retira o que disse, ou continuo?... – Perguntou, sacudindo-o.
— Está... está bem... retiro o que disse… reconheço que o insultei sem razão.
Dick empurrou-o. Merrill cambaleou, segurou-se a uma das mesas e encaminhou-se para a porta, rosnando entre dentes. Quando ele saiu, Dick encostou-se novamente ao balcão e pediu outro uísque.
— Cuidado com esse tipo... — sussurrou Strafford. — É perigoso, não lhe perdoará isto...
— Estou prevenido, Strafford. Obrigado...
Sem comentários:
Enviar um comentário