sábado, 17 de agosto de 2013

PAS050. Reflexões em tempo de guerra

A guerra estava longe de Big Spring. Mas mesmo assim, chegavam ali os últimos abalos com que o terrível monstro sacudia os recantos mais afastados do sacrificado Sul. As mulheres caminhavam apressadas pelas ruas e quando se encontravam duas amigas, cochichavam entre si as notícias recebidas de seus filhos que lutavam na Virgínia, Carolina ou na Geórgia.
Estas notícias traziam sempre a tristeza a todos os rostos, pois embora no ano de 1862 a Confederação tivesse ainda a iniciativa dos combates, muitos rapagões louros, morenos, altos ou atarracados, fertilizavam com o seu sangue as cálidas terras do Sul. Mesmo com a Vitória, a Morte é sempre terrível.
Big Spring perdera grande parte do bulício que a caracterizava. As crianças e os velhos enchiam as largas e longas ruas, outrora sempre agitadas por alegres galopadas, risos, chalaças e algum tiro uma vez por outra.
 Agora quase sempre reinava o silêncio. E esse silêncio pressagiava em muitos corações que, uma vez terminada a guerra, nem tudo voltaria à situação anterior. As disputas bélicas mudam a fisionomia dos povos e marcam o ponto final de épocas, melhores ou piores, mas que nunca voltam. Com frequência, as guerras destroem a crosta de civilização dos homens, deixando a descoberto as suas mais violentas paixões e apetites; numa guerra há demasiados motivos para perder o cavalheirismo, a fidalguia e a razão. Em tais circunstâncias, a selvajaria e a brutalidade reinam até que a morte põe fim a tais horrores

(Coleção Arizona, nº 19)


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