Pum!
O tiro de espingarda pulverizou o vidro da janela e a pesada
bala de chumbo incrustou-se nas costas da rapariga. Lou deixou escapar um
gemido e cambaleou sobre as pernas. Estendeu os braços para a frente esperando
encontrar qualquer coisa onde agarrar-se para não cair. Edgar, com os olhos
muito abertos, precipitou-se para ela e agarrou-a:
- Lou!
A rapariga agarrou-se a ele. O oficial sulista tomou-a nos
braços e saiu fora da linha de tiro, protegendo a jovem de novas balas.
- Cum…priu… a sua… amea…ça…
Edgar aconselhou:
-Não fales, Lou.
Ao mesmo tempo tirou o revólver e olhou da janela na
direção de onde partira o tiro. Do outro lado da rua, um telhado de leve
inclinação fora a plataforma ideal para a realização do atentado. Mas o
assassino desaparecera, depois de fazer o seu único e mortífero tiro.
- Mor… ro… Edgar…
A bailarina agarrou-se ao pescoço do jovem. Byron sentiu uma
profunda pena no seu peito e, transportando-a com o máximo cuidado, depô-la
delicadamente num sofá.
- Não digas isso. Hás-de curar-te e voltarás a cantar e a
bailar.
Ao mesmo tempo que falava dirigia-se para a porta para pedir
auxílio, mas este já vinha personificado em Boulder, alarmado com aquele tiro.
- Não te vás embora, Edgar! – suplicou ela.
Da porta, o rapaz pediu ao dono do «saloon»:
- Procurem um médico! Lou foi ferida por uma «Winchester».
Boulder deu a ordem por sua vez a um dos empregados e acabou
de subir as escadas. Edgar regressou para junto do sofá, onde Lou começava a
delirar, no prelúdio do fatal desenlace.
- Se me salvasse… não queria… dançar. Viveria só… para ti…
Porque tu… amas-me… não é verdade?
- Não fales, Lou, não fales.
- Eu também te… amo. Sabes porque… não saí… da cidade?
Esperava… que voltasses… outra vez… Por isso… não fiz caso… do papel…
Pouco a pouco, a sua voz foi-se tornando mais fraca e as
suas mãos mais frias. Os longos e delicados dedos de Lou que acariciavam as
mãos duras do rapz, perderam a elasticidade e…
- Edgar…!
Endireitou-se e, com os olhos muito abertos, fitou a parede.
Depois, num sussurro, rezou:
- Meu Deus, perdoa-me… arrependo-me… de todos os meus…
pecados…
Os seus lábios continuaram a mexer-se durante um longo
instante até que uma repentina tosse a fez estremecer. Um segundo depois, os
seus belos olhos negros já não viam o que olhavam…
(Coleção Arizona, nº 19)
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