Alegrou-se o rosto de Allan Compton, ao avistar as paisagens
verdejantes de Redwood River, que se esboçavam ao longe. Embora não fosse dado
a pieguices de ordem sentimental, muito ao contrário, não podia ocultar certa
emoção, ao aproximar-se de uma terra onde deixara gratas recordações e onde não
voltara havia um ano. Essas espaçadas visitas eram sempre bem recompensadas,
com as inúmeras atenções dos vizinhos, as ofertas do seu tio, Edsel, e
sobretudo pelo amor inspirado pela deslumbrante beleza de Alina. Em boa
verdade, parecia não se entenderem muito bem, porquanto nunca estavam de
acordo, discutiam com frequência, mas era precisamente esta disparidade de
opiniões o que a tornava mais adorável.
Alina, jovem, rica, órfã, afilhada de Edsel Gollet, para
quem ela constituía o seu «ai Jesus», estava há muito tempo prometida para
esposa do seu sobrinho Allan. Ele próprio, entretanto, adiava periodicamente o
casamento, argumentando:
- «És ainda um cabeça no ar e Alina precisa de um homem que
a conduza na vida com segurança. Quando entender que a mereces – prometia ao
sobrinho – eu os casarei.»
Allan, porque lhe convinha estar bem com o ricaço, irmão de
sua mãe, e porque a rapariga era um amor, resolveu demonstrar ter direito à
felicidade. Tomando pelos ombros a responsabilidade de zelar pelos interesses
do rancheiro, muitos e dispersos, andava sempre de um lado para o outro,
estando largas temporadas sem aparecer na sede do rancho onde viviam o tio e a
noiva.
Estava convencido da mudança radical da sua vida, uma vez
que o tio, nas últimas cartas, o convidava a «colher o fruto».
No passo lento da montada desceu do alto donde gozou a
beleza da paisagem, e meteu por uma larga azinhaga onde chegava já a brisa
refrescada pelas águas do rio.
De repente, notou o ruído de furioso galopar. Voltou a
cabeça e o assombro e a surpresa traduziram pela simples expressão:
- Dan!
Parou o cavalo, obrigando-o a dar meia volta. O outro
cavaleiro avançava para ele como um bólide. Coberto de suor e poeira, um
estranho brilho nos olhos negros e o semblante congestionado, oferecia pavoroso
aspeto. Sofreou o animal a alguns metros de Compton, o qual, surpreendido,
exclamou:
- Que significa isto, Dan? A quem procuras?
- A ti, para te matar!
- Mas…
- Deixa-te de explicações! Por de mais conheces o motivo! –
apeou-se de um salto. – Apeia-te e empunha o revólver!...
Allan apeou-se também, mas tomado de extraordinário
nervosismo, que não conseguia dominar, mau grado seu. E com voz pouco segura
disse para Dan:
- Falemos com calma. Garanto-te…
- Cala-te! Até me repugna ouvir-te! «Saca» ou mato-te como a
um cão!
Naquele momento soou uma fuzilaria estranha às armas dos
contendores, ainda nos coldres. Colhidos pela surpresa, tiraram os revólveres,
mas nova rajada de tiros os varreu. Allan caiu pesadamente. Dan olhou atónito
na direção das árvores donde saíram os tiros. Faltaram-lhe as forças e,
dobrando-se como um boneco desengonçado, caiu de bruços sobre a relva do
caminho.
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