Mais além da empinada encosta com que terminava a rua
principal de Butler Town, existiam campos silenciosos. Na noite sem Lua, todos
os seus perfis pareciam sinistros e carregados de ameaças. Nenhum rumor chegava
até à cidade vindo das pradarias que a circundavam, e nas casas e currais
isolados não se notava o menor indício de vida.
Só num deles havia uma débil luz, mas era preciso
aproximar-se muito para a ver. Tratava-se de um coto de vela que se esgotou
rapidamente.
A mulher, ao ver-se envolta em trevas, começou a soluçar.
- Não te inquietes. Quando aparecer a Lua verás tão bem como
se fosse de dia. Agora, fecha os olhos. Fecha os olhos e apoia a cabeça nos
meus braços. Assim. Quieta.
A voz do homem era suave e tranquila, mas em cada uma das
inflexões acusava uma imensa fadiga.
A mulher serenou-se. Fechou os olhos e esforçou-se por esquecer
tudo. Mas a sua testa ardia e cada uma das suas lágrimas resvalava pelos braços
do homem.
- Ardes em febre, Judite. Queres que te abrigue com a manta?
- Não. Isto passa.
Por um instante, ouve um brilho de esperança nos olhos da
mulher. Mas o homem, na obscuridade, não o pôde notar.
- Sim, durará muito pouco. Assim que a Lua assomar, sairei
daqui.
Um golpe de vento fez que chegasse até ambos, mais intenso
que nunca, o odor fresco da palha. As madeiras do celeiro em que se ocultavam
vibraram, produzindo um ruído fantástico, como se algo de misterioso,
ameaçador, atravessasse as suas juntas.
(Coleção Búfalo, nº 19)
(Coleção Búfalo, nº 19)
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