O xerife empunhou a arma, mas nem sequer se chegou a servir
dela. O mascarado, como se compreendesse as suas intenções e conhecesse a sua
ótima pontaria, acabara de se encobrir com um acidente de terreno. E a
perseguição continuou implacável, assinalada pelas grossas nuvens de poeira que
se erguiam no ar e também pelo bater cadenciado doa cascos dos cavalos no solo.
O mascarado jogava numa partida de sorte. Sabia
perfeitamente que, se se deixasse apanhar, nem sequer teria tempo para
respirar… Por isso, facilitava o galope do animal. Auxiliando-lhe os movimentos
rítmicos do corpo, ora se sentando, ora se levantando.
Cavalgavam, agora, em plena planície, por um caminho
enroscado entre ervas. O xerife e os companheiros aumentavam de esforços, e a
esperança de caçar o fugitivo, dava-lhes energias novas.
A planície passara. Perseguido e perseguidores entraram num
amplo vale, que todos conheciam pelo nome de «Vale dos Trovões». Ali, por o solo
ser empedrado, as montadas tinham mais dificuldade em galopar. A corrida
diminuiu de impetuosidade, mas os ânimos não arrefeceram. O xerife, então,
parecia um possesso em cima do cavalo. Gritava, gesticulava, e ameaçava o
mascarado repetidas vezes com o «colt».
O «Vale dos Trovões», entretanto, ficara para trás.
Novamente, a planície se estendeu sob as patas das montadas. Porém, um novo
personagem entrara em cena. A mala-posta de «White City» rodava à frente dos
«cow-boys», puxada por fortes parelhas de cavalos.
Este facto deu ao mascarado uma alegria estranha, e uma
ideia que logo pôs em prática. Incitou com mais energia o cavalo e procurou
alcançar o carro. A luta entre o veículo e o animal pouco durou, pois,
instantes volvidos, alcançava a mala-posta e, num salto pleno de agilidade e
decisão, segurava-se nos varões e ficava bem agarrado. Depois, num esforço
extraordinário, dificultado pela corrente de ar, elevava-se até ao tejadilho e
deixou-se ficar estendido a todo o comprimento.
O boleeiro, que assistira a toda a cena, nada dissera nem
interviera, mas logo que as figuras do xerife e dos companheiros se definiram
na retaguarda, tentou fazer parar as parelhas. Compreendia que o negócio era
com a justiça – e ele talvez não tivesse a consciência muito tranquila…
É claro que a intenção não passou do primeiro gesto! Porque,
ao segundo, foi interrompido pela voz dura do mascarado:
- Mude de ideias, amigo. Ao contrário do que quer, fustigue
antes os cavalos! Força!.
O boleeiro, sem hesitar, assim fez. E os animais esticaram
mais os músculos na ânsia de ganharem terreno, naquela corrida diabólica.
Contornaram a planície e ficaram ocultos da vista do xerife.
Então, o mascarado saltou para o lado do boleeiro e, sem dizer qualquer
palavra, tirou-lhe as rédeas das mãos.
Com perícia levou as parelhas, sem abrandarem o galope, para
um estreito caminho entre montanhas de rocha e teve uma exclamação:
- Agora para o Vale dos Trovões!
O homem que ia a seu lado teve uma careta de protesto,
chegou a murmurar uma pergunta:
- Para trás?
Mas acabou por fixar a vista na pequenina janela que
comunicava com o interior da carruagem. Aí, alheios a tudo quanto se passava,
ia um homem de quarenta anos, robusto e de grandes músculos, e uma rapariga
loira, de idade não superior a vinte anos.
O xerife levantou o braço e a comitiva suspendeu a correria.
Todos olharam para o solo e sem o representante da lei dizer qualquer palavra,
compreenderam que a mala-posta mudara de rumo.
- Foi para o Vale! – exclamou o xerife. – Não compreendo
porque voltaram para trás! No entanto, para que não nos escapem, vão dois
homens por este atalho e os restantes vêm comigo pelo atalude, e assim
chegaremos lá primeiro do que eles!
Os dois homens indicados seguiram o sulco que as rodas da
carruagem deixaram e o resto do grupo seguiu o xerife. Um quarto de hora
depois, chegaram ao centro do Vale dos Trovões. Desmontaram rapidamente e
espalharam-se pelas rochas, de armas em riste.
A seguir, a mala-posta irrompeu no estreito espaço e fez
alto com grande alarido. Atrás do carro apareceu o cavalo do mascarado.
O boleeiro saltou, seguido do companheiro de assento, e
pouco de pois a porta abria-se para sair o homem e a rapariga. O primeiro, logo
que olhou à volta, teve um grito de raiva:
- O Vale dos Trovões!
- É verdade; a propósito, quero apresentar-lhe esta menina…
O passageiro, entre surpreendido e cauteloso, teve um esgar
de aborrecimento:
- Não compreendo o que quer dizer! Não o conheço a si nem ao
seu fato idiota! E nem me interessa conhecer esta senhora! – e voltando-se para
o boleeiro: - Quanto a si, quero que explique a razão deste desvio no caminho!
Quando chegarmos a Denver, apresentarei queixa na agência!
O boleeiro coçou a cabeça de atrapalhado, mas foi o
mascarado quem respondeu:
- Oiça, amigo! Não seja impulsivo. Disse que lhe queria
apresentar esta menina e vou fazê-lo… Chama-se Mary Dungan! Para me tornar mais
explícito: a filha de Dungan!
O homem fez-se pálido e a rapariga olhou para o mascarado,
admirada de este conhecer a sua identidade. E, quando ia para falar, uma voz
gritante saiu das rochas:
-Eh! Acabou-se a assembleia! Estão todos presos!
E a figura de Mc Dawson, o xerife, surgiu perante o espanto
de todos…
A seguir: O segredo do velho mineiro
A seguir: O segredo do velho mineiro
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