Naquela noite, Esther, «a bêbeda», encontrava-se no bar «Os
três sois», sentada a uma mesa e bebendo. Era esse o seu hábito e ninguém
estranhava, embora um ou outro lhe dirigisse o seu dichote, mais ou menos
pesado. Ela umas vezes aceitava-os com uma risada, outras, repelia-os com
indignação, conforme o estado de espírito ou os copos de whisky ingeridos ou
ainda a simpatia pelo brincalhão.
Era uma mulher curiosa, esta Esther. Na sua juventude, fora
artista de «cabaret». Mais formiga que cigarra, amealhou tudo quanto pôde. E,
quando se encontrou em declínio, comprou um rancho nas imediações do rio
Redwood, arrendou-o em boas condições e instalou-se numa casita em Kneeland,
dedicando-se a viver a sua vida como melhor lhe apetecia. O «viver a sua vida»
consistia em dar largos passeios a cavalo, sozinha, embora quase sempre tivesse
guarda-costas a soldo, embriagar-se todos os dias, frequentar os bares como
um homem, dizer as verdades cara a cara sem medo de ferir suscetibilidades e
rir-se de alguns galãs que lhe apareciam de quando em quando atraídos pela sua
beleza e pela sua bolsa que supunham recheada. Esther divertia-se com eles,
mantendo-os à distância não os deixando nunca ultrapassar as conveniências.
Muito boa era, consentindo algumas brincadeiras. Esqueciam-se da experiência
que ela adquirira em longos anos de luta pela vida.
Não obstante, possuía um coração sensível… e feriram-lho.
Aborrecia-a pensar em tais «incidentes». Sempre que deles se recordava pedia um
Whisky duplo.
Naquela noite, farta de ouvir falar sobre o mesmo assunto,
perguntou com um berro:
- Querem estar calados ou mudar de assunto? Que caturras! Só
sabem falar no mesmo!
Um protesto daqueles, quando toda a gente considerava o caso
como o mais importante da ocasião, emudeceu a assistência, reagindo cada qual À
sua maneira.
- Por favor, Esther, não se aborreça!
- Então o assunto não lhe interessa?
- Não façam caso!
Hilary Tarento, sentado perto com vários amigos, repetiu a
frase de um vaqueiro:
- Não façam caso! – e acrescentou: - Está bêbeda.
Esther fuzilou-o com o olhar.
- É possível que esteja, mas não bastante, que a língua
desentorpecida não possa ainda chamar-lhe carneiro!
Em volta soaram risos. Hilary fez menção de se levantar, mas
os amigos impediram-no. Esther nâo esboçou o mais leve receio. Com desprezo,
bebeu outro copo.
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