segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

PAS200. Junto ao sicomoro a vê-lo partir

 Contexto da Passagem: Alan encontrou por acaso o tesouro quando procurava caçar um veado. Resolveram separar-se já que Alan ansiava por voltar à sua terra, com dinheiro, para fazer rever a sua situação.



Naquela noite, a rapariga mal dormiu. O mesmo aconteceu a Dick e a Gregory. Todos estavam tristes com a separação, mas nenhum tão profundamente e a tal ponto como a jovem. Sentada junto de um frondoso sicômoro, na solidão da noite povoada de estrelas, dei­xou correr livremente, uma vez mais, o seu amargo pranto.
Depois da meia noite Soledad regressou ao acampa­mento. A fogueira estava apagada e Alan Gregory, sen­tado junto a ela, fazia arabescos com uma varita sobre as cinzas. Ergueu o olhar ao ouvir os passos de Soledad.

— Julguei que estivesse a dormir — disse ele. — Encostei-me um bocado mas foi-me impossível conciliar o sono.
A rapariga sentou-se ao lado dele.
— Pois eu, para ser franca, nem tentei — respon­deu.
— Porquê?
— Coisas... Tenho de pensar no destino a dar a tanto dinheiro. Que lhe parece mandar Dick estudar para o Este?
— Uma ideia excelente, Soledad, que só a honra, mas à qual eu creio que ele não se prestará.
A jovem sorriu.
— Receio que você tenha razão, Alan. Ensinei-lhe o pouco que sei. Lê e escreve qualquer coisa, maneja o laço com destreza e tem pontaria com a espingarda. Alegará que isto é mais do que suficiente para tomar conta de um «rancho» e de um lar.
— E talvez tenha razão, quem sabe?
Riram ambos, um pouco forçadamente.
— Bem... Alan... Já é muito tarde... Procure dor­mir. A viagem de regresso é longa e estafante. Mais uma vez, desejo-lhe muito boa sorte...
— E, mais uma vez, muito obrigado, Soledad...
Alan ficou novamente só, mas não fez menção de se ir deitar. Enrolou e acendeu um cigarro e fumou-o em silêncio. Depois, endireitou-se lentamente e com passo cadenciado acercou-se do grupo de árvores perto do qual se achavam os cavalos. «Azabache» já estava apa­relhado. Montou e dirigiu-se, a passo, para o bosque. Não queria que Dick e Soledad dessem pela sua partida. Sempre tivera medo das despedidas e muito mais naquela ocasião.
Mas todas as precauções para não despertar os seus companheiros foram inúteis. Nem Dick nem a rapariga estavam a dormir. O rapazito, do seu leito de folhas, com os olhos muito abertos fixos no espaço, enviou a Alan um mudo e comovido adeus. Ela deslizou até junto do sicômoro que a tinha visto chorar e ali esteve a contemplar o cavaleiro que se afastava, na noite clara, até desaparecer no horizonte…
(Coleção Bisonte, nº 47)

 

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