sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

PAS195. Perseguido por facínoras



 Contexto da passagem: em fuga, Allan foi alvejado e caiu do fiel cavalo, mas o acaso acabou por o conduzir a boas mãos


Quando Alan recuperou o conhecimento, não se lem­brava de nada... Pareceu-lhe que o cérebro estava vazio e que ele flutuava numa espécie de neblina, da qual vaga­rosamente se ia desprendendo.
Ao tentar mover-se, notou que não tinha forças para o fazer e ficou como estava, estendido num leito de peles e mirando os troncos que serviam de telhado àquela cabana de aspecto miserável.
Uma vela de sebo, colocada sobre uma mesa rústica, projetava nas paredes a sua luz trémula e amarelenta. Junto dela, via-se um frasco de «whisky» e parte das pro­visões que Bertha, a sua criada negra, metera no saco. Um papel com algumas linhas escritas a lápis estava encostado ao frasco.
Alan descobriu tudo isto quando um relinchar conhe­cido o fez voltar a cabeça lentamente. Pensou um pouco mais e logo se recordou de tudo que sucedera até à altura do desmaio.
Apalpou o ombro e verificou que estava impecávelmente ligado. Ainda lhe doía, mas a febre havia diminuido e apenas lhe restava recuperar as forças perdidas. Então, poderia montar a cavalo e reatar o seu caminho.
Pegou no papel e leu:


 «Se quer continuar a viver, alimente-se, mesmo que não sinta apetite. Aí fica tudo o que trazia. Sinto não poder ficar a tratá-lo por mais tempo. Mas anime-se; por esta vez, escapou».

 A caligrafia era horrível e o bilhete estava cheio de erros ortográficos. Alan sorriu e deixou-o ficar sobre a mesa... Ao fazê-lo, os seus dedos encontraram um objeto duro, pequeno e cilíndrico, que ele examinou. Era uma bala de chumbo, coberta ainda com vestígios de sangue já seco.
Sorriu novamente ao recordar a frase: «... Aí fica tudo o que trazia...». O seu salvador não se referia só aos mantimentos, mas também ao projétil que lhe tinha extraído do ombro. 
Bebeu um gole de «whisky» e mastigou um bom pe­daço de carne assada. Embora não conseguisse tragá-la, o suco substancioso da carne e a ardente bebida deram-lhe forças para continuar a comer, mais tarde, a pouco e pouco, mas cada vez com mais apetite.
Três dias depois, quase completamente restabelecido, abandonava a mísera cabana e galopava pela pradaria, já capaz de se orientar e de escolher o caminho que no seu entender mais lhe convinha.
Estava certo de que Jeremias Kirby tinha mandado os seus assalariados em perseguição dele e não desejava defrontar com desvantagem os temíveis pistoleiros do «grande» de El Paso. Então com muitas probabilidades de ser ele o caçador em vez do caçado.
(Coleção Bisonte, nº 47)


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