segunda-feira, 14 de novembro de 2022

CLT022.05 Uma sentença falseada por ausência forçada e uma acusação de morte


Frank Suyder, rechonchudo de olhos flácidos e grande papada debaixo do queixo, juiz especial nomeado pelo Departamento de Justiça para resolver o pleito entre os ganadeiros e os agricultores do condado de Watson City, dirigiu um olhar para a sala por cima dos seus óculos, e perguntou:

— Estão preparadas as duas partes litigantes?

Clinton Hayden levantou-se duma cadeira, e respondeu:

—O advogado Zacarias Koehler representará os rancheiros.

Zacarias Koehler aproximou-se do estrado do juiz, sorrindo como um coelho, e apresentou as suas credenciais. Suyder examinou-as e devolveu-as depois, dizendo:

—Estão em regra. E a outra parte?

Não obteve resposta. Clinton trocou um olhar de reconhecimento com os ganadeiros que estavam sentados nas suas costas. Lucy Stanley, que estava a seu lado, manteve-se com o rosto imóvel. O juiz emitiu um grunhido e pegou num papel que estava na mesa.

—William Meredith! —gritou. —Não está o senhor Meredith?

Uma garganta aclarou-se nos bancos destinados ao público, e uma voz solicitou:

—Permite-me, vossa senhoria?

Lucy Stanley estremeceu. Tinha reconhecido a voz. Clinton voltou a cabeça para contemplar o homem que mais odiava no mundo.

— Quem é você e o que deseja dizer? — inquiriu o juiz.

—Sou Keith Yerbi, e a minha intervenção limita-se a fazer observar a Vossa Senhoria que William Meredith comparecerá neste julgamento.

—Bem; isso espero eu. Mas já passaram trinta minutos da hora fixada para o começo. De modo que, a parte representada pelo advogado... como disse que se chama?

— Zacarias Koehler— declarou o letrado, com ênfase.

—Obrigado. Pode iniciar as suas alegações, senhor Koehler...

Este tossiu várias vezes, bebeu um pouco de água, aclarou novamente a voz e começou a sua informação. Yerbi não quis escutar o palavreado e saiu para a rua. Estava acendendo um cigarro quando se aproximou dele o sheriff Beerman.

—Não entra para ouvir a história, Yerbi?

— Confesso que me aborrecem os embusteiros.

—Em confidência, a mim também.

Os dois homens riram-se. Mas por fim, Beerman disse:

—Ê estranho que Meredith não tenha chegado à hora.

— Spring Cross está longe daqui.

—Mas você não conhece Meredith. É metódico como o sol. Sinceramente, o seu atraso faz-me pensar qualquer coisa de mau.

Keith olhou-o nos olhos.

— Porque não fala claro, sheriff?

Beerman agarrou uma pedra do chão, e deu-lhe um pontapé.

—Suponho que se Meredith não comparecer, o juiz Suyder terá que dar uma sentença favorável aos ganadeiros por falta de alegações da outra parte litigante...

— Com que então é isso!... Obrigado, Beerman!

Keith correu para o seu cavalo, desatou as rédeas do amarrador, montou na sela e saiu como um raio de Watson City. Duas milhas além do povoado, três cavaleiros saíram detrás duns arbustos com as armas na mão, e detiveram-no.

— Onde vai com tanta pressa, Yerbi? — inquiriu um cowboy de sobrancelhas espessas.

Keith amaldiçoou-se interiormente por não ter tomado mais precauções. Não tinha tempo para pensar no que podia fazer naquelas circunstâncias. Saltou da cavalgadura, sacando no ar as pistolas.

Antes de tocar no chão tinha disparado duas vezes, e outros tantos cavaleiros desmontaram. O terceiro fez fogo, e Keith sentiu uma bala que sibilava junto duma das suas orelhas. Ao ver que o cavalo do outro se inclinava, agarrou o cowboy por uma perna e puxando por ela, atirou-o ao chão, enquanto rolavam, ambos perdendo os revólveres.

Quando se separaram e voltaram a pôr-se em pé, Keith golpeou o cavaleiro. O seu rival cambaleou, mas depressa se recompôs e atirou-lhe uma esquerda às sobrancelhas. Keith replicou-lhe com um direito direto em pleno rosto e instantaneamente fulminou-o com um terrível gancho no estômago.

Sem perder um segundo, recolheu os seus «Colts» e montou, encorajando «Chick» com exclamações de afeto. Passada uma hora, chega ao alto duma pequena colina donde se dominava Spring Cross.

Mas o que viram os seus olhos sobressaltava-o. O povoado dos agricultores estava rodeado por cerca de uma centena de homens. Sabia quem eles eram, mas se tivesse alguma dúvida, esta desaparecia ao descobrir entre eles Burt Goodrich. Chegou à conclusão de que nada podia fazer para romper o cerco. Era assunto arrumado. Deu umas palmadas no seu alazão, dizendo:

— «Chick», tens de levar-me a Watson City no mesmo tempo.

O animal, como se tivesse compreendido, moveu a cabeça de cima para baixo repetidas vezes. «Chick» cumpriu o pedido.

Dois minutos antes da hora, Keith junto da casa onde se celebrava o julgamento. Entrou na sala correndo, e deteve-se ao ver que o juiz não estava no estrado.

—Onde está Sua Senhoria? — inquiriu Keith em voz alta, dirigindo-se ao público que o rodeava.

— Está no escritório do juiz Martin — respondeu um dos espectadores. — Está a escrever a sentença.

Keith foi por um corredor em grandes passadas, encaminhando-se para a porta que tinha visto ao fundo. A voz de Clinton Hayden ressoou na sala.

—Onde vais, Yerbi?

Keith deteve-se, olhando o seu interlocutor e respondeu:

—Vou dizer uma palavras ao juiz Suyder...

—Não pode molestá-lo! Está escrevendo a sentença!

Keith sacou rapidamente um revólver, e desafiou, apontando-o a Hayden:

—Tenta impedir-mo, Clinton!...

Começou a recuar para o escritório, observando os menores gestos dos ganadeiros. Durante um segundo o seu olhar encontrou-se com o de Lucy, e ia jurar que naqueles olhos, contra o que podia supor, não brilhava a ira.

Por fim chegou à porta, pôs uma mão na maçaneta, fê-la girar, abriu e meteu-se para dentro, fechando imediatamente a porta à chave.

—Que se passa? — perguntou, por detrás dele, o juiz.

Keith voltou-se, e Suyder, ao ver o revólver retrocedeu exclamando:

—Pretende coagir-me com isso? —E ao fitar a cara do intruso, juntou: — Você é esse homem!... o que se levantou há pouco!... como disse?... Yerbi!... E isso!

— Sim, senhor Suyder. Sou Keith Yerbi.

—E que quer? Limito-me a cumprir o meu dever.

—Não o duvido, e por isso quero dar-lhe a conhecer que William Meredith e os seus agricultores não puderam comparecer ao julgamento porque os rancheiros lho impediram.

—Impediram? Como?

—A povoação de Spring Cross, onde os agricultores vivem, está rodeada por uma centena de cowboys que cumprem ordens de Clinton Hayden...

—Mas isso é inaudito!

—Hayden está disposto a afastar Meredith e seus companheiros da região; não se detém diante de nada para consegui-lo...

Suyder mordeu o lábio inferior, e perguntou:

—Como pode provar que o que disse é verdade?

—Juro-lhe; mas para sua própria segurança, sugiro-lhe que suspenda a sua decisão sobre o pleito, até investigar a causa que motivou a não comparência duma das partes litigantes...

O juiz abanou a cabeça, comentando:

— Você chegou quando acabava de assinar a sentença. Ê favorável aos rancheiros, naturalmente.

— Quer dizer que vai...?

Keith deixou a pergunta por acabar, olhando assombrado para Suyder. Este sorriu, e disse:

—Rasgá-la-ei em mil pedaços e vamos ver esse Meredith em... como disse?...

—Spring Cross.

—Ê isso, Spring Cross — continuou Suyder, batendo no ombro de Yerbi.

Keith guardou o revólver, e o juiz dirigiu-se para a secretária e pegou em três folhas de papel manuscritas.

De repente, soou um disparo procedente da janela aberta que estava à direita de Keith. Suyder deixou cair as folhas, levando as mãos ao peito. Simultaneamente, Keith fez fogo contra a janela ao sacar o revólver do coldre. Ao mesmo tempo a aba dum chapéu desaparecia no vazio. Mas ele sabia que não tinha feito fogo em branco. Correu para o juiz especial e agarrou-o antes que este caísse, levando-o para um cadeirão que estava por detrás da' secretária.

—Mataram-me... — sussurrou Suyder.

Yerbi comprovou que o projétil tinha entrado no peito, próximo do coração. Era verdade. Não tinha muito tempo de vida. Só dois minutos ou dois segundos. Um tropel de passos aproximou-se da porta.

—Que se terá passado aí?... —gritou uma voz. —Abram! Abra, senhor Suyder!

Yerbi agarrou a cabeça do moribundo, cujos olhos se tornavam vítreos.

—Que posso fazer, Suyder?... —perguntou. —Diga-mo!...

O juiz olhou para Keith, abriu os lábios para dizer algo, mas nesse instante a cabeça caiu-lhe e morreu. Keith ficou imóvel, contemplando o rosto do cadáver. Lá fora continuava a confusão. A porta era empurrada, insistindo que de dentro a abrissem.

Por fim, Yerbi separou-se de Suyder e viu no chão a sentença. Baixou-se para a agarrar, e então a porta cedeu e abriu-se.

— Considere-se preso, Yerbi! — gritou a voz de Clinton. — Somos muitos, e o coseremos com balázios!... Deite fora esse revólver 1...

Keith obedeceu. Clinton e cinco dos seus cowboys, armados até aos dentes, rodeavam-no. Um deles aproximou-se do lugar onde estava Suyder, e depois de examiná-lo, disse:

—Está morto, senhor Hayden.

O rancheiro tirou das mãos de Yerbi as folhas com a sentença. Deitou uma olhadela para os papéis e voltou para o prisioneiro, distendendo os lábios num sorriso sarcástico.

—Agora tudo está claro, Yerbi. Liquidou o juiz ao saber que a sentença nos era favorável. Dá conta do que fez? Assassinou um enviado do Governo!... Talvez compreenda isso quando estiver dançando debaixo do ramo dum carvalho!...

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