terça-feira, 15 de novembro de 2022

CLT022.06 Uma farsa de julgamento com condenação à morte por enforcamento


Paul Green, o promotor do condado, aproximou--se do réu e perguntou-lhe

—É ou não verdade, senhor Yerbi, que entrou pela força no gabinete onde estava o juiz Suyder?

—Precisava vê-lo para lhe dizer...

—Responda taxativamente à minha pergunta!... Sim ou não!

Keith gritou exasperado:

—Não quer que se aclare este assassinato? Pois devo relatar ao júri os motivos que me impulsionaram a actuar daquela forma!

O juiz Chandler deu uma martelada na mesa, advertindo:

— Procure responder concretamente às perguntas do Delegado do Ministério Público.

Greene inclinou-se sorrindo, e murmurou:

— Obrigado, Senhoria.

Yerbi olhou o juiz, e sugeriu:

— Porque não acabam duma vez com esta farsa?

Chandler voltou a bater com o martelo na mesa, irado:

—Não consentirei que o réu insulte este Tribunal de Justiça... Multo-o em cinco dólares, e se volta a revoltar-se, o julgamento continuará sem a sua presença...

Os espectadores que enchiam a sala mexeram-se nos seus assentos.

—E ou não verdade que sacou um revólver e, ameaçando com ele os presentes, introduziu-se naquele escritório? —repetiu o promotor, assinalando com a mão a porta do fundo.

—Sim! — respondeu Keith, apertando os dentes.

—É ou não certo que lá dentro só estava o juiz Suyder?

—Sim!

—Ê ou não verdade que ele lhe comunicou sentença do pleito entre os rancheiros e os agricultores, favorável aos primitivos?

—Sim.

Greene pôs os polegares nos bolsos do colete e deu uns passos voltando as costas ao réu. De repente girou e, apontando com o indicador, disse gritando:

—E então você ameaçou-o para que destruísse a sentença e a substituísse por outra que desse a razão aos agricultores, e como o juiz Suyder se negasse a fazê-lo, você disparou um tiro matando-o.

—Não é verdade! Disse-lhe que os agricultores tinham sido obrigados pelos cowboys de Clinton Hayden a permanecer em Spring Cross. Então ele decidiu rasgar a sentença e investigar se a minha acusação era verdadeira, mas quando ia a rasgá-la, o assassino disparou da janela e matou-o.

—Espera que o júri dê crédito à sua infantil fantasia?

Keith olhou para os membros do júri. Lá estavam Burt Goodriche outros nove homens amigos ou empregados de Hayden.

—Não, não o espero—declarou.

—Magnífico. —O Delegado do Ministério Público voltou-se para o juiz Chandler, e disse. —Nada mais, Vossa Senhoria.

Este disse:

—O advogado de defesa pode interrogar — autorizou.

Zacarias Koehler levantou-se, mas antes que pudesse abrir a boca, Yerbi proclamou:

—Recuso esse advogado, senhor juiz I...

— Por que razão?

—Porque obedece às ordens do homem que quer ver-me enforcado.

—Recusa negada! Saiba o acusado que o senhor Koehler aceitou a sua defesa, o que quer dizer que não receberá honorários pelo seu trabalho.

—Isso é o que o senhor pensa! — exclamou, irónico, Yerbi.

Koehler caminhou como um pavão real para a cadeira em que estava o réu, e detendo-se interrogou:

—Ê ou não verdade, senhor Yerbi, que ao encontrar-se com o juiz Suyder viu que este se negava a substituir a sentença, teve uma ofuscação, foi vítima dum arrebatamento, e cegamente, sem pensar nas possíveis consequências do seu acto, disparou contra ele?

— Não disparei contra ele!

— Porque não é mais compreensivo? No exterior ouviu-se o estampido dum revólver.

—Fiz fogo contra a janela.

—Mas não se encontrou nela nenhum orifício de bala.

— Falhei o tiro, e o projétil perdeu-se no espaço.

O promotor Greene, sentado ao pé de Clinton Hayden, soltou uma gargalhada que foi acompanhada pelas dos membros do júri, quase todos os espectadores e até o próprio juiz. Koehler observou:

—Já se vê o efeito que fez a sua declaração, senhor Yerbi. Como quer que baseie a minha defesa nela?

—Não peço a ninguém para me acreditar! Vocês já escreveram a sentença antes de eu ocupar esta cadeira!

—Está nervoso, Yerbi! —disse o advogado. —Mas está fazendo o possível por enterrar-se. Se admitisse que disparou contra o juiz Suyder num momento de arrebatamento, o que cometeu foi um homicídio, e peço ao Tribunal uma sentença que oscile entre os dez e vinte anos de prisão. Se, pelo contrário, se obstina em manter a sua atitude, o júri decidirá que você se introduziu no escritório onde estava Suyder com o propósito de matá-lo se ele não acedesse aos seus desejos, e então o que cometeu foi um assassinato. Com este último veredicto não necessito dizer-lhe que será condenado à forca... Que decide, Yerbi?

Keith olhou fixamente o seu defensor e responde:

— Você é um nojento e repulsivo rato das fossas, Koehler!... Digno companheiro do promotor e do juiz! —Nesta altura Sua Senhoria começou a bater com o martelo, mas o réu continuou gritando, pondo-se em pé: — Vocês em virtude da vossa profissão juraram diante de Deus fazer justiça, e estão-na atraiçoando!... Não são mais do que uns miseráveis criados de Clinton Hayden!... Mas algum dia todos vocês serão varridos à vassourada para o lixo donde nunca deveriam ter saído!...

—Ordem!... Ordem! —gritava o juiz Chandler. — Onde está o sheriff?... Que apareça o sheriff!...

Mas Keith já tinha acabado o seu discurso, e estava sentado contemplando o movimento que as suas palavras tinham produzido.

Koehler regressou à sua cadeira, limpando o suor da testa, e por sua vez o promotor tinha deixado momentaneamente de sorrir.

Apareceu o sheriff, e o juiz encarregou-o de acompanhar o réu à cadeira que devia ocupar junto do seu advogado, e guardá-lo, até que o júri tivesse emitido o seu veredicto.

Os dez homens, entre os quais estava Goodrich, foram para o quarto onde havia sido assassinado o Suyder, e voltaram a ocupar os seus lugares cinco minutos depois.

Burt levantou-se quando o secretário do Tribunal perguntou qual era a decisão do júri, aclarou a voz e disse:

—Consideramos o acusado culpado de assassinato.

Um rumor, semelhante ao ruído do mar, correu pela sala.

—Silêncio! — exigiu o juiz Chandler. — Levante-se o acusado!

Keith obedeceu, e Sua Senhoria declarou então:

— Keith Yerbi, em virtude do veredicto de culpabilidade emitido pelo júri, este Tribunal do condado de Watson condena-o a ser enforcado até que o seu corpo tenha exalado o último suspiro. Enquanto não se cumpre esta sentença, permanecerá na prisão debaixo da custódia do sheriff, que será responsável pela sua pessoa. Terminou o julgamento. Saiam da sala!

Sem comentários:

Enviar um comentário