quinta-feira, 19 de agosto de 2021

RB007.14 Frente ao assassino de Mona

Aparentando não os olhar, mas sem perder de vista ninguém, Durgan aproximou-se do balcão. Dali e depois de pedir whisky, olhou através do espelho os dois pistoleiros, estudando-os, sabendo que se realmente havia algum perigo vinha daqueles dois.

Wood era bastante alto, de cabelo encaracolado, pele-vermelha. O seu rosto era belo de mais para um homem. As suas maneiras eram afetadas e efeminadas em demasia.

Durgan não sabia quem era, mas compreendeu que aquele pistoleiro sem o colt, se comportaria tal como uma dama. Classificou-o num segundo.

Quanto ao outro, Lansing, era outra coisa. Ruivo, alto e forte, felino, também com um solitário colt Frontier pegado ao másculo com o cabo para fora. Perigoso. A sua primeira bala, se as coisas se complicassem, seria para ele.

Durgan bebeu lentamente evitando olhar para o rancheiro, com a cara voltada para ele, a menos de três metros do lugar onde estava.

— Não tem nada para me dizer, Durgan?

Os dois pistoleiros aproximaram ainda mais as mãos dos colts. Entretanto, Durgan voltou-se para olhar Holland.

— Que lhe devo dizer, Holland? — perguntou por sua vez. — Creio que nós já falámos tudo há anos, não?

Holland afastou-se do balcão e Durgan percebeu que deixara o campo necessário para que pudessem disparar contra ele.

— Há anos, sim—replicou aquele. — Mas agora, não. Sabe a que me refiro, não é verdade?

—Não sei, mas suponho. A certa explosão nas suas terras, Holland. O sheriff Morley esteve a visitar-me, mas como vê, foi com as mãos vazias. Não tenho que dar-lhe explicações, mas vou fazê-lo. Não saí do rancho em toda a noite. Os meus vaqueiros, o meu capataz, inclusivamente a minha mulher, podem testemunhá-lo. Agora, deixe-me em paz! Não, Durgan Foi o senhor! Eu sei! Os meus homens viram-no. Lamento é que não o tenham morto.

—Como fizeram a Mona, não é verdade? —olhou em volta, enquanto o rosto de Holland se modificava. — Este é um bom saloon, Holland. Tenha cuidado não o perca da mesma forma que ela.

— Está a ameaçar-me?

— Pode ter a certeza que sim. Mande-me de novo o sheriff, faça qualquer coisa contra o rancho de Sadie, e virei à sua procura. Convém que não se esqueça. Ah! os seus homens dizem que me viram, mentem como porcos! Meta isso na cabeça e será melhor para si, Holland! Isso, e pode ficar convencido de que farei todos os possíveis para averiguar como ocorreu a morte de Mona Davison. Se o senhor tomou parte nela, se foi intencional, desapareça de Fowler e meta-se debaixo do chão, e mesmo assim, não sei se lá o irei buscar, para o matar como um rato!

Holland soprou como um touro enfurecido. Maldisse entredentes umas quantas inconveniências e depois levou a mão ao colt, mas não sacou.

—Maldito seja, Durgan! — disse. — Que espera que faça? Que esqueça a sabotagem do dique? Nunca! Meta isto debaixo do chapéu; vou tornar-lhe a vida impossível. Veremos quem ri por fim.

A sua frase foi cortada pela voz de Lansing, que se tinha posto de pé juntamente com Wood, olhando-se como se fossem galos de combate.

— És um bastardo sujo, Wood. A próxima vez que...

Como se tivesse sido picado por uni réptil, Durgan encarou-os tenso, qual jogo de cordas de viola. Wood mastigou qualquer coisa entredentes que não se percebeu, e disparou o punho contra Lansing. Este agarrou-o com o braço esquerdo e disparou a direita. Wood deu dois passos para trás, enrolaram-se--lhe as esporas nos pés e caiu a rebolar pelo solo, já com o colt na mão. Deu algumas voltas sem deixar de disparar, enquanto que, com velocidade incrível, Lansing também sacava.

Durgan apenas teve tempo de saltar de costas e disparar de dentro do coldre, enquanto a bala de Wood arrancava bocados da madeira do balcão, onde segundos antes se encontrava encostado o seu corpo, e lançar-se por terra, para disparar rapidamente contra Lansing, quando as balas deste o procuravam zumbindo sinistramente.

Wood, pálido como um morto, olhava para as mãos de entre cujos dedos se tinham escapado os dois colts, enquanto, mais além, junto à mesa onde tinha estado sentado, Lansing se dobrava para diante com um orifício negro entre os olhos.

— Vamos, levanta-te.

Wood fê-lo imediatamente, tremendo. Como Durgan tinha calculado, sem as armas via-se acometido de um medo terrível. Pelo seu lado, Holland tinha o rosto vermelho de ira.

Durgan não estava com as armas na mão, mas apesar disso, não tentou sacar os colts, sabendo-se vigiado por ele.

—Vamos, põe-te ao lado do teu patrão.

Wood obedeceu enquanto as bailarinas tremiam dos pés à cabeça sem poderem afastar os olhos do cadáver de Lansing. Então, quando Wood se colocou ao lado de Holland, Durgan falou novamente dirigindo-se a este:

— Não vou matar-te agora, Holland — disse. — Mas fá-lo-ei se quando voltar ainda estiveres em Fowler. Porque vou fazer uma viagem de duas semanas, sabes? Por outro lado, se te liquidasse agora isso traria complicações e eu não quero — começou a retroceder para a porta. — Quando o fizer, se assim for, saberei tudo quanto quiser saber — calou-se uns segundos e depois disse: —Não saias agora, só depois de terem passado cinco minutos. Não saias se queres conservar a cabeça intacta, Holland.

Desapareceu pela porta sem dizer mais nada. Momentos depois, e quando o sheriff entrou a correr no saloon, já ele galopava fora de Fowler.

Mas Durgan não foi muito longe. Encaminhou-se simplesmente para a estrada que o conduzia ao rancho do Holland.

Desmontou debaixo de umas árvores e depois escondeu o cavalo. Em seguida, procurou um local do qual pudesse vigiar a estrada sem ser visto, e esperou, sabendo que Holland mandaria aquele pistoleiro ao rancho procurar outro, para lhe darem caça. Talvez fosse ele mesmo em pessoa. Se realmente assim fosse, Durgan estava disposto a deixá-lo passar sem fazer caso, e depois regressar a Fowler. A sua pressa, de momento, não era Holland, mas aquele pistoleiro de maneiras efeminadas e rapidez diabólica.

Teve paciência. Muita paciência, uma vez que caiu a noite antes que se ouvisse o galope de um cavalo na estrada, tendo assim bastante tempo para ir buscar o seu, montar nele e tirar da mesma.

Depois lentamente, encostou o corcel à beira da estrada, e esperou enquanto o troar daqueles cascos se acalmava por momentos. Era Wood. Soube-o no momento em que o cavaleiro passou ao seu lado como uma flecha.

Durgan esporeou e lançou-se em sua perseguição volteando o laço por cima da sua cabeça. Houve uma altura em que Wood notou que era perseguido e voltou-se na sela levando a mão à arma. Mas era tarde. Justamente na altura em que o laço lhe passava pela cabeça e se ia enroscar como uma serpente na sua cintura, apertando-lhe os braços em volta do corpo.

Quase na mesma altura, Durgan deteve o cavalo de esticão, e Wood viu-se projetado ao chão. Lutou com a corda, tentou afrouxar a pressão da mesma, mas também não conseguiu, uma vez que Durgan correra para ele com o colt na mão, agarrado pelo cano.

Uma simples pancada bastou para pôr Wood fora de combate. Depois, rapidamente, atou-lhe os braços e arrastou-o na direção de uns arbustos que calavam o rio.

Em seguida, Durgan procurou o cavalo do pistoleiro e levou-o pela rédea para junto do seu dono, agora convertido num fardo. Quando chegou ao pé dele, Wood ainda não tinha recuperado os sentidos. Contudo, Durgan, mediante um esforço titânico, pô-lo na sela e atravessou as pernas por baixo do ventre do animal. Depois subiu para o seu e começou a cavalgar lentamente, levando o outro pelas rédeas.

Começou a desviar-se da estrada, dirigindo-se em linha recta para os pastos pertencentes a Sadie. Diretamente para a cabana do cão. (Era um bom local para ter uma conversa amigável com o sicário de Holland, sem testemunhas que incomodassem. Repentinamente, nas suas costas soou a Voz de Wood.

— Onde me leva, Durgan?

Voltou a cabeça olhando para o pistoleiro, cujo rosto estava macilento.

— Conversar contigo, rapaz. Num lugar afastado, solitário.

— Vai matar-me?

A voz de Wood tremeu ao fazer a pergunta, e Durgan sorriu levemente na escuridão.

— Isso depende de ti. Como te chamas?

Depois de sua pergunta houve um momento de silêncio. Finalmente, Wood respondeu em voz opaca:

— Curt Wood, Durgan.

O nome do pistoleiro rebentou-lhe no cérebro como uma carga de dinamite. Um ódio profundo e irracional incendiou-lhe a alma. A seu lado, completamente à sua mercê, cavalgava o homem que matara Mona Davison. Ideias homicidas cruzaram a sua mente, e teve que fazer um esforço sobre-humano para não se voltar e esvaziar o colt na cabeça daquela besta imunda.

Repentinamente, o próprio Wood lhe deu ocasião para desabafar um pouco. Sem aviso prévio, como é lógico, cravou os saltos das botas no ventre do animal que montava. O cavalo deu um salto e as rédeas soltaram-se das mãos de Durgan. Tal como uma bala, partiu a galope pela pradaria.

Durgan perdeu alguns segundos a assimilar o que se passara, e quando conseguiu, soltou uma maldição, fez retroceder o cavalo e empreendeu um galope atrás do fugitivo. Alcançou-o muito perto da cabana, talvez a uns quinhentos metros.

Wood, quando se viu perdido, voltou o animal contra ele tentando atirá-lo para cima do seu. Durgan desviou-se no momento preciso e, depois, saltou para a garupa do que Wood montava.

Pela segunda vez naquela noite, o pistoleiro de Holland recebeu a carícia do colt na cabeça. Deixou cair a cabeça sobre o peito, e só recuperou os sentidos, quando estava na cabana.

 

 

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