segunda-feira, 16 de agosto de 2021

RB007.11 Uma mulher arruinada e... uma filha

 — Quer acompanhar-me ao meu escritório, mister Durgan?

Sentiu um enorme desejo de rir ao verificar que Morley começava a tratá-lo como devia. Então respondeu:

— Oficialmente, sheriff?

— Por agora é uma visita amigável, vem?

Durgan bebeu o resto do whisky, pôs uma moeda sobre o balcão e respondeu:

— Vamos.

Saíram para a tua.

Quando chegaram ao escritório, Durgan recordou a cena de anos atrás, mas de modo diferente. Nada tinha mudado ali durante aqueles seis longos anos.

Obedecendo a uma indicação do sheriff, sentou-se. Em seguida, e enquanto Morley fazia o mesmo atrás da sua secretária, Durgan puxou dum cigarro e acendeu-o. Depois olhou-o, encontrando-se com os olhos inquiridores daquele.

—Bem, sheriff —disse—, já cá estamos. Que me quer?

—Fazer-lhe uma pergunta, mister Durgan. Que pensa fazer agora que voltou?

— Já lhe disse, sheriff. Enquanto me dedicar à construção desse dique, irei averiguando se as minhas suspeitas são certas, tanto no que diz respeito aos meus interesses como sobre a morte acidental, ou sobre o assassinato de Mona. Que acha?

O semblante de Morley tornou-se subitamente sério.

— Isso fará correr muito sangue e continuo a dizer que não gosto desse estilo, mister Durgan.

—A mim também não me agrada, ainda que pense o contrário, sheriff. Mas tenha uma coisa em conta. Mona foi minha amiga. Se como penso a assassinaram, mataria quem o fez.

—E voltará para lá.

—Não é isso que penso. Dispararei de frente e dando todas as probabilidades ao assassino.

—Mesmo assim metê-lo-ei na prisão, mister Durgan.

— Então que quer? Que fique de braços cruzados?

— Exatamente, mister Durgan. O i ç a... — Vacilou como se não soubesse por onde começar, e como se não soubesse se devia ou não confiar plenamente num ex-presidiário.

Por fim decidiu-se completamente e disse:

— Oiça a sua esposa, mister Durgan, foi quem escreveu para a capital denunciando as desordens que havia em Fowler e a incapacidade do sheriff para acabar com elas. Eu vim com amplos poderes. Portanto, destituí-o. Desde então as coisas em Fowler mudaram, e agora está tudo tranquilo. Não quero que voltem a soar disparos. Compreende?

—E deixar à solta o assassino de Mona? Nem pense nisso, sheriff!

—Todos disseram que foi um acidente.

—Sim?... Pois não acho que tenha sido. Diga-me, sheriff. O senhor investigou a sua morte? Aposto o meu cabelo contra um sujo dólar de prata em como a bala que a matou saiu do cano de um dos pistoleiros de Holland. Agora, vamos ver como é que Al é o dono deste saloon.

Morley respondeu à pergunta, passando por cima de tudo o resto.

— O saloon foi vendido em leilão e ninguém deu mais do que ele, mister Durgan.

Pôs-se de pé, e o sheriff imitou-o.

—Por agora é tudo, sheriff Morley. Agora vou-me embora. Venho cansado da viagem e quero procurar uma estalagem para passar a noite.

— De acordo. E não se esqueça da minha advertência.

— Que vá para o diabo, sheriff — foi a consoladora resposta que obteve antes que Durgan desse meia-volta e desaparecesse na rua.

Durgan dormiu naquela noite no hotel e muito cedo, logo que tomou o pequeno-almoço, foi à cavalariça, selou o cavalo e partiu para o rancho de Sadie Farrow.

Sadie sua esposa.

Durgan tinha pensado muito nela durante aqueles anos. Agora, à medida que se aproximava, tentava adivinhar qual seria a primeira pergunta que ela lhe faria. Tinha quase a certeza qual seria.

Viu-a muito antes de deter o cavalo junto às escadas do alpendre, com os grandes olhos muito abertos, cheios de admiração pela sua presença. Pelo visto não o esperava. Não se moveu, quando ele desmontou, nem fez um só gesto, quando Durgan começou a subir as escadas, e permaneceu na mesma atitude, quando este se aproximou.

— Sadie— cumprimentou. —Não me dás as boas--vindas?

Ela respondeu em voz rouca.

— Que vieste cá procurar, Jack?

— Demónios, querida! A minha mulher. Beijá-la novamente. Gosto de o fazer.

Antes que ela tivesse a certeza de que o faria, Durgan agarrou-a pela cintura, apertou-a contra o peito e beijou-a até a deixar sem fôlego. Quando se separaram olhou-a dos pés à cabeça, com todo o descaramento, enquanto os seios se moviam agitados e os olhos relampejavam como os de um felino. Sim, realmente, Sadie estava na mesma. Aqueles seis anos não pareciam ter passado por cima dela. Era como se o tempo para não murchar a sua beleza sem par, se tivesse detido temendo causar-lhe dano.

Ela olhou-o nos olhos. Talvez estivesse a recordar cenas passadas. Talvez perguntasse a si mesma se as suas palavras eram verdadeiras ou encerravam uma armadilha. Sabia-se mais bela que muitas e esse era o seu medo. Mas por fim levantou a cara no seu antigo gesto de desafio e replicou.

— Quando quiseres, Jack. Esqueci-me por momentos que eras meu marido.

Ironia? Enquanto seguia atrás dela, Durgan não soube que responder àquela pergunta. Depois sentou-se numa cadeira situada no centro do espaçoso hall, e olhou-a. Sadie fez o mesmo na sua frente e trocou a perna.

Nessa altura Durgan lamentou que a saia fosse tão larga, uma vez que apenas deixava ver os preciosos tornozelos e os pés, pequenos, com os sapatos de salto alto.

— Já estamos cá dentro, Jack — disse. — Que me querias dizer?

Durgan, antes de responder, pensou que se tinha tornado muito fria.

— Depois, Sadie —replicou. — Agora apenas te quero fazer algumas perguntas. Quando vim para cá, vi poucos vaqueiros nos pastos e apenas, algumas reses. A que se deve isso?

Olhou-o atentamente e depois sorriu. Mas o seu sorriso tinha uma ironia amarga.

— A tua mulher já não é tão rica como anteriormente, Jack. Agora estou praticamente na ruína.

— Como foi isso?

— Dois anos de seca e a pressão de Al Holland. Ele foi o principal responsável por tudo. Na noite que... --calou-se sem se atrever a continuar a frase e acrescentou depois de uma curta pausa: — Bem, Jack, naquela noite, alguém atacou as obras. Mataram vários homens. Entre eles o engenheiro que te substituiu. Começou assim.

—E Mona? Sabes o que aconteceu verdadeiramente no dia em que a mataram?

Sadie fechou os olhos e fez uma careta.

— Ainda te lembras dela, Jack?

Durgan olhou-a durante algum tempo.

— Sim, Sadie — respondeu. — Ainda me lembro. Mas não da forma como tu pensas. Queria que me compreendesses.

Ela não respondeu. Limitou-se a olhá-lo, e depois de um longo silêncio exclamou:

— Creio que foi um assassínio asqueroso. Holland começou a fazer pressão sobre Mona. Ofereceu-se várias vezes para lhe comprar o negócio, mas ela recusou. Depois, três pistoleiros seus provocaram uma luta dentro do saloon, e ela morreu, por acidente segundo disseram. Holland comprou o saloon, uma vez que foi vendido em hasta pública. Ninguém ofereceu mais do que ele. Eu escrevi para a capital... mandaram um homem que é um demónio com as armas. Desde então tudo parece mais tranquilo, mas Holland continua a ser o dono.

— Sim, falei com Morley ontem à noite, Sadie. Ele contou-me bastantes coisas, mas não me disse que estavas arruinada. Disse que se não estivesse quieto, mandaria novamente para a prisão.

Sadie baixou os olhos incapaz de olhá-lo e frente. Quando a viu, Durgan pensou que se tinha enganado na sua primeira suposição. Teria mudado em qualquer coisa. Mas isso estava no seu íntimo.

—Que pensas fazer, Jack?

Fez a pergunta sem o olhar, como se sentisse interesse especial pelos bicos dos seus sapatos.

— Não sei. Depende de muitas coisas. Claro que gostaria de retribuir um certo número de coisas a esse porco. Tenho várias contas pendentes com ele sem contar com o que te fez.

—Jack, eu...

Naquele momento qualquer coisa a interrompeu. Ante a estupefação dos olhos de Durgan, e vinda de uma das portas situadas no fundo do hall, acabava de aparecer uma preciosa boneca ruiva de apenas cinco anos.

Correu para Sadie e esta inclinou-se para a tomar nos braços. Mudo, incapaz de articular palavra, Durgan viu como os bracitos da criança rodeavam o pescoço de Sadie e como esta a estreitava contra o peito.

Ia levantar-se, mas não chegou a fazê-lo, quando ouviu a pequena chamar-lhe mamã. Depois disto, a pequena voltou-se para ele. Durgan ouviu-a tartamudear na sua linguagem.

— Quem é.... este ho...mem, mamã?

Sadie sorriu e em seguida pô-la no chão.

—Vai brincar para o alpendre, Lina. Anda..., vai.

A criança lançou um olhar para Durgan, deu meia-volta e saiu a correr. Durante alguns minutos nenhum dos dois falou. Depois, Durgan cravou os olhos nela, que enrubesceu um pouco.

— É tua filha, Sadie?

—Sim replicou, com absoluta tranquilidade.

—E... de quem?

—É tua, Jack. —Sim, claro, é minha filha—respondeu tranquilamente, mas apenas aparentemente, pois abriu desmedidamente os olhos, deu um salto na cadeira e exclamou: — Demónios, Sadie! Minha filha!

Olharam-se de frente e, novamente, ela baixou o olhar.

— Sim, Jack. Tua filha.

Vacilou um pouco, e depois, ante a admiração de Durgan, saiu a correr. Segundos depois, viu-a correr pela escada de acesso ao piso superior e calculou que ia encerrar-se no quarto.

Mas Durgan não soube adivinhar a verdade que encerrava a aparente fuga de Sadie. Levantou-se calmamente e saiu para o alpendre, onde permaneceu sentado até aparecer à distância o primeiro vaqueiro. Então pôs-se de pé e saiu ao seu encontro. Conhecia-o, como aos outros, ainda que restassem poucos. O vaqueiro também o viu. A sua cara refletiu assombro e depois uma alegre simpatia.

Saltou do cavalo antes que este detivesse a marcha e correu ao encontro de Durgan com a mão estendida.

— Demónios, patrão! Já desesperávamos de o ver por cá de novo.

— Pois aqui estou de volta, Tim — respondeu apertando a mão calosa que lhe era estendida lealmente. —Que há de novo por aqui?

O rosto de Tim Powers nublou-se um pouco.

— Já terá ocasião de verificar, patrão — disse. — Pouco, e o pouco muito mau.

—Al Holland, não?

—Sim.

Durgan pôs-se ao seu lado e ambos se encaminharam para a cavalariça. De caminho viu a pequena Lina e apoderou-se dele um estranho sentimento.

Sua filha! Aquela criança era sua filha.

Sacudiu a cabeça para afastar aqueles pensamentos e olhou para Powers. O rosto do vaqueiro continuav

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