sexta-feira, 13 de agosto de 2021

RB007.08 O melhor local para se saber de um homem

SEGUNDA PARTE

CINCO ANOS DEPOIS


O cavaleiro deteve o brioso galope do animal, quando alcançou as primeiras casas de Chino Balley, em pleno território do Arizona.

Depois, avançou a passo, como se não tivesse pressa em ir a qualquer lado. Com os olhos, e à medida que avançava, ia olhando para os letreiros dos estabelecimentos. Mas ao chegar quase ao meio da rua, não foi para um letreiro que olhou com curiosidade, mas para uma maravilhosa anatomia de beleza morena que estava pintada num cartaz, por cima do qual havia outro indicando que se tratava de um saloon.

Desmontou e continuou a olhar para aquela maravilhosa figura que tinha tudo aquilo que um homem pode desejar. Para ela e para dar a outras. Vestindo qualquer coisa que se parecia muito com roupa, mas que não era nem de longe.

Decidiu entrar.

Não se enganou. A morena estava no palco, traçando com as pernas estranhos arabescos, acompanhada pelas discordantes notas de um velho piano. Valia a pena gastar qualquer coisa para a ver. Portanto, avançou diretamente para o balcão, encostou-se a ele e, encarando o barman, pediu:

—Um whisky.

Foi-lhe servido imediatamente. Enquanto não bebia, o cavaleiro voltou os olhos para a rapariga dizendo para consigo que gostava de toda ela. Olhou novamente para o barman.

— Quer dizer à rapariga para vir tomar qualquer coisa?

— Gosta, não é verdade?

—Sim.

A resposta foi seca. Como querendo dizer que não lhe interessava falar mais daquele assunto nem de nenhum outro.

—De acordo, forasteiro. Chamá-la-ei quando acabar.

O cavaleiro não teve que esperar muito. Apenas alguns minutos. Depois, quando os aplausos se apagaram e ela desceu do palco bamboleando-se maravilhosamente, o barman chamou-a:

— Eh, tu, Jessie! Vem cá.

A rapariga aproximou-se olhando para o forasteiro. Parecia querer comê-lo com os olhos, mas não era isso. Estudava-o. Apenas.

Pareceu ficar satisfeita, uma vez que, a sua boca, fechada numa linha um pouco dura, entreabriu-se e os lábios carnudos e vermelhos formaram um sorriso.

—Olá, forasteiro — disse, aproximando-se dele.— Vais convidar Jessie?

O cavaleiro devolveu o sorriso.

— Claro — replicou. — É natural, não? Há cinco anos que não vejo uma mulher e tu és qualquer coisa de bom. Vamos, pede.

Jessie olhou-o atentamente. Por momentos sentiu desejos de não aceitar o convite, mas depois, pensando que não havia nisso nada de mal, aceitou.

—Dá-me whisky, Al — encarou o forasteiro e acrescentou: — Obrigada.

Ele olhou-a sorrindo. Bebeu um pouco e permaneceu em silêncio até acender um cigarro. Depois cravou insistentemente os seus olhos naqueles estranhamente cinzentos.

— Gostaria de falar contigo, querida — disse.

Jessie semicerrou os olhos, pestanejou e disse.

— Sim?... Pois já está a fazê-lo, forasteiro.

Olhou-o provocantemente com um brilho prometedor no fundo das pupilas.

— Pode ser isso que estás a pensar, Jessie —replicou. — Onde?

Ela bebeu o whisky, olhou-o e disse:

—Tenho meia hora livre antes de actuar novamente, forasteiro.

Desceu do banco.

— Vamos? --perguntou ao ver que ele não dizia nada.

—Sim, por que não?

Seguiu-a até à escada com os olhos fixos no movimento das suas ancas, no suave movimento das suas belas pernas, quando andava, tal como um grande e belo felino.

Chegaram -ao corredor e Jessie deteve-se em frente de uma das portas que abriu, afastando-se para o lado a fim de o deixar passar. Depois entrou ela, fechando a porta.

Quase na mesma altura olharam-se nos olhos, no mais completo silêncio. Depois Jessie deu um passo em frente, outro.

— Queres beber alguma coisa? — convidou.

O cavaleiro assentiu com um mudo gesto da sua cabeça. Jessie preparou um whisky. Esperou que ele bebesse, e pouco depois estava nos seus braços. Mas por pouco tempo, uma vez que o cavaleiro a afastou, firme, mas suavemente.

Ela retrocedeu uns passos e olhou-o verdadeiramente admirada.

— Pensei que...

—Com mais calma, minha joia. Senta-te, quero falar contigo.

Pela primeira vez olhou-o como a um animal raro. Jessie sabia que possuía elementos mais do que suficientes para se tornar interessante e apetitosa perante qualquer homem. Mas aquele parecia diferente de todos. Com certeza a forma como a tinha beijado fora bastante diferente do modo como agora a olhava, se expressava e dirigia.

Sentou-se, traçou as maravilhosas pernas e as malhas negras das meias reluziram malignamente. Nada no rosto do forasteiro lhe indicou se estaria ou não interessado nesta nova maravilha, uma vez que permaneceu com o rosto frio e hermético, olhando-a.

Por fim, ela rompeu o silêncio:

— Bem, o que deseja de mim na realidade, forasteiro?

—Uma informação. Estou disposto a pagar o que quiser.

Jessie pôs-se instintivamente em guarda.

— Há informações que se tornam perigosas, forasteiro —replicou.

O sorriso do cavaleiro tornou-se extremamente frio.

—Para ti não será, pequena. Prometo-te.

Jessie permaneceu em silêncio durante alguns minutos e por fim perguntou:

—Está bem. Que deseja saber?

— Conheces um homem chamado Jess Dreyer?

O semblante de Jessie tornou-se repentinamente sério.

— Não... nunca ouvi falar dele.

O forasteiro pôs-se de pé.

—Estás a mentir, preciosidade —disse, aproximando-se dela. — Estás a mentir e não acho isso bem. Onde posso encontrá-lo?

Jessie olhou-o nos olhos, mas desviou imediatamente a cara incapaz de resistir àquele olhar, duro e frio como pontas de diamante.

—Não sei.

Agarrou-a pelos ombros.

— Fala, boneca —disse. — Sou amigo de Dreyer e tenho um recado importante para lhe dar. Alguém me disse que estava neste lugar do Arizona. Tu és... isso, uma rapariga fácil. Portanto, não admira que o conheças. Fala! Onde está e a que se dedica ele aqui neste maldito povoado?

— Porquê... por que me pergunta a mim? Por que não vai a outro lado?

— Ouve pela última vez. Sei que Dreyer teve, e possivelmente ainda tem relações íntimas com uma mulher chamada Jessie, cantora e bailarina de um saloon, sem que, pelo que parece, se importe pelo que faz durante as horas que não está com ele. Compreendes, cariño? Essa mulher és tu. Fala, Jessie! Quero saber imediatamente onde está Dreyer. Sei que tem um rancho perto e...

—Vá para o diabo, forasteiro! Se sabe tanto, que demónios quer de mim?

— Tu és a única pessoa que me pode dizer se está em Chino Valley ou no rancho. Só tu podes dizer-me se está fora e quando regressa. Estou à espera, rapariga. Jessie ficou silenciosa durante uns minutos e depois deitou a cabeça para trás.

— Que acontecerá se eu não disser, querido?

— Que não poderás sair para actuar de novo. E acredita que lamentarei, preciosa.

 

 

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