Acabava de ouvir o distante uivar das feras. Pousou John no chão e olhou em volta, se existissem árvores por ali, poderia ter acendido uma boa fogueira; mas só cresciam cactos e alguns cardos secos bastante distanciados uns dos outros.
De qualquer modo, apanhou destes todos quantos pôde encontrar e, apressadamente, acendeu uma fogueira. Os uivos dos coiotes ouviam-se mais perto.
As chamas afastaram as sombras. De quando em quando, Pat avivava o fogo com mais combustível do monte que formara junto de si.
John continuava sem sentidos. Os coiotes andavam rondando pelos arredores. Só o fogo os impedia de assaltar os homens.
Pat via-lhes os olhos a brilhar na escuridão, numa dança macabra obsessiva.
O combustível ia-se acabando e as chamas perdiam intensidade. Que sucederia quando não tivesse mais nada para ativar o fogo, quando os coiotes não tivessem à sua frente a barreira ardente da fogueira?
Nem sequer queria pensar nisso e, não obstante, tinha de fazê-lo. Pensava intensamente, tentando encontrar uma solução, solução que não existia, que não podia existir...
Conforme as chamas decresciam, os pontinhos brilhantes dos olhos dos coiotes aproximavam-se mais deles. Pegou no resto dos cardos que ainda existia e deitou-os no lume. Por instantes, as chamas elevaram--se. Por instantes os coiotes voltaram a afastar-se.
Mas, e depois?
O terror começou a apoderar-se de Pat Barton. Não o medo de morrer, como dantes, mas sim que os coiotes conseguissem chegar até eles e aplacassem a sua fome com o irmão ferido...
A fogueira acabou por apagar-se, e Pat, com um revólver em cada mão, perscrutou, ansioso, a escuridão.
Os olhos fosforescentes das feras continuavam a girar em torno deles. Procurou dominar os nervos e contá-los. Assim saberia com quantos inimigos teria de defrontar-se.
— Um, dois, três, quatro... Não conseguia contá-los. Talvez fossem dez, ou doze, ou talvez menos, muito menos. O que acontecia era que pareciam multiplicar-se com tanto ir de um lado para o outro, com aquelas idas e vindas obcecantes.
Apertou o gatilho de um dos «Colts» e disparou sem apontar. Depois escutou atento. Os uivos dos coiotes ouviam-se mais longe, e nem um só ponto fosforescente se notava na noite.
No entanto, não se alegrou demasiado. Os coiotes voltariam de novo. Dificilmente renunciavam à presa.
Passaram alguns minutos até que Pat voltou a ver um par de pontos brilhantes e quietos, como cravados no ar.
Um dos coiotes voltara. Atrás viriam os outros. Ergueu o revólver e apontou para lá. Foi para disparar, mas pensou que seria inútil fazê-lo. Se falhasse o tiro...
Devia poupar as munições. Contando com a carga do revólver e com os projéteis que levava na cartucheira contava apenas com umas vinte balas, e ignorava o número exato dos coiotes.
Se conseguisse resistir até que amanhecesse!
Em breve amanheceria. O novo dia começava a anunciar-se com uma débil claridade, por detrás das montanhas. O dia chegaria mais tarde ao deserto...
Entretanto, já não eram só dois os pontos luminosos que brilhavam nas trevas. Pareciam inumeráveis. Com os revólveres empunhados, esperava o ataque. Sobre o fundo da alvorada, as silhuetas dos coiotes tomaram forma e a fosforescência dos seus olhos foi perdendo intensidade. Pat pôde então contá-los. Eram apenas quatro.
Avançavam devagar, cercando-os como soldados de um exército disciplinado e sanguinário. Apertou o gatilho de um dos «Colts» e um dos coiotes deixou de avançar para ele. Caiu no chão espumando baba e soltando uivos terríveis.
Em troca os outros saltaram para a frente, depois de uns segundos de indecisão. Pat, sem sequer olha para onde disparava, apertou o gatilho dos «Colts» simultaneamente.
Um segundo coiote rolou pelo chão.
Mas ainda restavam outros dois com vida. Um dele saltou sobre John, e o outro escolheu Pat.
Este era um animal grande, de pelo avermelhado e olhos injetados de sangue. Um macho poderoso que se deteve uns segundos antes de saltar definitivamente sobre Pat, como se quisesse medir as suas forças antes de o fazer.
Pat não lhe prestou atenção. Tinha visto o outro animal saltar sobre o irmão. Sem olhar para o coiote que se preparava para o atacar, voltou-lhe as costas, e avançou uns passos na direção de John.
Não queria falhar o tiro. E disparou contra a fera quando esta já se preparava para cravar os colmilhos em John.
Então algo lhe caiu em cima do dorso, derrubando-o. O único coiote sobrevivente. Homem e animal, rolaram pelo chão, confundidos num brutal abraço...
Sem comentários:
Enviar um comentário