quarta-feira, 17 de novembro de 2021

BIS116.04 Ânsia de justiça

Mercê de várias circunstâncias, Winona atravessava uma época difícil, em que poucos podiam viver tranquilos. Imperava a lei do mais forte, do mais ousado. Não passava um único dia sem que se cometessem desacatos, assaltos às diligências, ou em que não aparecesse nas ruas algum homem morto a tiro ou facadas. 

Era uma época de terror, e Winona um campo propício a toda a espécie de patifarias. Chegavam bandos de aventureiros dos mais longínquos recantos do país e tornava-se muito difícil controlá-los, sobretudo se não existiam, como na realidade não existiam, grandes desejos de o fazer. 

Mas ali não viviam apenas aventureiros e gente sem escrúpulos; também havia homens honrados, trabalhadores incansáveis, que lutavam por engrandecer e elevar o nível da povoação. 

Por aquela altura, ficou vago o cargo de xerife em 'Winona. Quem o ocupara anteriormente enfermava de falta de pulso, segundo uns, ou de escrúpulos, segundo outros. Tornava-se necessário escolher um homem que reunisse as condições que faltavam ao outro: honradez, energia, coragem e decisão para se enfrentar com a quadrilha de bandoleiros que assolava a região. Onde estava esse homem? Quem se atreveria a arcar com semelhante responsabilidade? 

—John Barton — propôs alguém. 

John Barton era o mais indicado. Efetuou-se a eleição e, por fim, impôs-se o critério das pessoas honestas em oposição ao das que viviam mais ou menos fora da lei. 

James Claer era o outro candidato. Os rancheiros e os homens de bem sabiam que, se triunfasse o proprietário do «Ás de Copas», o regime de terror que imperava em Winona alcançaria o seu máximo grau. A James Claer desagradou-lhe muitíssimo não ter sido o escolhido; mas foi dos primeiros a felicitarem John. 

— Venceste-me em combate leal — disse, cínico e trocista. — Estamos certos de que saberás impor-te. Em Winona fazia falta um homem como tu, que fizesse valer a autoridade... 

John empalideceu ao ouvi-lo. Ia para responder' qualquer coisa, mas calou-se. Na realidade, não era homem de palavra. De que serviria ter-lhe dito que um dos principais perturbadores da tranquilidade em Winona era ele? Precisava de provas para o acusar. Depressa as encontraria, talvez. Além disso, teria de acusar também seu irmão. Estava ali, com Claer. Tinham ido juntos felicitá-lo. John olhou-o fixamente e perguntou: 

— Na verdade alegras-te, Pat? 

— Claro que me alegro. Tens cada uma! 

Pensava que poderia continuar como até então, valendo-se dos seus truques e artimanhas para enriquecer. Como iria John meter-se com ele? 

Quando, alguns dias depois, o juiz Smith colocou no peito de John Barton a estrela de cinco pontas, emblema do seu cargo, os olhos do novo xerife dirigiram-se para Pat. 

Era um olhar de indefinível ansiedade, angústia e firmeza, ao mesmo tempo. Pat deu-lhe amistosamente umas pancadinhas nas costas e comentou, irónico: 

— Em boa hora, John. De hoje em diante, a ordem e a paz reinarão em Winona. 

E John, sem deixar de o fitar, sério e enigmático, respondeu: 

— Assim o espero, Pat... 

Pat replicou com um sorriso ambíguo... 

No dia seguinte, como se pretendessem dar a réplica ao intrépido xerife, uma quadrilha de foragidos saiu ao caminho, para esperar a diligência. 

Eram cinco homens que, mascarados e armados de rifles, aguardaram, emboscados, à saída do desfiladeiro do Sul. O fogo das suas espingardas pôs rapidamente fora de combate o condutor da diligência e o ajudante. Depois, obrigaram os viajantes a abandonar a diligência e despojaram-nos de tudo quanto levavam. 

No veículo viajava Ann, a filha do juiz Smith. Era uma jovem loira e, embora não fosse excessivamente bonita, tinha a boca de um desenho tão correto e um sorriso tão pronto e agradável que a faziam parecer mais bonita do que aquilo que era na realidade. 

Possuía uma estatura mediana e parecia denotar uma certa tendência para engordar, embora, ao observá-la mais de perto, se verificasse que era muitíssimo bem constituída. Claro que em nada disto repararam os assaltantes da diligência. Apenas lhes interessava o dinheiro e as joias que pudessem levar os seus ocupantes. 

Uma vez conseguido o propósito que tinham em vista, perderam-se a todo o galope na distância. 

John Barton teve conhecimento do ocorrido, horas depois, quando a diligência chegou a Winona. Foram avisá-lo. 

— Assaltaram a diligência… 

Foi Ann Smith quem lhe participou o que acontecera. Vinha ainda impressionada, nervosa. 

— Sou Ann Smith — disse, apresentando-se. 

Pat Barton, que estava presente no momento da entrevista, fitou o irmão. Nunca o tinha visto olhar uma mulher com tanta atenção. Agradava-lhe a filha do juiz? Sim, devia agradar-lhe. Era muito bonita. Levantou-se da cadeira que ocupava e ofereceu outra à jovem: 

— Quer sentar-se? 

Observava-a como que subjugado e embevecido. John Barton costumava falar pouco; mas naquela ocasião parecia ter perdido por completo a fala. 

— Assaltaram a diligência e assassinaram o condutor e o ajudante — acrescentou a rapariga. 

Os dedos de John crisparam-se no bordo da secretária; mas não fez qualquer comentário. Quando Ann Smith acabou de explicar-lhe o ocorrido, voltou a levantar-se da cadeira, e perguntou, com voz firme: 

—Reconheceu os assassinos?  

Ela negou com a cabeça. Como havia de reconhecê-los, se os lenços lhes tapavam o rosto por completo, com exceção dos olhos? 

— Para que lado seguiram depois? 

Ann indicou com a mão a direção que os malfeitores tinham tomado. 

— Por ali — disse. 

E John, sem mais palavras, como se tivesse pressa de iniciar o seu primeiro serviço, dirigiu-se para o local onde tinha o cinturão com os revólveres e colocou-o, apertando, um pouco nervoso, a fivela. Depois, olhou para o irmão e inquiriu: 

— Vens, Pat? 

Queria experimentá-lo, para saber se poderia ou não contar com ele. Pat titubeou, um momento, indeciso. Mas John tinha já a mão no puxador da porta, pronto para sair, e repetiu: 

— Vens, Pat? 

Havia ansiedade na pergunta. 

Pat encolheu os ombros e sorriu, enigmático. Ele, um batoteiro, um ladrão mais ou menos camuflado, perseguindo ladrões e assassinos! Que ganharia com isso? 

John insistia: 

— Vens, Pat? 

Tinha aberto a porta e ia sair. 

— Bem, irei — decidiu, de repente. 

Antes de saírem de casa, os dois irmãos tornaram a olhar para trás. Ann, de pé no meio do aposento, despedia-se deles, sorrindo. 

—Bonita, hem? — comentou Pat. 

John respondeu com um grunhido. Uma vez na rua, John reuniu-se aos ajudantes. Para levar a cabo a sua ação, dispunha de três homens, sem contar com Pat. 


Sem comentários:

Enviar um comentário