segunda-feira, 15 de novembro de 2021

BIS116.02 O ataque do jaguar

Nenhum dos dois o viu. Talvez que já há algum tempo lhes viesse a seguir os passos, arrastando-se Sem ruído, esperando a ocasião para se lançar sobre eles. 

De súbito, saltou para a frente. Um salto perfeito, prodigioso, como só as feras sabem dar. Era um jaguar. A boca aberta, as garras poderosas distendidas, o rugido aterrador, anunciando o ataque. 

—John! John! — gritou Pat, querendo avisar o irmão. 

Era tarde, porém. O jaguar saltara sobre ele. Cravou as garras no ombro de John e atirou-o para o chão, de barriga para baixo. O rapaz não podia defender-se, a faca de mato escapara-se-lhe da mão. O peso do animal paralisava-lhe os movimentos. Pat continuava a gritar: 

—John! John! 

Nada valia gritar. Que conseguiria com isso? Mas tinha de fazer qualquer coisa pelo irmão. Quase não hesitou. 

— Espera, John, espera — gritou, nervosamente. 

John lutava, com desespero, contra o jaguar, procurando evitar que a fera lhe cravasse os dentes no pescoço. 

Pat, por fim, conseguiu dominar o medo. Tirou a faca da bainha, empunhou-a com força e precipitou-se para salvar o irmão. 

Quase não viu onde cravava a faca. Cravou-a instintivamente na garganta da fera. Ao sentir-se ferido, o animal voltou-se e atacou-o, com os olhos injetados de sangue, rugindo, as faces abertas escorrendo baba. 

Ferido, era mais terrível do que antes, muito mais perigoso. Deixou John e avançou contra Pat. E Pat voltou a ter medo. Retrocedeu, gritando: 

—John! John! 

A fera, como se se apercebesse do pânico do homem, soltou um bramido arrepiante e abriu ainda mais a boca, mostrando os agudos colmilhos. Não saltou sobre Pat como fizera com John. Deslizou, de rastos, pelo chão, com as pupilas sanguinolentas fixas nos olhos esbugalhados de Pat. 

— John, salva-me, John! — gritava. 

Retrocedeu até encontrar a árvore com a qual tropeçou. E então já não pôde retroceder mais. Nem sequer se lembrava de que tinha a faca na mão e os «Colts» no cinto. Só pensava que o jaguar o perseguia. 

Via o sangue da fera jorrando da ferida que ele próprio tinha feito, fascinavam-no os olhos brilhantes do animal que se arrastava pelo chão, preparando-se para dar o salto final sobre ele... 

John ouviu o apelo angustioso do irmão. Voltou a cabeça e viu-o encostado á árvore, assustado e vacilante... 

— Pat, tem coragem! — gritou. 

Mas onde teria a faca? Perdera-a ao cair no chão. Não importava. Pat precisava do seu auxílio. 

Apesar de ferido, ergueu-se do chão com uma velocidade incrível e saltou sobre a fera. 

O jaguar não chegou a atacar Pat. Uma luta feroz iniciou-se entre John e ele. O animal tinha as garras e os dentes para defender-se. John, só as mãos. E com as mãos que poderia fazer? 

Não pensou durante muito tempo. A ideia ocorreu-lhe de súbito. Tateando, procurou a ferida que Pat fizera na garganta da fera, mergulhou nela os dedos e rasgou-a... 

Pat continuava encostado à árvore, dominado pelo medo. Incapaz de mover-se, observava a luta do irmão com a fera. O sangue começava a correr em borbotões pela ferida do animal, e este, pouco a pouco, ia oferecendo cada vez menos resistência a John. Por fim, esvaído, ficou imóvel no chão. John ergueu-se cambaleando. Pat aproximou-se: 

—Como te sentes, John? — perguntou. — Estou bem, não te preocupes. 

No entanto, estava ferido. O sangue manchava-lhe a roupa. O jaguar tinha vendido caro a vida, e Pat devia, uma vez mais, a sua ao irmão. 

Conforme pôde, Pat ligou-lhe as feridas e, pouco depois, reataram o caminho interrompido. Mais uma vez a abrir passagem no mato, a golpes de faca. Mais uma vez a enfrentarem o mistério da noite e da selva. Mais uma vez a andar indefinidamente, sem descanso. Tinham de chegar a Winona antes do amanhecer. 

O que sofreram até chegar à povoação só eles poderiam dizer. Sobretudo John, a quem a dor das feridas produzidas pelas garras do jaguar obrigava a parar a cada passo. Pat dizia: 

— Vamos, John, não pares. 

Receava que pudesse surgir, a qualquer momento, outra fera, ou que caíssem em alguma emboscada dos «sioux». Uma milha na selva corresponde a muitas milhas em campo aberto. Era preciso abrir caminho palmo a palmo. 

Apoiados um ao outro, continuaram a sua caminhada. Chegaram à periferia do bosque. À frente deles, estendia-se a planície. Amanhecia. 

— Olha, John, olha! — gritou Pat. 

John ergueu a cabeça e olhou para a frente. 

—Winona — disse. 

Sim, era Winona. Um punhado de casas, defendidas pela paliçada de madeira. O fumo das chaminés elevava-se em espirais cinzentas, enredando-se nas nuvens. Um pouco mais aquém havia o rio. Que rio seria aquele? Talvez nem sequer tivesse nome. Mas tinha água. O bastante para que John e Pat se estendessem de bruços na margem, e bebessem até saciar-se. Ali descansaram um bom bocado. 

— Sentes-te melhor, John? — perguntou Pat. 

— Sinto. Estou muito melhor. 

— Então, vamos? 

Estava desejoso de chegar a Winona. A pequena povoação, no meio da pradaria, parecia oferecer-lhe o seu refúgio acolhedor. Tudo o mais não passava já de uma desagradável recordação: os «sioux», a selva, o jaguar. 

— Sim, é melhor irmos — admitiu John. 

Depois de aplacar a sede e lavar as feridas, dirigiram-se para Winona. Alguém os viu chegar e abriu a porta da paliçada, para lhes permitir a entrada. 

— De onde vêm? — perguntaram. 

— Do bosque. 

— E essas feridas? 

— Foi um jaguar. — E os «sioux»? 

— Também nos atacaram. Mataram todos os nossos companheiros. 

— Venham connosco. Levaram-nos, para tratar-lhes as feridas, para dar-lhes de comer. 

Os dois irmãos estavam extenuados. Winona era uma pequena povoação. Meia dúzia de casas de madeira, construídas apressadamente, rústicas, mas resistentes, com uma escassa população. Todos os habitantes eram pioneiros dos novos Estados da União. Homens, mulheres e crianças saíram a acolher os irmãos Barton. 

— Fiquem aqui — ofereciam. 

E, desde então, John e Pat formaram parte da coletividade de Winona... 


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