sábado, 30 de julho de 2022

CLF048.08 Plano sinistro para acabar com a bela Marah

Quando levantava já os braços para lhe rodear o pescoço, Mac Gregor, com uma terrível praga, empurrou-a brutalmente, fazendo-a cair no chão.

Rolou pelo pó feita um novelo, olhando para o homem que agora desmontava, indo direito a ela com o rosto transformado numa autêntica fúria.

Marah encolheu-se ainda mais. Pela primeira vez, tinha medo. Mas, porquê? Porquê aquilo? Tinha a certeza de que ele a amava. Aquele beijo era uma declaração palpável que ainda lhe queimava os lábios.

E quando julgava que Mac Gregor se ia lançar sobre ela, suspirou com alívio ao ver que ele se detinha. Depois reparou no tremendo esforço que ele realizava, e, por fim, como se ia dissipando pouco a pouco aquele sentimento de fúria que o dominara, até desaparecer por completo.

Uma expressão de amargura delineou-se novamente na sua boca. Marah pensou que esta era agora mais acentuada que nunca. Nessa altura Mac Gregor falou brandamente:

— Perdoe-me, fui um selvagem, Marah. Nunca mais voltará a acontecer. A fé de quem sou, enquanto viver, que nunca mais acontecerá.

E aproximou-se dela. A rapariga deixou que ele a ajudasse a levantar-se. Agora, frente a frente, ela olhou-o bem diretamente nos olhos. A sua pergunta seguinte não surpreendeu Mac Gregor. Já a esperava, por isso desviou os seus para que ela não visse confirmados neles todas as suspeitas ou certezas.

— Mas, porquê? Porque é que não pode se você me ama? É por causa desse maldito dinheiro? É porque eu sou uma pobretona e lhe devo?...

— Basta! Deixe-me, Marah Stivens, cale-se!

E ela surpreendeu-se com aquela nova explosão que não esperava. E ainda mais, quando Mac Gregor disse com toda a suavidade como que arrependido da sua rudeza para com ela:

— Nunca me casarei consigo, Marah, embora a ame. E amo-a muito. Só Deus sabe quanto! Mas é preciso que se convença disto e quanto mais cedo melhor. — Olhou para ela com toda a lealdade, fazendo uma pausa ao fim da qual acrescentou: -- muito bela, Marah. Divinamente bela.

Mas ela não se dava ainda por vencida. Estava a lutar pela sua felicidade.

— Mas, não compreende que não me importa nada do que pense de mim? Não compreende que o amo? Que o amo desde que veio perturbar a paz da minha alma com a sua maldita presença. Que não desejo saber nada a seu respeito. A não ser, que seja essa barreira de ouro... que é, Spen...?

— Cale-se, Marah! Cale-se porque é melhor para si. Vamos! Está a fazer-se tarde.

E com a entoação daquelas palavras, a rapariga, compreendeu que voltava a ser o mesmo. O chefe de poderosa vontade, a cujas ordens se moviam centenas de homens dentro de uma vasta extensão de negócios.

Silenciosa, e sem se atrever a insistir mais, Marah voltou-se para o seu cavalo. Mac Gregor alcançou-a antes que ela pusesse o pé no estribo. Ajudou-a a montar e... Marah não fazia senão olhar para ele.

Estava de costas para a estrada. Por isso não pôde ver o cavaleiro que avançava em direção a eles como uma flecha. Mas reparou, sim, na transformação do rosto de Mac Gregor e como este levava a mão ao «Colt» da direita num gesto relampejante.

Marah voltou a cabeça, rapidamente, para o caminho e empalideceu. Nada receava por ela, mas pelo homem que tinha sabido despertar o seu coração, embora nunca lhe viesse a pertencer, como lhe acabara de dizer. E pensou em Richard Kennedy, como tinha feito outras vezes. Também não gostava da passividade de que este estava a dar mostras, apesar de se estar a arruinar por completo.

Instantes depois, a cor voltou ao seu rosto quando distinguiu o cavaleiro.

— É Tex Sinclair, senhor Mac Gregor — disse desnecessariamente, já que este também o tinha reconhecido.

Com aquelas palavras, também ela tinha deixado de ser a mulher enamorada para se converter na secretária-geral do homem que comprara Cheyenne.

— Sim — replicou de repente Mac Gregor. — E traz pressa, Marah. Alguma coisa acontece em Cheyenne.

Alegrou-se por ele continuar a tratá-la pelo primeiro nome. E esporeou o cavalo, procurando alcançar Mac Gregor, que naquele momento partia a trote ao encontro de Sinclair.

Chegaram lado a lado junto deste. Mac Gregor ia a interrogá-lo no mesmo instante, mas o jogador antecipou-se dizendo:

— Quem me mandou cá foi Sutton, senhor Mac Gregor. Esse sujo do Pike Terrence vai-se embora de Cheyenne. Anda a tratar com o piolhoso do Kennedy a venda do seu rancho.

Mac Gregor tinha ouvido falar daquele fazendeiro, mas nunca ouvira dizer que tivesse tenção de vender a sua fazenda. Admirou-se daquela decisão tão repentina. Mas não pensou duas vezes sobre o que tinha a fazer. Encarando Sinclair, disse:

— Acompanha-a a Cheyenne, Tex. Que Sutton lhe dê esse dinheiro. A caminho para o «Três Barras», faz com que a acompanhem três dos nossos homens.

E disse-o num tom que Marah ficou com a certeza absoluta de que aquela seria a última cavalgada que fariam juntos. Desse momento em diante, Mac Gregor procuraria por todos os meios não se encontrar a sós com ela.

Deu-lhe vontade de rir. Aquele casmurro não contava com a força de uma mulher apaixonada! E ela estava disposta a continuar a lutar... enquanto vivesse.

Voltou bruscamente à realidade quando ouviu a pergunta de Sinclair:

— E o senhor?

— Ora, Tex! Isso nem se pergunta. Vou comprar esse «rancho».

A cor fugiu do rosto da rapariga ao ponderar o que poderia suceder quando Richard Kennedy soubesse que outro dos seus negócios se ia por água abaixo. Mas continuou silenciosa escutando os dois homens.

— Custar-lhe-á muito mais do que vale, senhor Mac Gregor.

— Isso também eu sei. Mas Kennedy não o apanhará. Ainda que tenha de pagar um milhão por ele.

Marah abriu muito os olhos ao ouvir a cifra. Qual seria então a fortuna daquele homem? Ou era uma simples fanfarronada sua? Teria desejado sabê-lo. Mas sem qualquer sentimento egoísta da sua parte. Ela gostava muito dele porque gostava. E isso é que contava.

Quando deu por si, já Mac Gregor galopava longe. Esteve a contemplá-lo até o perder de vista, sem que Sinclair, que compreendia o que se passava na sua alma, havia muito tempo, dissesse alguma coisa, para a obrigar a tomar o caminho de Cheyenne. Voltou-se depois para o jogador.

— Vamos, Sinclair — disse ela.

Este puxou as rédeas para obrigar o cavalo a empreender a marcha até à povoação, pensando ao mesmo tempo no homem que acabava de abandoná-los sem uma única despedida. No homem que o tuteava, havia muito tempo, sem que ele, Sutton ou Sullivan, se atrevessem a devolver-lhe tal tratamento.

Enquanto cavalgava ao lado da silenciosa e pensativa rapariga, rememorou cenas de outrora. Mac Gregor tinha-os salvo, aos três, de continuarem a resvalar pela pendente dos «fora da lei».

Quanto a Marah tentava não pensar no que poderia acontecer se este se se encontrasse com Kennedy, e no comportamento estranho de Mac Gregor para com ela. Tinha-a atirado do cavalo abaixo como um objeto qualquer. E, todavia, não sentia rancor contra ele. Não o sentiria nunca, fizesse ele o que fizesse. O beijo que lhe deu compensara-a de tudo o que estava a sofrer.

O seu rosto afogueou-se um tanto. Sinclair estava a observá-la. Este disse consigo que aquele súbito rubor não devia ser devido à excitação da carreira. Em que diabos estaria ela a pensar? Certamente em Mac Gregor.

 

*

 

Kennedy encontrava-se à porta de um pequeno estabelecimento de bebidas quando fizeram a sua aparição na rua principal de Cheyenne. Marah e Sinclair. Passaram a cavalo junto dele, sem que o jogador se dignasse olhar. Mas não aconteceu o mesmo com a rapariga que não pôde subtrair-se a essa tentação,

Durante uns segundos não afastou o olhar dos olhos de Kennedy. Estes feriam como punhais. E como das outras vezes, uma sensação indefinida se apoderou dela. Sumamente estranha, misturada de prazer e medo. Alguma coisa que escapava à sua aguda intuição.

Várias vezes, nas suas idas e vindas a Cheyenne, e ainda antes de conhecer Spencer, sempre lhe ocorrera o mesmo em frente da figura felina do belo rancheiro, outras tantas voltou a perguntar a si própria o porquê daquilo, sem encontrar uma resposta satisfatória.

Com o rosto volitado para o «Colorado Saloon», para onde se dirigiam, Marah deixou de pensar em tudo aquilo para prestar atenção às palavras que lhe dirigia Sinclair naquele momento.

Desmontaram junto do falso passeio, deixando os cavalos soltos.

Marah, sempre acompanhada por Sinclair, foi até à porta traseira do recinto, e entrou.

Kennedy, entretanto, não os tinha perdido de vista nem um só instante. Na sua boca delineava-se um estranho sorriso, que se acentuou ainda mais ao olhar para os homens e mulheres que ao passar a seu lado lhe dirigiam longos e estranhos olhares, mesmo sem se meterem com ele, e sem qualquer comentário.

O facto de que o não tivesse acompanhado nenhum dos seus homens, não era razão para que os habitantes de Cheyenne não pensassem que talvez não estivessem longe do seu amo. E não se enganavam!

Quando a rapariga desapareceu da vista, Kennedy continuou no mesmo sítio sem se mexer, em expectativa.

E quando a rapariga, desta vez sozinha, saiu do «Colorado Saloon», ele continuava no mesmo local.

Seguiu-a com o olhar até que a viu entrar num dos armazéns «daquele» homem. Só então mudou de posição voltando a cabeça para olhar ao longo da rua. O esguio Curley assomava, naquele momento, em cima da sua cavalgadura.

Kennedy deu meia-volta e entrou no estabelecimento. Sentou -se num canto afastado esperando Curley, que tardou pouco a apresentar-se. Este sentou-se em frente dele. A pergunta, em bora em tom velado, soou como um estampido aos ouvidos do pistoleiro.

— Que notícias trazes, Curley?

Ele contou tudo o que vira, pondo nas suas palavras a pior das intenções, julgando que...

— Beijaram-se pelo caminho. Depois apareceu Sinclair e Mac Gregor seguiu o caminho de Terrense.

A seguir, Curley contou o sucedido no caminho com todos os seus pormenores. E assustou-se ao ver o rosto de Kennedy. Este quase deitava chamas pelos olhos e tinha o rosto imberbe da cor da erva. Mais de três minutos esteve Richard Kennedy sem poder falar de forma coerente. Quando o conseguiu, a sua voz sobressaltou Curley.

— Porco! Como se atreveu a enamorar-se dessa rapariga? Bandido! Não será para ele! Pelo inferno que não, Curley! Não! Nunca a possuirá!

E Curley, quando o viu mais calmo, aventurou uma proposta:

— Claro que não, senhor Kennedy. Para isso aqui estou eu e... Se quiser podemos levá-lo ao «rancho» e depois...

— Bolas! Não é fácil que ela peça o casamento!

Richard Kennedy abriu muito os olhos diante do espanto de Curley. Ao dar por isso, explodiu, fechando-os:

— Imbecil! És um imundo imbecil, Curley! Disse-te que não era por aí.

E Kennedy ria como nunca rira, no seu riso de Hena. Depois, continuou a falar:

— Põe-te a mexer e que não a percas de vista! É a tua pele que está em jogo, Cur...! Esperar-te-ei aqui, até amanhã, se for preciso.

O pistoleiro pôs-se de pé, e, dando uma volta, saiu sem replicar.

Ao ficar só, Kennedy, pôs-se a pensar. Tinha acontecido o que julgara desde o princípio. Podia estar certo disso. Mac Gregor não era desses que beijavam uma rapariga simplesmente «por beijar». Tinha de estar verdadeiramente apaixonado. Maldito fosse um milhão de vezes.

Perante o assombro do taberneiro, que não estava bem dentro de si, desde que chegaram aquelas «gratas» visitas, riu novamente para acabar resmungando por entre dentes:

— Hás-de suar sangue, maldito Mac Gregor! Aposto a minha pele em como suarás. Porque a matarei primeiro... Depois tratarei de ti.

E soltou uma estridente gargalhada pela terceira vez. É que Richard Kennedy acabava de conceber naquele momento liquidar primeiramente Marah Stivens, simplesmente pelo facto de que Mac Gregor a tinha beijado. Depois, enviar o seu cadáver para o «Três Barras».

Sabia e gozava de antemão com o sofrimento que causaria àquele homem a quem odiava de morte desde tempos. Depois, quando o viesse procurar, e porque o faria, disso tinha a certeza, meter-lhe-ia uma bala no coração. Fá-lo-ia com inteira tranquilidade, sem que lhe pesasse a consciência.

Richard Kennedy sorriu perante aqueles pensamentos, e muito mais ao ponderar o que significava para ele a impunidade que gozava diante das armas de Mac Gregor. Ele nunca dispararia contra a sua pessoa. Era demasiado idiota para o fazer.

Como se os seus pensamentos fossem uma malévola conjura, os pequenos guarda-ventos abriram-se para dar passagem a dois dos seus pistoleiros.

Pequeno e atarracado o primeiro. Com dois impressionantes «Colt» 45 em fundas baixas. Cabelo cor de açafrão e olhos cinzentos, de olhar duro. Dava pelo nome de Mike Genter.

Alto e magro o segundo. Com um 38 na funda presa à coxa por fina e entrançada correia. Cabelo negro com tonalidade de corvo, olhos brilhantes com a mesma cor. O seu nome figurava em muitos pasquins fora do território do Colorado. Falar de Bill Carberry era a mesma coisa que invocar o diabo.

Eram dois dos cinco que restavam! Dois, que juntamente com Curley, contanto que este levasse a Kennedy notícias que esperava, iriam culminar a jogada mestra do cacique.

Sem falar, ambos se sentaram em frente dele Um momento mais tarde, estes bebiam «whisky» enquanto Kennedy lançava olhares de impaciência para a porta por onde havia de aparecer Curley Estava a fazer-se tarde!

 

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