Apenas despontou o dia, Bruce Lakeviw saltou da cama. Formosos pensamentos enchiam-lhe o cérebro. Tinha chegado o momento de dar novo rumo á sua vida. Dispunha de um bom punhado de dólares e naquela tarde teria ainda mais. Uma pequena fortuna que lhe permitiria viver com abastança. Mas tinha de terminar o seu trabalho.
Sorriu, satisfeito, acabou de se vestir e saiu. Nas ruas reinava uma febril agitação, mau grado o dia estar a começar. Todos se dispunham a retomar a batida para encontrar a "Loira Jane” e os salvadores.
Pouco depois do melo dia, Bruce montou a cavalo e meteu por um caminho estreito em direção às montanhas distantes. Depois, tomou um caminho ainda mais apertado, que se via logo ser pouco utilizado, e ao trote da montada chegou a uma pequena e rústica cabana.
Deteve o cavalo junto à porta e desmontou. Jane encontrava-se estendida no solo, com as mãos e os pés amarrados por uma grossa corda.
— Bruce, foste tu que me trouxeste para aqui?
O outro acenou com a cabeça, afirmativamente. Ela irritou-se.
— Porque o fizeste?
A resposta tardou. Bruce queria assustar a jovem. Por fim, disse:
— Porque vou matar-te.
Um mundo de incredulidade e de assombro estampou-se no rosto de Jane, que quis falar e não pôde. Bruce continuou sorrindo, como se a situação lhe agradasse.
— Alguém me pagou para isso -- acrescentou com uma calma arrepiante.
Numa fração de segundo, ela deu-se conta da situação terrível, implacável em que se encontrava. Como era possível que Bruce Lakeviw, o seu amigo, se prestasse a realizar tão infame trabalho? Parecendo adivinhar os seus pensamentos, ele explicou, com um sorriso cínico:
— Quando me contaste a história do que sucedeu com Traller, vi que tinha oportunidade de ganhar bom dinheiro. E assim foi. Traller paga-me cinco mil dólares por apertar o gatilho do meu "Colt".
— Canalha!
Bruce fez de conta que não ouvira.
— Estou cansado de viver mal, minha bela. E a tua morte muda, por completo, a minha vida. Passarei a ser um homem rico. Ainda cheguei a hesitar — confessou — porque sempre gostei de ti, desde a primeira vez que te vi.
Penosamente, Jane concordou. Sabia que Bruce estava enamorado dela. Percebia, agora, que o seu amor não era outra coisa senão desejo, o mesmo desejo que muitos outros tinham sentido. De contrário, não se teria prestado àquilo. O miserável continuava a desvendar o seu plano.
— Quando soube da tua fuga, receei que tudo tivesse ido por água abaixo. Mas quando deitaram fogo ao "saloon", compreendi que ainda tinha uma possibilidade.
— O meu dinheiro...
— Exato. Necessitava de uma razão para te procurar, sem desconfiares.
— E os dois mil dólares de Tony Madigan?
— Supus que eram as tuas economias. Se o soubesse, tinha ficado com ele. Claro que, agora, ficarei com o dinheiro todo.
Jane relembrou o momento em que Dave e "Niño" os tinham deixado sós. Bruce fingira ouvir um ruído e afastara-se por entre os rochedos, desaparecendo da sua vista.
Momentos mais tarde, chamou-a, e ela, sem recear, foi procurá-lo. Então, de repente, ouviu um ruído nas suas costas e quis voltar-se, mas antes de o poder fazer, agrediram--na com violência. Quando voltou a si, estava amarrada, e estendida na cabana.
Entretanto, a atitude de Bruce modificara-se. Agora já não falava; olhava fixamente, com olhar incendiado por uma paixão criminosa. Lentamente, sem deixar de olhar para ela, tirou o cinturão com o "Colt", e deitou-o para cima da tosca mesa. Jane olhou-o, com atenção, e estremeceu. Era fácil ler no rosto do miserável os pensamentos que o dominavam.
— Que vais fazer? — inquiriu, com voz rouca.
Ele riu, mostrando os dentes sujos.
— Não o adivinhas, formosura? Já te disse que gostei de ti desde o primeiro dia em que te vi. Vou demonstrá-lo, antes de te matar.
Jane quis pôr-se em pé, mas caiu de joelhos. Um soluço escapou-se-lhe dos lábios.
— Dá-me um tiro, mas não me toques. Metes-me nojo.
— Isso é o que menos me importa — redarguiu Bruce, avançando e lançando-se sobre ela, como uma fera.
Mas a rapariga estava preparada para se defender, com a força e a coragem do desespero. Quando, ele tentava deitar-se sobre ela, projetou a cabeça, com toda a força de que dispunha, contra o baixo ventre do miserável, o qual, com um grito de dor, levou as mãos àquela parte do corpo.
— Maldita! — exclamou, arquejando.
Jane transfigurara-se. Lutava para evitar os torpes propósitos do homem, como já tivera de fazer outras vezes. Ainda que, no íntimo, se considerasse, de antemão, derrotada, queria exacerbar a ira de Bruce de tal forma que ele a matasse, enraivecido, antes de satisfazer os seus vis intentos.
Rolou sobre si, sem se importar que as saias subissem muito acima do joelho, pondo em relevo a perfeita linha das suas pernas.
Por um instante, pôde ver o olhar luxurioso do homem, gozando o espetáculo. Quando se achou debaixo da mesa, deu nesta um violento empurrão com os pés. A sua intenção era ver se fazia cair o revólver e se podia apanhá-lo, para se defender, ainda que tivesse as mãos amarradas.
O cinturão foi cair junto à porta e para ali rolou a rapariga, tentando apanhá-lo. Mas Bruce já se tinha posto em pé e corria para ela. Quando a mão direita da jovem se fechava em torno da coronha do Bruce pisou-a, violentamente, com o tacão.
— Larga! — grunhiu.
Jane soltou um gemido de dor e ficou quieta, rígida, à espera dum balázio que lhe acabasse com a vida.
Mas não se ouviu qualquer detonação.
Bruce guardou o revólver entre as calças e a camisa, e, depois, inclinou-se sobre a rapariga que estremeceu ao sentir o contacto das mãos do homem no seu corpo.
— Não me toques!
Ele riu grosseiramente.
— Não podes impedir-me, formosura.
— Gritarei!
— Ninguém te ouvirá!
Tomou-a pela cintura e pô-la de pé, apoiando-a contra a parede.
— Não sejas arisca!
Aproximou a cara do rosto de Jane. Esta, antes que ele chegasse a tocar-lhe, cuspiu-lhe na face. Bruce recuou uns passos, enquanto limpava a cara com a manga da camisa. De novo, avançou para ela.
— E inútil resistires. Sou mais forte. Farei contigo o que quiser...
Deitou-se por cima dela, tentando beijá-la. A rapariga ocultou o rosto, e a luta prolongou-se por momentos. O miserável arquejava de cansaço, e ela, até então firme, sentia que as forças começavam a faltar-lhe.
— Já és minha — bradou o miserável.
Subitamente, uma mão de ferro caiu-lhe sobre o ombro. Em seguida, sentiu-se atirado para trás, com uma força irresistível.
— Sapo imundo! — repetiu o jovem enquanto os seus punhos lhe martelavam o corpo de forma contundente, atirando socos com uma velocidade incrível e de todos os ângulos.
Os minutos seguintes foram de autêntico massacre. Por fim, Dave aplicou-lhe uma série de golpes brutais ao estômago.
Bruce soltou um grito de dor e dobrou-se para a frente, caindo. Dave acudiu a desamarrar Jane. Os formosos olhos da rapariga refletiam admiração e agradecimento. Estivera perto do fim. Só um milagre a salvara. E esse milagre chamava-se Dave...
Quando este acabou de desamarrá-la, ela pôs-se em pé, mas teve de se apoiar ao rapaz, as pernas se dobravam. Depois, o jovem conduziu Jane para fora da cabana.
— Vou dar-lhe uma boa notícia: "Niño" e eu estamos convencidos da sua inocência. Sabemos que não matou Tony Madigan.
— Que poderei eu fazer para lhes pagar o que têm feito por mim? — disse Jane.
Havia lágrimas nos seus olhos, mas a vida começara a parecer-lhe formosa.
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