A "Loira" ouviu um ruído que se produzia cá fora e aguardou com os nervos à flor da pele. O ruído era quase impercetível. Sabia que estava jogando a vida e o... futuro. Dave atraía-a. Era um homem de são carácter.
De repente, conteve a respiração. Depois olhou atentamente, com surpresa, mas sem receio, o homem que acabara de entrar na cabana e que lhe apontava um "Colt".
— O senhor? — balbuciou.
— Surpreende-te?
A rapariga sabia, que tinha de fazer o possível de forma a ganhar tempo.
— Porque o matou?
Larry Stone sorriu, pela primeira vez, desde que chegara. Um sorriso que lhe distendeu a boca, desagradavelmente.
— O rancho de meu tio é magnifico, não te parece? Tony nunca saberia governá-lo. Ao contrário eu convertê-lo-ei no melhor rancho da região. Sou, agora, o único herdeiro de Aaron Madigan. — E continuou gozando a estupefação da rapariga. — Entrei no escritório quando Tony se dispunha a roubar dois mil dólares e tratei de dissuadi-lo. Respondeu-me que eram para ti, pois queria que fosses dele, fosse por que preço fosse. Estava fora de si, alucinado pela paixão. E agrediu-me, então, deixando-me quase inconsciente. — Parou para respirar com força. — Naquele momento pensei que era uma boa ocasião para me desembaraçar de Tony, aproveitando o roubo. Saí do escritório, sem que ninguém me tivesse visto e galopei em direção a Candelaria. Dispunha de pouco tempo para fazer o que queria. Por sorte, quando cheguei ao teu quarto, escalando a parte traseira do "saloon", Tony não se apercebeu de nada... Foi, então, que pensei em converter-te em culpada da sua morte.
— O revólver estava em cima da mesa — recordou ela.
Larry Stone moveu a cabeça afirmativamente.
— Tony só deu pela minha presença, quando eu já empunhava a arma. Disparei através de uma almofada e voltei a sair pela janela, dirigindo-me, a cavalo, imediatamente, para o rancho. Ninguém tinha entrada ainda no escritório durante a minha ausência, de modo que aguardei o regresso de meu tio simulando que continuava desmaiado.
— O truque deu resultado...
— Correu tudo pelo melhor. Tu entraste no quarto, logo a seguir ao tiro. Como se isso não fosse suficiente, pegaste no revólver que eu tinha deixado onde estava. Assim te surpreenderam os fregueses. Era mais do que eu podia desejar...
Jane, sem perder de vista a mão que segurava o "Colt", murmurou:
— Houve um pormenor que lhe escapou. Tony não morreu logo e ainda pôde dizer-me o nome do assassino...
—Agora não podes dizê-lo a ninguém. O teu amigo equivocou-se ao visitar meu tio. Escutei o que ele lhe disse e vim à tua procura. Quando eles chegarem, encontrarão o teu cadáver e tudo estará arrumado, de vez.
Jane fez um gesto de resignação.
— E provável que eu morra. Mas o senhor não poderá gozar a posse do rancho que pretendeu ao matar o seu próprio primo.
— Não sejas louca! Só tu podes transtornar os meus propósitos. Mas vou matar-te, e tudo fica resolvido. Agora, não estão aqui os teus amigos para te proteger. Estamos sós, já percebeste?
— Sim, percebi. Mas eles não me deixaram nesta cabana.
Proferiu estas palavras com tranquilidade, sem deixar transparecer o medo de que se achava possuída. Larry Stone olhou-a, surpreendido, estranhando que se mostrasse tão tranquila, defrontando a
Apontou-lhe a arma e disse de lábios quase cerrados:
— Chegou a tua hora!
Contudo, o seu olhar teve de se desviar prontamente para a janela da cabana, onde aparecera o rosto de "Niño" que lhe apontava firmemente o seu "Colt", bradando:
— Larga o "canhão", cobarde, ou ponho-te na posição horizontal, num instante!
A ameaça do mexicano precipitou os acontecimentos; pois Larry Stone não se considerava perdido pelo menos enquanto tivesse uma arma na mão. De súbito, atirou-se para o lado, ao mesmo tempo que disparava. As duas detonações pareceram uma só e o rosto de "Niño" desapareceu da janela. Larry Stone verificou que se encontrava ileso. Pôs-se em pé de um salto, abriu a porta e atirou-se para fora.
A silhueta de "Niño" recortou-se na esquina da cabana. Agora não iria cometer a estupidez prevenir o adversário. O seu "Colt" estrondeou por duas vezes. Larry Stone voltou-se para lutar, mas fê-lo no momento em que os dois tiros lhe estoiravam n peito. Um grito horroroso soltou-se-lhe dos lábios. Quis endireitar a arma, afinar a pontaria...
Só conseguiu dar dois passos, cambaleante antes de cair de bruços sobre a terra agreste, onde ficou estranhamente encolhido. "Niño" guardou o revólver e acercou-se do corpo de Larry Stone. Detrás da cabana saíram o xerife e Jerry, o homem da cocheira pública. Ao longe, galopando furiosamente, dois cavaleiros acercavam-se do local.
Percy Cadwell avançou para o corpo de Larry Stone, junto do qual se encontrava "Niño". Jane apareceu à porta da cabana, pálida, olhando para o horizonte.
Dave foi o primeiro a chegar junto do grupo. Saltou do cavalo e, olhando o corpo, disse:
— Aqui tem o assassino de seu filho, senhor Madigan.
O xerife adiantou-se.
— Ouvi tudo, Madigan. E Jerry também. Larry matou o seu filho para ficar com o rancho.
Dave viu Jane e dirigiu-se, lentamente, par a ela. Durante um momento, olharam-se em silêncio. Depois, repentinamente, ela refugiou-se entre os seus braços. Os lábios de Jane tremiam.
Ele beijou-a suavemente.
O xerife, Madigan e Jerry partiram, finalmente. Os três jovens ficaram sós. "Niño", então disse: — Bom, amigos, porque não se beijam? Ou pensam que não vi?
Jane sorriu, enquanto Dave soltava uma gargalhada.
— És um invejoso, "Niño" — disse ela —. Mas, também tenho um prémio para ti. E antes que ele dissesse qualquer coisa, deitou-lhe os braços ao pescoço e deu-lhe um beijo na face.
"Niño" fez-se encarnado, enquanto Dave e Jane riam.
— Bom — murmurou por fim o mexicano, —vou buscar os cavalos.
E desapareceu por detrás da cabana. Então, Dave voltou a beijá-la, amorosamente.
FIM
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