Mike Sperry e Eric Grant chegaram ao «rancho» de Walsh naquela manhã, ao galope furioso das suas montadas. Ao chegar à cerca meio derrubada, Sperry, que vinha em primeiro lugar, puxou violentamente as rédeas, detendo bruscamente o cavalo. Voltou o rosto sorridente e coberto de suor e gritou:
— Então, quem é que chegou primeiro?
— Maldição! Se o teu cavalo não leva nada em cima, que é que querias?
James andava a percorrer as terras em companhia de Herbert Walsh e no «rancho» apenas haviam ficado Widmar a cuidar das duas mulheres e do garoto. O velho, ao ver aparecer os dois cavaleiros, empunhou a espingarda, disposto a defender os habitantes da casa, apesar de suspeitar da identidade dos visitantes.
—E este o «rancho» de James Lawer? — perguntou Mike, detendo-se junto ao alpendre.
— De Lawer e meu — informou Widmar.
— Onde está Lawer? — inquiriu novamente Mike.
— Anda por aí. Que é que lhe querem?
— Somos os homens que ele contratou ontem. Eu chamo-me Eric Grant e este que vem comigo é Mike Sperry. Ele não lhe falou de nós? — perguntou Eric, atirando o chapéu para a nuca.
— Sim, mas os ares andam muito agitados e uma pessoa não pode facilitar. Desçam e venham comigo —ordenou o velho.
Quando James chegou a casa algum tempo depois, os novos empregados encontravam-se convenientemente instalados. O rapaz não pretendeu ocultar-lhes a situação e, com a sua franqueza habitual, informou-os:
— As coisas pioraram muito desde ontem, amigos.
James relatou aos dois homens o que sucedera no dia anterior, com a entrada de Cameron Quinn no bando de Hunter, e as consequências que tal união podia acarretar. Quando terminou, disse:
— Ainda estão a tempo de voltar atrás. Se o fizerem, não lhes levo a mal. Eric proferiu uma curta imprecação e imediatamente, ao descobrir Agnes, desculpou-se, corando ligeiramente. Contudo, exclamou, irritado com as insinuações do rapaz:
— E a segunda vez que nos dá a entender que temos medo, senhor Lawer. E não consinto que faça essas suposições, apesar de ser patrão aqui! Não volte a fazer comentários dessa espécie! — gritou, colérico. E, depois de uma pausa, prosseguiu: — Nós ficamos, se é isso que lhe interessa saber.
— Desculpe, Eric. Não tive nunca a intenção de os ofender. Mas, não se preocupe; não voltará a suceder.
— Quando é que começamos a trabalhar, senhor Lawer? — perguntou Mike, tentando mudar o tema da conversa.
— Começa tu, se quiseres! — atalhou o corpulento Eric. — Eu não vim aqui para trabalhar. Quero que este ponto fique bem claro desde início.
— Não se apoquente, Eric — assegurou James. — Esse ponto, como você diz, ficou esclarecido ontem. Você ficará todo o dia sentado no alpendre. Que lhe parece a ideia?
— Magnífica, senhor Lawer! — exclamou o grandalhão, soltando uma estrepitosa gargalhada. — Isso, sim, é que é um bom emprego.
Os circunstantes, ao ouvirem a última palavra de Eric, sorriram, com indulgência.
— Bem, Eric, pode já começar as... suas funções. Nós, entretanto, vamos reparar a cerca e os arredores da casa.
Um pouco mais tarde, os quatro homens trabalhavam afanosamente na reconstrução da casa. A cerca, os estábulos, as cavalariças, tudo foi inspecionado e restaurado convenientemente. Eric Grant, entretanto, sentado nos degraus do alpendre, distraía-se a aparar um pequeno tronco com urna navalha afiada.
Agnes, da porta de casa, contemplou a cena e o contraste que formavam Eric, ali, comodamente sentado, e os outros a trabalhar como uns mouros no alindamento das instalações.
A sua primeira intenção foi recriminar a Eric a sua conduta, mas compreendeu que nada conseguiria dele a não ser, possivelmente, irritá-lo. De repente, teve uma ideia genial e um sorriso travesso iluminou o seu rosto formoso. Andando devagar, aproximou-se de Eric e sentou-se junto dele, no degrau de cima.
— Você gosta de trabalhos de talha, Eric? — perguntou Agnes, sorrindo graciosamente.
— Ora! Não percebo uma palavra disso. Simplesmente, prefiro entreter-me com a navalha do que suar as estopinhas — disse o homem, com ares importantes'. ' — Temos de entender a vida, menina Agnes.
— Deixa-me ver esse tronquito?
Eric olhou-a, surpreendido, mas, encolhendo os ombros, disse:
— Está bem, mas garanto-lhe que não lhe encontrará nada de interessante.
— Oh! É formidável! Creio que, com a navalha, seria capaz de fazer tudo quanto quisesse, Eric. Poderá fazer-me um favor? — perguntou a rapariga, mostrando duas fieiras de dentes alvíssimos no seu subjugante sorriso.
Eric não foi capaz de resistir e exclamou:
— Claro que sim! O que quiser, menina Agnes.
— Dá-me a sua palavra? — perguntou ela, em tom insinuante.
— Eric Grant só tem uma palavra. Disse que não trabalharia e... se o favor que me pede não se refere a trabalhar como os outros, conte com ele.
— Quero que me faça uma coisa parecida com o que estava a fazer com a navalha e o tronquinho. Está bem?
— Tem a minha palavra — respondeu Eric. — Assim é que os homens devem ser, Eric: fiéis à sua, palavra.
Agnes Walsh desapareceu no interior da casa antes que Eric se apercebesse disso. Quando regressou passados uns minutos, trazia uma luzidia panela e um cesto cheio de batatas.
— É apenas descascar estas batatitas, Eric. 'É coisa pouca, como vê — disse a jovem, com o seu cativante olhar. — É como se estivesse a trabalhar um ramito, não verdade?
— Descascar batatas! — exclamou o gigantesco Eric, pretendendo endireitar-se, mas deixando logo cair o seu volumoso corpo contra a coluna do alpendre.
— Bem, se não quer...
— Hum!... Mas... menina Agnes, eu... não sei, mas... Eu nunca descasquei batatas! — protestou o homem, tentando livrar-se do encargo.
— Não quer ajudar-me, não é? Então, para que faz gala da sua palavra? Para não a cumprir? — objetou Agnes, aparentemente zangada, mas, no íntimo, satisfeita pelo mau bocado que estava a fazer passar àquele indivíduo. — Está bem, já sei o que se pode esperar de si e da sua palavra.
Pegou novamente no cabaz e na panela e dispôs-se a entrar em casa. Não chegou a fazê-lo porque Eric, num inesperado arranco, exclamou:
— Alto! A palavra é a palavra! Traga cá isso... Descascarei as batatas, nem que sirva de escárnio a toda a gente!
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