O sol caia sobre a povoação como um banho de fogo.
Fazia um calor infernal.
Estava-se a quinze de Agosto. Num estado tão ao norte como Idaho, o mês de Agosto costuma ser tórrido.
Preston era um povoado totalmente aberto.
O frio e o calor caiam sobre ele como a maldição de Deus sobre Sodoma e Gomorra. Ken Clayton caminhou ao longo do passeio com o chapéu sobre os olhos, a agitar de um lado para o outro os agressivos «38» que pendiam do cinturão.
Vestira uma camisa lavada e escovara cuidadosamente as calças e as botas. Não se parecia em nada com o cavaleiro poeirento que entrara na povoação meia hora antes, exceto na estatura. Uma rua transversal cortava a Main Street.
Resolveu seguir por ela e virou a esquina com as suas largas e despreocupadas passadas. O encontrão foi maiúsculo. Ouviu o ruído de embrulhos a caírem no chão, uma assustada exclamação feminina de medo e surpresa e, sem dar por isso, encontrou-se com uma rapariga nos braços.
Ouviu-a dizer asperamente:
— Largue-me ou solto-me eu, seu bruto!
Noutra ocasião, teria gostado de ver como se soltaria ela. Mas naquele momento encontrava-se tão aturdido que a largou imediatamente e murmurou uma desculpa:
—Perdoe, «miss», eu... eu creio que ia um pouco distraído.
Ela baixara-se para apanhar os embrulhos. Ken baixou-se junto dela para a ajudar e viu perto do seu rosto juvenil, vermelho de indignação, de olhos relampejantes e lábios ligeiramente grossos. A jovem virou-se furiosa quando lhe estendeu um dos embrulhos.
— Retire-se!
Não teria mais de vinte anos. Para os trinta e quatro de Ken Clayton foi como um sopro de fresca brisa depois de prolongada travessia do deserto. Sorriu. Disse:
—Lamento, «miss». Já lhe disse que foi sem querer.
— Pois ainda... ainda...
Estava deveras indignada. Ken sorriu de novo. Isso diminuiu a dureza das suas feições e tirou-lhe até alguns anos de cima.
— Se não a segurasse teria dado um trambolhão mais que regular. — E conciliador: — Vamos, repito-lhe que foi sem querer. Não podia adivinhar que dobraria a esquina. Além disso, não sou um caçador de mulheres novas. Palavra.
Disse isto com tal entoação que ela o acreditou. Viu-a esboçar um sorriso tímido.
— Pode ser uma comédia, senhor desconhecido, mas acredito-o. Ajude-me a levar os embrulhos até à minha casa.
— Como castigo por tê-los deitado ao chão?
— Admitamos que sim.
Não se tratava de capricho feminino. Nos olhos da rapariga brilhavam mil chispazinhas travessas. Parecia uma garota que tramasse uma diabrura.
Ken ajudou-a a apanhar o resto dos embrulhos e ficou com os maiores e mais pesados. Começaram a caminhar pelo passeio, lado a lado. Houve um • instante de silêncio. Quebrou-o a rapariga para dizer:
— Chamo-me Milly.
— Milly?
— Emily, mas chamam-me assim desde pequena. E você?
— Ken.
— Mais nada?
— Ken Clayton. É suficiente. Noutro tempo chamei-me «Beeteia». Mas isso foi há muitos anos.
Ela fitava-o interessada.
— «Beeteia» é um nome índio.
— Criei-me com os «cherokees», na Florida. Próximo de Tallahasse.
— Ah!
O sol marcava círculos redondos debaixo deles, como único rasto de sombra. Os portais das casas encontravam-se mergulhados em agradável penumbra. Fazia um calor infernal. De súbito, Milly perguntou:
— Ken, que veio fazer a Prestou?
Ken sobressaltou-se. Diabo de rapariga!
Fazia um calor infernal.
Estava-se a quinze de Agosto. Num estado tão ao norte como Idaho, o mês de Agosto costuma ser tórrido.
Preston era um povoado totalmente aberto.
O frio e o calor caiam sobre ele como a maldição de Deus sobre Sodoma e Gomorra. Ken Clayton caminhou ao longo do passeio com o chapéu sobre os olhos, a agitar de um lado para o outro os agressivos «38» que pendiam do cinturão.
Vestira uma camisa lavada e escovara cuidadosamente as calças e as botas. Não se parecia em nada com o cavaleiro poeirento que entrara na povoação meia hora antes, exceto na estatura. Uma rua transversal cortava a Main Street.
Resolveu seguir por ela e virou a esquina com as suas largas e despreocupadas passadas. O encontrão foi maiúsculo. Ouviu o ruído de embrulhos a caírem no chão, uma assustada exclamação feminina de medo e surpresa e, sem dar por isso, encontrou-se com uma rapariga nos braços.
Ouviu-a dizer asperamente:
— Largue-me ou solto-me eu, seu bruto!
Noutra ocasião, teria gostado de ver como se soltaria ela. Mas naquele momento encontrava-se tão aturdido que a largou imediatamente e murmurou uma desculpa:
—Perdoe, «miss», eu... eu creio que ia um pouco distraído.
Ela baixara-se para apanhar os embrulhos. Ken baixou-se junto dela para a ajudar e viu perto do seu rosto juvenil, vermelho de indignação, de olhos relampejantes e lábios ligeiramente grossos. A jovem virou-se furiosa quando lhe estendeu um dos embrulhos.
— Retire-se!
Não teria mais de vinte anos. Para os trinta e quatro de Ken Clayton foi como um sopro de fresca brisa depois de prolongada travessia do deserto. Sorriu. Disse:
—Lamento, «miss». Já lhe disse que foi sem querer.
— Pois ainda... ainda...
Estava deveras indignada. Ken sorriu de novo. Isso diminuiu a dureza das suas feições e tirou-lhe até alguns anos de cima.
— Se não a segurasse teria dado um trambolhão mais que regular. — E conciliador: — Vamos, repito-lhe que foi sem querer. Não podia adivinhar que dobraria a esquina. Além disso, não sou um caçador de mulheres novas. Palavra.
Disse isto com tal entoação que ela o acreditou. Viu-a esboçar um sorriso tímido.
— Pode ser uma comédia, senhor desconhecido, mas acredito-o. Ajude-me a levar os embrulhos até à minha casa.
— Como castigo por tê-los deitado ao chão?
— Admitamos que sim.
Não se tratava de capricho feminino. Nos olhos da rapariga brilhavam mil chispazinhas travessas. Parecia uma garota que tramasse uma diabrura.
Ken ajudou-a a apanhar o resto dos embrulhos e ficou com os maiores e mais pesados. Começaram a caminhar pelo passeio, lado a lado. Houve um • instante de silêncio. Quebrou-o a rapariga para dizer:
— Chamo-me Milly.
— Milly?
— Emily, mas chamam-me assim desde pequena. E você?
— Ken.
— Mais nada?
— Ken Clayton. É suficiente. Noutro tempo chamei-me «Beeteia». Mas isso foi há muitos anos.
Ela fitava-o interessada.
— «Beeteia» é um nome índio.
— Criei-me com os «cherokees», na Florida. Próximo de Tallahasse.
— Ah!
O sol marcava círculos redondos debaixo deles, como único rasto de sombra. Os portais das casas encontravam-se mergulhados em agradável penumbra. Fazia um calor infernal. De súbito, Milly perguntou:
— Ken, que veio fazer a Prestou?
Ken sobressaltou-se. Diabo de rapariga!
Mas disse:
— Os homens vão sempre a algum lado por uma causa determinada. Apenas, com frequência, não querem confessar qual é.
— E você?
— Toda a Preston sabe já porque vim: matei Akasheeta Kis-Klisay. Só vim por isso e, agora que cumpri a minha missão, partirei de novo.
— Mas você não o queria matar.
Ken semicerrou os olhos. Fitou-a. As pupilas femininas eram muito mais profundas do que pareciam à primeira vista. Num simples momento ela parecia ter adivinhado toda a história. —Desejo esquecer isso, Milly. Não me pergunte mais nada, por favor. Ela guardou silêncio e desviou a vista para outro lado. Ken agradeceu-lhe do fundo do coração. Poucos minutos mais tarde, ela deteve-se diante de um estabelecimento. Havia uma tabuleta por cima da entrada: «Larh Store». (Armazém Larh). Virou-se para a rapariga.
— Você chama-se Emily Larh?
— Bur Larh é meu pai. Temos este armazém há alguns anos. Chegámos quando Preston não passava de um amontoado de casas sem importância. Então vivíamos tranquilos. As coisas complicaram-se e...
Deixou a frase no ar. Enquanto ela tirava uma chave e a metia na fechadura da porta, Ken perguntou:
— Gosta de viver em Preston? — Dantes era uma terra bonita. Mas agora não se pode sair sozinha à rua sem perigo de que algum pistoleiro dos muitos que andam por aí tente qualquer coisa. Os próprios irmãos Scott...
— Que se passa com os Scott?
Milly encolheu os ombros.
— Bom, talvez não os conheça. São três pistoleiros muito famosos que se dedicam a semear o terror na povoação. Aparentemente não trabalham para ninguém, mas meu pai diz que têm de estar a soldo de alguém dos dois criadores de gado que disputam a posse de Preston. Como lhe dizia, esses três dedicam-se a dar o exemplo. Lionel, o mais novo dos irmãos, jurou que casaria comigo, quer eu queira, quer não.
—E seu pai, que diz a isso?
Milly encolheu os ombros e os seus olhos puseram-se tristes.
— Meu pai não sabe de nada. Não lho quiseram dizer, Ken. Seria preciso um pistoleiro para os enfrentar... e ninguém se atreve a tanto. Se meu pai se lhes opusesse, matá-lo-iam como a muitos outros.
Ken estava a interessar-se pelo caso. O rosto suave, doce, ingénuo da rapariga começava a impressioná-lo mais do que desejaria.
— Ninguém se atreve a ser xerife, Milly?
— Tenho rezado muitas vezes para que chegue um verdadeiro homem e meta as coisas na ordem, mas nunca se produziu o milagre. Todos têm demasiado medo para isso. — Tirou das mãos masculinas os últimos embrulhos, abriu a porta e virou-se um momento para o fitar com um longo e triste sorriso. -- Obrigada pela companhia e pela conversa, Ken Clayton. E não me ligue importância. Meu pai diz que ainda sou uma garota.
Ken inclinou-se para ela. Não podia estender-lhe a mão porque a jovem tinha as mãos ocupadas com embrulhos, mas apertou-lhe um braço afetuosamente sem que Milly lho impedisse.
— Você é uma mulher encantadora, Milly. Palavra. — E com um sorriso: — Até à vista.
— Quer dizer que voltaremos a encontrar-nos?
— Talvez sim. Milly Larh ficou imóvel à porta até a alta e • elástica figura de Ken Clayton desaparecer na primeira esquina da rua. Então, suspirou profundamente e entrou, fechando a porta atrás de si.
— Os homens vão sempre a algum lado por uma causa determinada. Apenas, com frequência, não querem confessar qual é.
— E você?
— Toda a Preston sabe já porque vim: matei Akasheeta Kis-Klisay. Só vim por isso e, agora que cumpri a minha missão, partirei de novo.
— Mas você não o queria matar.
Ken semicerrou os olhos. Fitou-a. As pupilas femininas eram muito mais profundas do que pareciam à primeira vista. Num simples momento ela parecia ter adivinhado toda a história. —Desejo esquecer isso, Milly. Não me pergunte mais nada, por favor. Ela guardou silêncio e desviou a vista para outro lado. Ken agradeceu-lhe do fundo do coração. Poucos minutos mais tarde, ela deteve-se diante de um estabelecimento. Havia uma tabuleta por cima da entrada: «Larh Store». (Armazém Larh). Virou-se para a rapariga.
— Você chama-se Emily Larh?
— Bur Larh é meu pai. Temos este armazém há alguns anos. Chegámos quando Preston não passava de um amontoado de casas sem importância. Então vivíamos tranquilos. As coisas complicaram-se e...
Deixou a frase no ar. Enquanto ela tirava uma chave e a metia na fechadura da porta, Ken perguntou:
— Gosta de viver em Preston? — Dantes era uma terra bonita. Mas agora não se pode sair sozinha à rua sem perigo de que algum pistoleiro dos muitos que andam por aí tente qualquer coisa. Os próprios irmãos Scott...
— Que se passa com os Scott?
Milly encolheu os ombros.
— Bom, talvez não os conheça. São três pistoleiros muito famosos que se dedicam a semear o terror na povoação. Aparentemente não trabalham para ninguém, mas meu pai diz que têm de estar a soldo de alguém dos dois criadores de gado que disputam a posse de Preston. Como lhe dizia, esses três dedicam-se a dar o exemplo. Lionel, o mais novo dos irmãos, jurou que casaria comigo, quer eu queira, quer não.
—E seu pai, que diz a isso?
Milly encolheu os ombros e os seus olhos puseram-se tristes.
— Meu pai não sabe de nada. Não lho quiseram dizer, Ken. Seria preciso um pistoleiro para os enfrentar... e ninguém se atreve a tanto. Se meu pai se lhes opusesse, matá-lo-iam como a muitos outros.
Ken estava a interessar-se pelo caso. O rosto suave, doce, ingénuo da rapariga começava a impressioná-lo mais do que desejaria.
— Ninguém se atreve a ser xerife, Milly?
— Tenho rezado muitas vezes para que chegue um verdadeiro homem e meta as coisas na ordem, mas nunca se produziu o milagre. Todos têm demasiado medo para isso. — Tirou das mãos masculinas os últimos embrulhos, abriu a porta e virou-se um momento para o fitar com um longo e triste sorriso. -- Obrigada pela companhia e pela conversa, Ken Clayton. E não me ligue importância. Meu pai diz que ainda sou uma garota.
Ken inclinou-se para ela. Não podia estender-lhe a mão porque a jovem tinha as mãos ocupadas com embrulhos, mas apertou-lhe um braço afetuosamente sem que Milly lho impedisse.
— Você é uma mulher encantadora, Milly. Palavra. — E com um sorriso: — Até à vista.
— Quer dizer que voltaremos a encontrar-nos?
— Talvez sim. Milly Larh ficou imóvel à porta até a alta e • elástica figura de Ken Clayton desaparecer na primeira esquina da rua. Então, suspirou profundamente e entrou, fechando a porta atrás de si.
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