Em três dias, Len Riester tinha perdido alguns quilos de peso. Depois da morte de Evan Felter, havia tido a oportunidade de ver o cadáver do juiz.
Um dos jogadores profissionais tinha-lhe dito que «Pecos» lhe havia destinado uma vala para o seu cadáver, e de cada vez que a porta do seu armazém se abria para dar passagem a um cliente, os nervos de Riester saltavam como cavalos com o freio nos dentes.
Sobre o balcão, tinha uma espingarda de dois canos e, numa prateleira, ao alcance da sua mão, havia deixado um revólver engatilhado.
Ira Holker continuava a procurar desesperadamente «Pecos» Dieter, Ronnie Denker e a filha de António Lanuza.
A morte do juiz tinha sido um duro golpe para Holker porque lhe complicava os planos. Já não poderia apoderar-se das terras e das nascentes protegido pela falsa Lei.
Por outro lado, Waltis era o encarregado da falsificação de documentos, e com a sua morte desapareciam as possibilidades de fazer crer a toda a gente que António lhe devia dinheiro. Holker estava furioso e a ira nublava-lhe o escasso entendimento. Apenas desejava acabar com os seus inimigos. Matá-los com a maior rapidez possível para poder continuar com os seus ambiciosos planos.
Len Riester estava a pensar na possibilidade de fugir de Desolação, mas receava encontrar-se com Dieter e Ronnie nos arredores da povoação. O armazenista estava amaldiçoando a hora em que teve a lembrança fatal de se aliar com Holker, Craige e os defuntos Bremer e Waltis para se apoderar de todas as terras de Desolação.
A porta do armazém abriu-se e um mexicano de meia idade aproximou-se do balcão. Os nervos de Riester retesaram-se como cordas de violino. Tinha cometido tantas canalhadas durante toda a sua vida que a visão de um único mexicano fazia-o tremer de medo.
Instintivamente, apoiou a mão direita sobre a espingarda. Ele não se deixaria assassinar como o juiz Waltis. Dispararia contra o primeiro que tentasse matá-lo.
— Olá... saudou o mexicano.
— Preciso de umas sementes iguais a umas que me venderam em Phoenix e...
Introduziu a mão sob a colorida manta e Riester deixou escapar um afogado grito de pânico. Aquele homem ia sacar uma arma para o matar! Com grande rapidez, levantou a espingarda e apoiou os dedos nos gatilhos. Uma dupla detonação ecoou no interior do armazém e o cheiro da pólvora estendeu-se por todo o ambiente. A cabeça do mexicano pareceu que saltava, arrancada brutalmente do seu pescoço. A força do chumbo lançou o homem contra uma das janelas e o peso do seu corpo partiu os vidros.
O mexicano morreu sem saber que o fazia. A última visão que teve do mundo foi o aterrado rosto de Riester... e nem sequer ouviu a dupla detonação que lhe causou a morte. Ficou estendido sobre as tábuas do pavimento e o seu sangue misturou-se com as sementes que ia mostrar ao seu assassino.
Nunca tinha pensado em sacar um revólver. Nem sequer estava armado.
Sem largar a fumegante espingarda, Riester contemplou fascinado a sua vitima e, quando a loja se encheu de curiosos, disse:
— Tentou matar-me... mas eu antecipei-me.
Os habitantes de Desolação estavam habituados a ver morrer homens atrás de homens e a morte de um inocente mexicano não lhes causou a menor impressão. Lentamente, foram saindo do armazém, enquanto Riester continuava atrás do balcão, com a espingarda entre as mãos e os olhos fitos no cadáver. Não reparou que dois homens, com os chapéus muito lançados para a testa, se deixavam ficar no interior do local, na parte mais escura.
— Por que motivo o assassinaste, Riester? — perguntou Dieter, empurrando o chapéu para a nuca e avançando para o balcão.
O armazenista saltou como se tivesse sido escoiceado por um cavalo. Apertou os gatilhos da espingarda, mas não ouviu nenhum disparo. Tinha-se esquecido de que estava descarregada. Deixou cair a arma e tentou empunhar o revólver que estava na prateleira. Quando as pontas dos seus dedos já roçavam a coronha, Dieter começou a apertar o gatilho do seu revólver.
Fez três disparos e os projéteis cravaram-se no peito de Riester, empurrando-o contra uma das prateleiras. O armazenista sentiu os impactos do chumbo e olhou aterrado para o seu inimigo. Abriu a boca e um rouco estertor escapou-se da sua garganta, ressequida pelo pânico. Os olhos nublaram-se-lhe e as suas pernas fraquejaram. Sentia o sangue quente a escorrer-lhe pelo peito, ventre e coxas. Levantou os braços e segurou-se à madeira da prateleira. Lentamente, como um odre que deixasse escapar o ar, foi-se encolhendo até que ficou enovelado ao pé da prateleira, com os olhos desmesuradamente abertos e as pernas dobradas por debaixo do corpo.
— Os assassinos devem ser enforcados... — disse Ronnie — ...mesmo que não o sejam na sala de jantar do «rancho» de Holker.
— De acordo. Acima com ele — respondeu Dieter, apanhando uma das muitas cordas que Riester tinha para vender.
Quando os primeiros curiosos entraram no armazém, encontraram o cadáver de Len Riester a executar uma dança macabra, com um nó corredio à volta do pescoço. Dieter e Ronnie haviam desaparecido e, naquele instante, galopavam para a cabana onde se encontrava Mercedes Lanuza.
Um dos homens que pôde ver o cadáver enforcado, foi Jess Craige. O terror fez-lhe tremer as pernas e teve de apoiar-se no balcão para não cair sobre o corpo sem vida do mexicano assassinado por Riester.
— Nunca vi fazer-se justiça com tanta rapidez —comentou um mexicano.
— Creio que chegou o mau tempo para Ira Holker e os seus cúmplices — acrescentou outro.
Jess também pensava o mesmo, e com passo hesitante abandonou o armazém. Naquele momento, não sentia nenhum interesse pelas terras e nascentes de Desolação. Apenas desejava conservar a vida. Lembrava-se do aviso que lhe haviam dado os jogadores que se tinham visto obrigados a enterrar os corpos dos Lanuza.
— Também haverá uma vala para mim... E «Pecos» Dieter é um homem de palavra — murmurou ao entrar no Banco.
O pânico tinha-se apoderado dele e, durante cinco dias, recusou-se a abandonar o seguro edifício do Banco. Nem o próprio Ira Holker conseguiu tirá-lo de ali.
— Matar-nos-á a todos... matar-nos-á a todos — repetia continuamente, como se não soubesse pronunciar outras palavras.
— És um maldito cobarde, Jess — cuspiu-lhe Holker.
— Sou... e quero continuar a viver. Podes ficar com tudo; já não quero nada.
— Esqueceste-te que também tomaste parte na morte dos Lanuza — lembrou-lhe o «rancheiro».
Craige não respondeu. Por sua desgraça, não o tinha esquecido, e aquela recordação tirava-lhe o sono e o apetite. Tinha a impressão de que, se não tivesse tornado parte no massacre, Dieter o deixaria tranquilo.
Passaram-se aqueles cinco dias sem que acontecesse nada de especial. A vida seguia o seu curso normal em Desolação. Holker e os seus pistoleiros ainda não tinham logrado encontrar o menor rasto dos dois homens e da rapariga. Parecia que a terra os tinha tragado.
E, no entanto, no cemitério estavam as tumbas de Felter, Waltis e Riester para demonstrar que a terra só tragava os mortos. Os nervos de Holker estavam a ponto de rebentar em mil pedaços. Era desesperante lutar contra umas sombras; e o que mais irritava o assassino era não saber para quem trabalhavam Dieter e Ronnie.
Depois de permanecer cinco dias no interior do Banco, Craige recuperou a sua calma e, aproveitando a escuridão, decidiu sair do edifício. Precisava de se barbear, de se lavar e de comer uma excelente refeição.
Durante aqueles cinco intermináveis dias apenas tinha bebido café e uísque em grandes quantidades. Abriu a porta do Banco e meteu a cabeça de fora para examinar a rua central da povoação; ao vê-la completamente deserta saiu do Banco.
Ia para fechar a porta quando uma corda rodeou o seu pescoço e um revólver se lhe apoiou nos rins.
— Boas noites, assassino — disse a voz irónica de Dieter.
Craige não podia falar porque a corda apertava-lhe a garganta com força. Naquele momento, compreendeu o que Eusébio devia ter sentido quando ele lhe colocou o nó corredio à volta do pescoço. Um brutal empurrão lançou-o para o interior do Banco e ouviu o ruído seco que a porta produziu ao fechar-se. Outro empurrão obrigou-o a sentar-se numa cadeira, mas a corda continuou a apertar-lhe a garganta.
Ronnie e Mercedes fecharam as janelas para que ninguém pudesse descobrir a sua presença no interior do edifício e, quando terminaram, juntaram-se a Dieter.
— Bem, Craige. Chegou a tua hora. Tens alguma coisa a dizer? — perguntou, retirando a corda.
O banqueiro passou as mãos pelo pescoço, onde havia ficado um sulco vermelho, e com os olhos cheios de terror olhou para Dieter.
— Tenho... dinheiro, muito dinheiro... no cofre... Será de vocês... se me deixarem... viver — tartamudeou.
— Para que queres viver? —perguntou Dieter ironicamente.
— Talvez para enforcar outros rapazes como meu irmão Eusébio. Ele matou-o — disse Mercedes.
Um gemido escapou-se dos lábios do banqueiro.
— És um assassino, Craige... e os assassinos merecem a forca. Nós, agora, somos a Lei em Desolação. Antes, foste-o tu e os teus cúmplices— continuou Dieter.
— Holker é o responsável por tudo... ameaçou-me de morte se não obedecesse às suas ordens! — disse Craige, entre dois gemidos.
— Não gosto de cobardes. preferível matá-lo já — comentou Ronnie.
— Tens razão, mas primeiro ele vai abrir-nos o cofre-forte para que possamos ficar com o dinheiro. Não vai precisar dele no inferno e os familiares do homem assassinado por Riester estão na miséria — disse Dieter.
Craige foi conduzido para o cofre-forte pelas mãos poderosas do jovem. Se Dieter o tivesse largado, o banqueiro teria tombado por terra.
— Todos os assassinos são cobardes — disse Ronnie, com asco.
— Cem mil dólares... parte dele é de Ira Holker... Dou-vo-lo se me deixarem viver! — gemeu Craige.
— Já o temos — respondeu Dieter, fazendo um sinal a Ronnie para que se apoderasse do dinheiro.
Em seguida, voltou a colocar o nó corredio à volta do pescoço do banqueiro e levantou os olhos para o tecto, procurando uma viga sólida que servisse para enforcar o cobarde assassino do jovem Eusébio. Encontrou-a e, com um movimento que já começava a tornar-se-lhe familiar, lançou a outra ponta da corda por cima dela.
Com a ajuda de Ronnie colocou Craige sobre uma mesa e, em seguida, atou a ponta à porta do cofre-forte.
— Tudo preparado. Temos apenas de tirar a mesa para que Jess Craige tenha aquilo que merece — disse.
O banqueiro suplicava e grossas lágrimas resvalavam--lhe pelas faces, mas ninguém fez caso dos seus lamentos.
— Lembra-te de Eusébio Lanuza. Ele não tinha cometido nenhum crime — disse Dieter, retirando a mesa.
O corpo de Craige contraiu-se e as suas pernas movimentaram-se no ar, como se procurasse um ponto de apoio. Mas não o encontrou. Quando os dois jovens e a rapariga abandonaram o Banco, o corpo de Jess Craige permanecia imóvel. Nunca mais voltaria a julgar que o assassínio era uma coisa divertida. Na realidade, o banqueiro nunca mais voltaria a julgar nada; estava morto.
— Resta apenas Ira Holker — disse Dieter, começando a enrolar um cigarro.
Não sentia quaisquer remorsos por ter acabado com o juiz Waltis, com Len Riester e com o cobarde Jess Craige. Pensava que quando a Lei não era capaz de fazer justiça, esta devia ser feita por homens como ele. Os três tinham sido uns frios assassinos, que apenas pensavam nos seus interesses, sem que a vida dos demais tivesse o menor valor.
Dieter estava convencido de que a morte dos três assassinos tinha sido um bem para todos os habitantes da povoação e que, graças ao desaparecimento de Waltis, Riester e Craige, muitos homens poderiam continuar a viver e a trabalhar.
— Se deixássemos Holker com vida as coisas continuariam na mesma — comentou Ronnie. — Ira Holker morrerá; é ele o principal responsável.
— Amanhã mesmo, mudar-nos-emos para o «rancho» de Mercedes e ficaremos nele. Tomaremos as nossas precauções porque Holker cairá sobre nós como um abutre faminto.
— Que vamos fazer com o dinheiro? — perguntou Mercedes.
— Entregá-lo-emos aos filhos do mexicano que morreu no armazém... e também uma boa soma a Guadalupe para que não tenha de continuar a limpar os quartos do «Bar Fortuna» — respondeu Dieter.
— Graças a ela, pudemos entrar no quarto de Loube — comentou a rapariga.
Montaram nos seus cavalos e dirigiram-se para a miserável casa onde habitavam os filhos do mexicano assassinado por Riester. Dieter entregou-lhes a maior parte do dinheiro que tinham tirado do cofre de Craige e os dois homens mostraram-se agradecidos.
— Pode contar connosco para o que for preciso, senhor... e tu também, Mercedes — disse Pedro, o mais velho dos dois irmãos.
— Talvez venha a precisar da vossa ajuda muito brevemente — disse Dieter.
— Acudiremos à sua chamada, senhor — disse Porfírio, o outro irmão.
— Desolação voltará a ser uma povoação tranquila — assegurou Dieter, ao subir para a sua montada.
Afastaram-se da pobre vivenda dos irmãos Pedro e Porfírio Mendoza. Ambos eram casados e tinham a seu cargo grande número de filhos e a sua velha mãe.
— Holker não tardará a morrer — comentou Porfírio, quando os três cavaleiros se perderam na escuridão da noite.
— Eu penso mesmo — murmurou Pedro. Os dois irmãos entraram na casa de adobe e, à luz de uma lamparina de azeite, começaram a contar o dinheiro.
Um dos jogadores profissionais tinha-lhe dito que «Pecos» lhe havia destinado uma vala para o seu cadáver, e de cada vez que a porta do seu armazém se abria para dar passagem a um cliente, os nervos de Riester saltavam como cavalos com o freio nos dentes.
Sobre o balcão, tinha uma espingarda de dois canos e, numa prateleira, ao alcance da sua mão, havia deixado um revólver engatilhado.
Ira Holker continuava a procurar desesperadamente «Pecos» Dieter, Ronnie Denker e a filha de António Lanuza.
A morte do juiz tinha sido um duro golpe para Holker porque lhe complicava os planos. Já não poderia apoderar-se das terras e das nascentes protegido pela falsa Lei.
Por outro lado, Waltis era o encarregado da falsificação de documentos, e com a sua morte desapareciam as possibilidades de fazer crer a toda a gente que António lhe devia dinheiro. Holker estava furioso e a ira nublava-lhe o escasso entendimento. Apenas desejava acabar com os seus inimigos. Matá-los com a maior rapidez possível para poder continuar com os seus ambiciosos planos.
Len Riester estava a pensar na possibilidade de fugir de Desolação, mas receava encontrar-se com Dieter e Ronnie nos arredores da povoação. O armazenista estava amaldiçoando a hora em que teve a lembrança fatal de se aliar com Holker, Craige e os defuntos Bremer e Waltis para se apoderar de todas as terras de Desolação.
A porta do armazém abriu-se e um mexicano de meia idade aproximou-se do balcão. Os nervos de Riester retesaram-se como cordas de violino. Tinha cometido tantas canalhadas durante toda a sua vida que a visão de um único mexicano fazia-o tremer de medo.
Instintivamente, apoiou a mão direita sobre a espingarda. Ele não se deixaria assassinar como o juiz Waltis. Dispararia contra o primeiro que tentasse matá-lo.
— Olá... saudou o mexicano.
— Preciso de umas sementes iguais a umas que me venderam em Phoenix e...
Introduziu a mão sob a colorida manta e Riester deixou escapar um afogado grito de pânico. Aquele homem ia sacar uma arma para o matar! Com grande rapidez, levantou a espingarda e apoiou os dedos nos gatilhos. Uma dupla detonação ecoou no interior do armazém e o cheiro da pólvora estendeu-se por todo o ambiente. A cabeça do mexicano pareceu que saltava, arrancada brutalmente do seu pescoço. A força do chumbo lançou o homem contra uma das janelas e o peso do seu corpo partiu os vidros.
O mexicano morreu sem saber que o fazia. A última visão que teve do mundo foi o aterrado rosto de Riester... e nem sequer ouviu a dupla detonação que lhe causou a morte. Ficou estendido sobre as tábuas do pavimento e o seu sangue misturou-se com as sementes que ia mostrar ao seu assassino.
Nunca tinha pensado em sacar um revólver. Nem sequer estava armado.
Sem largar a fumegante espingarda, Riester contemplou fascinado a sua vitima e, quando a loja se encheu de curiosos, disse:
— Tentou matar-me... mas eu antecipei-me.
Os habitantes de Desolação estavam habituados a ver morrer homens atrás de homens e a morte de um inocente mexicano não lhes causou a menor impressão. Lentamente, foram saindo do armazém, enquanto Riester continuava atrás do balcão, com a espingarda entre as mãos e os olhos fitos no cadáver. Não reparou que dois homens, com os chapéus muito lançados para a testa, se deixavam ficar no interior do local, na parte mais escura.
— Por que motivo o assassinaste, Riester? — perguntou Dieter, empurrando o chapéu para a nuca e avançando para o balcão.
O armazenista saltou como se tivesse sido escoiceado por um cavalo. Apertou os gatilhos da espingarda, mas não ouviu nenhum disparo. Tinha-se esquecido de que estava descarregada. Deixou cair a arma e tentou empunhar o revólver que estava na prateleira. Quando as pontas dos seus dedos já roçavam a coronha, Dieter começou a apertar o gatilho do seu revólver.
Fez três disparos e os projéteis cravaram-se no peito de Riester, empurrando-o contra uma das prateleiras. O armazenista sentiu os impactos do chumbo e olhou aterrado para o seu inimigo. Abriu a boca e um rouco estertor escapou-se da sua garganta, ressequida pelo pânico. Os olhos nublaram-se-lhe e as suas pernas fraquejaram. Sentia o sangue quente a escorrer-lhe pelo peito, ventre e coxas. Levantou os braços e segurou-se à madeira da prateleira. Lentamente, como um odre que deixasse escapar o ar, foi-se encolhendo até que ficou enovelado ao pé da prateleira, com os olhos desmesuradamente abertos e as pernas dobradas por debaixo do corpo.
— Os assassinos devem ser enforcados... — disse Ronnie — ...mesmo que não o sejam na sala de jantar do «rancho» de Holker.
— De acordo. Acima com ele — respondeu Dieter, apanhando uma das muitas cordas que Riester tinha para vender.
Quando os primeiros curiosos entraram no armazém, encontraram o cadáver de Len Riester a executar uma dança macabra, com um nó corredio à volta do pescoço. Dieter e Ronnie haviam desaparecido e, naquele instante, galopavam para a cabana onde se encontrava Mercedes Lanuza.
Um dos homens que pôde ver o cadáver enforcado, foi Jess Craige. O terror fez-lhe tremer as pernas e teve de apoiar-se no balcão para não cair sobre o corpo sem vida do mexicano assassinado por Riester.
— Nunca vi fazer-se justiça com tanta rapidez —comentou um mexicano.
— Creio que chegou o mau tempo para Ira Holker e os seus cúmplices — acrescentou outro.
Jess também pensava o mesmo, e com passo hesitante abandonou o armazém. Naquele momento, não sentia nenhum interesse pelas terras e nascentes de Desolação. Apenas desejava conservar a vida. Lembrava-se do aviso que lhe haviam dado os jogadores que se tinham visto obrigados a enterrar os corpos dos Lanuza.
— Também haverá uma vala para mim... E «Pecos» Dieter é um homem de palavra — murmurou ao entrar no Banco.
O pânico tinha-se apoderado dele e, durante cinco dias, recusou-se a abandonar o seguro edifício do Banco. Nem o próprio Ira Holker conseguiu tirá-lo de ali.
— Matar-nos-á a todos... matar-nos-á a todos — repetia continuamente, como se não soubesse pronunciar outras palavras.
— És um maldito cobarde, Jess — cuspiu-lhe Holker.
— Sou... e quero continuar a viver. Podes ficar com tudo; já não quero nada.
— Esqueceste-te que também tomaste parte na morte dos Lanuza — lembrou-lhe o «rancheiro».
Craige não respondeu. Por sua desgraça, não o tinha esquecido, e aquela recordação tirava-lhe o sono e o apetite. Tinha a impressão de que, se não tivesse tornado parte no massacre, Dieter o deixaria tranquilo.
Passaram-se aqueles cinco dias sem que acontecesse nada de especial. A vida seguia o seu curso normal em Desolação. Holker e os seus pistoleiros ainda não tinham logrado encontrar o menor rasto dos dois homens e da rapariga. Parecia que a terra os tinha tragado.
E, no entanto, no cemitério estavam as tumbas de Felter, Waltis e Riester para demonstrar que a terra só tragava os mortos. Os nervos de Holker estavam a ponto de rebentar em mil pedaços. Era desesperante lutar contra umas sombras; e o que mais irritava o assassino era não saber para quem trabalhavam Dieter e Ronnie.
Depois de permanecer cinco dias no interior do Banco, Craige recuperou a sua calma e, aproveitando a escuridão, decidiu sair do edifício. Precisava de se barbear, de se lavar e de comer uma excelente refeição.
Durante aqueles cinco intermináveis dias apenas tinha bebido café e uísque em grandes quantidades. Abriu a porta do Banco e meteu a cabeça de fora para examinar a rua central da povoação; ao vê-la completamente deserta saiu do Banco.
Ia para fechar a porta quando uma corda rodeou o seu pescoço e um revólver se lhe apoiou nos rins.
— Boas noites, assassino — disse a voz irónica de Dieter.
Craige não podia falar porque a corda apertava-lhe a garganta com força. Naquele momento, compreendeu o que Eusébio devia ter sentido quando ele lhe colocou o nó corredio à volta do pescoço. Um brutal empurrão lançou-o para o interior do Banco e ouviu o ruído seco que a porta produziu ao fechar-se. Outro empurrão obrigou-o a sentar-se numa cadeira, mas a corda continuou a apertar-lhe a garganta.
Ronnie e Mercedes fecharam as janelas para que ninguém pudesse descobrir a sua presença no interior do edifício e, quando terminaram, juntaram-se a Dieter.
— Bem, Craige. Chegou a tua hora. Tens alguma coisa a dizer? — perguntou, retirando a corda.
O banqueiro passou as mãos pelo pescoço, onde havia ficado um sulco vermelho, e com os olhos cheios de terror olhou para Dieter.
— Tenho... dinheiro, muito dinheiro... no cofre... Será de vocês... se me deixarem... viver — tartamudeou.
— Para que queres viver? —perguntou Dieter ironicamente.
— Talvez para enforcar outros rapazes como meu irmão Eusébio. Ele matou-o — disse Mercedes.
Um gemido escapou-se dos lábios do banqueiro.
— És um assassino, Craige... e os assassinos merecem a forca. Nós, agora, somos a Lei em Desolação. Antes, foste-o tu e os teus cúmplices— continuou Dieter.
— Holker é o responsável por tudo... ameaçou-me de morte se não obedecesse às suas ordens! — disse Craige, entre dois gemidos.
— Não gosto de cobardes. preferível matá-lo já — comentou Ronnie.
— Tens razão, mas primeiro ele vai abrir-nos o cofre-forte para que possamos ficar com o dinheiro. Não vai precisar dele no inferno e os familiares do homem assassinado por Riester estão na miséria — disse Dieter.
Craige foi conduzido para o cofre-forte pelas mãos poderosas do jovem. Se Dieter o tivesse largado, o banqueiro teria tombado por terra.
— Todos os assassinos são cobardes — disse Ronnie, com asco.
— Cem mil dólares... parte dele é de Ira Holker... Dou-vo-lo se me deixarem viver! — gemeu Craige.
— Já o temos — respondeu Dieter, fazendo um sinal a Ronnie para que se apoderasse do dinheiro.
Em seguida, voltou a colocar o nó corredio à volta do pescoço do banqueiro e levantou os olhos para o tecto, procurando uma viga sólida que servisse para enforcar o cobarde assassino do jovem Eusébio. Encontrou-a e, com um movimento que já começava a tornar-se-lhe familiar, lançou a outra ponta da corda por cima dela.
Com a ajuda de Ronnie colocou Craige sobre uma mesa e, em seguida, atou a ponta à porta do cofre-forte.
— Tudo preparado. Temos apenas de tirar a mesa para que Jess Craige tenha aquilo que merece — disse.
O banqueiro suplicava e grossas lágrimas resvalavam--lhe pelas faces, mas ninguém fez caso dos seus lamentos.
— Lembra-te de Eusébio Lanuza. Ele não tinha cometido nenhum crime — disse Dieter, retirando a mesa.
O corpo de Craige contraiu-se e as suas pernas movimentaram-se no ar, como se procurasse um ponto de apoio. Mas não o encontrou. Quando os dois jovens e a rapariga abandonaram o Banco, o corpo de Jess Craige permanecia imóvel. Nunca mais voltaria a julgar que o assassínio era uma coisa divertida. Na realidade, o banqueiro nunca mais voltaria a julgar nada; estava morto.
— Resta apenas Ira Holker — disse Dieter, começando a enrolar um cigarro.
Não sentia quaisquer remorsos por ter acabado com o juiz Waltis, com Len Riester e com o cobarde Jess Craige. Pensava que quando a Lei não era capaz de fazer justiça, esta devia ser feita por homens como ele. Os três tinham sido uns frios assassinos, que apenas pensavam nos seus interesses, sem que a vida dos demais tivesse o menor valor.
Dieter estava convencido de que a morte dos três assassinos tinha sido um bem para todos os habitantes da povoação e que, graças ao desaparecimento de Waltis, Riester e Craige, muitos homens poderiam continuar a viver e a trabalhar.
— Se deixássemos Holker com vida as coisas continuariam na mesma — comentou Ronnie. — Ira Holker morrerá; é ele o principal responsável.
— Amanhã mesmo, mudar-nos-emos para o «rancho» de Mercedes e ficaremos nele. Tomaremos as nossas precauções porque Holker cairá sobre nós como um abutre faminto.
— Que vamos fazer com o dinheiro? — perguntou Mercedes.
— Entregá-lo-emos aos filhos do mexicano que morreu no armazém... e também uma boa soma a Guadalupe para que não tenha de continuar a limpar os quartos do «Bar Fortuna» — respondeu Dieter.
— Graças a ela, pudemos entrar no quarto de Loube — comentou a rapariga.
Montaram nos seus cavalos e dirigiram-se para a miserável casa onde habitavam os filhos do mexicano assassinado por Riester. Dieter entregou-lhes a maior parte do dinheiro que tinham tirado do cofre de Craige e os dois homens mostraram-se agradecidos.
— Pode contar connosco para o que for preciso, senhor... e tu também, Mercedes — disse Pedro, o mais velho dos dois irmãos.
— Talvez venha a precisar da vossa ajuda muito brevemente — disse Dieter.
— Acudiremos à sua chamada, senhor — disse Porfírio, o outro irmão.
— Desolação voltará a ser uma povoação tranquila — assegurou Dieter, ao subir para a sua montada.
Afastaram-se da pobre vivenda dos irmãos Pedro e Porfírio Mendoza. Ambos eram casados e tinham a seu cargo grande número de filhos e a sua velha mãe.
— Holker não tardará a morrer — comentou Porfírio, quando os três cavaleiros se perderam na escuridão da noite.
— Eu penso mesmo — murmurou Pedro. Os dois irmãos entraram na casa de adobe e, à luz de uma lamparina de azeite, começaram a contar o dinheiro.
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