Ira Holker encontrava-se na sala de jantar do seu «rancho» a contemplar os nomes gravados na viga. quando se inteirou de três desagradáveis noticias. A primeira, foi a morte de Jess Craige; a segunda, o desaparecimento do dinheiro que o cofre-forte continha; e a terceira, foi que Dieter, Ronnie e a rapariga haviam regressado ao «rancho» dos Lanuza. Esta última noticia significava que nunca poderia apossar-se daquelas terras nem das ricas nascentes que existiam nelas.
Durante cinco minutos pareceu ter enlouquecido de raiva. Quando começou a acalmar-se, chamou os quatro pistoleiros contratados pelo falecido Felter e gritou:
— Vamos acabar com o maldito Dieter e com o seu amigo Ronnie!
Começou a dar ordens secas para que os vaqueiros os acompanhassem, mas os homens negaram-se em massa. O furor apoderou-se de Holker e, friamente, disparou contra o vaqueiro que tinha ocupado o lugar de Felter. Sem a intervenção dos quatro pistoleiros que se colocaram atrás dele, empunhando as armas, a vida de Ira Holker teria acabado naquele instante.
— Fora das minhas terras imediatamente, maldito bando de cobardes! — ordenou secamente, contendo os seus desejos de disparar pela segunda vez.
Os vaqueiros não se fizeram rogados. Levantaram o cadáver do seu companheiro e, silenciosamente, dirigiram-se para os estábulos.
— Vamos, rapazes. Passaremos pelo «Fortuna» e alguns dos jogadores acompanhar-nos-ão — disse o «rancheiro».
— Não creio que sejam necessários. Somos cinco contra dois... e todos sabemos manejar as armas — respondeu Mansell.
— Eu encarregar-me-ei de matar Dieter — acrescentou Byrne Purvis, acariciando as coronhas dos seus revólveres.
— Apesar de tudo, passaremos pelo bar — insistiu Holker.
Mansell encolheu os ombros. Pensava que o «rancheiro» ia obter um resultado muito parecido ao que havia tido com os vaqueiros. As mortes de Felter, Waltis, Riester e Craige tinham demonstrado a todos os habitantes de Desolação que Dieter e Ronnie eram dois inimigos muito perigosos. O melhor era manterem-se afastados dos seus revólveres.
Mansell, inclusivamente, pensava daquela forma, mas ele recebia dinheiro por matar e, se reconhecesse ter medo, a sua carreira como pistoleiro por conta de outrem teria terminado.
— Você manda, patrão — limitou-se a dizer, enquanto montava no seu cavalo.
Os cinco homens saíram do «rancho» a todo o galope, enquanto os vaqueiros recolhiam os seus escassos haveres e se preparavam para abandonar definitivamente aquele lugar.
Holker estava tão furioso que não tinha pensado no gado que se encontrava nos currais e nos pastos. A sua única ideia era matar os dois homens que se tinham atrevido a fazer-lhe frente. Tinha-se transformado numa fera sedenta de sangue.
Os contínuos fracassos sofridos na localização de Dieter e Ronnie tinham-no enlouquecido de furor e de raiva. Havia mais de quinze anos que não estava habituado a fracassar em nada.
O assassínio de Karl Ritter e de Cole Treger, no desfiladeiro, tinha sido o principio da sua prosperidade.
Quando os cinco cavaleiros chegaram ao povoado, eram exatamente onze horas da manhã e o bar do defunto Bremer estava quase deserto. Os oito homens que tinham sido tirados dos seus quartos para enterrarem os Lanuza tinham decidido sair de Desolação antes que as coisas piorassem e os sacrificados mexicanos perdessem o resto da paciência e fizessem uma matança geral.
-- Regressaremos algum dia. Quando isto for um povoado meio civilizado — disse um dos jogadores, ao sair da povoação.
Atrás do balcão, havia apenas um empregado, meio adormecido, e nas mesas encontravam-se meia dúzia de habitantes e os dois jogadores que haviam tomado parte no assassínio dos Lanuza.
Esfregando as escadas que conduziam ao piso superior, achava-se Guadalupe. A mulher, quando viu entrar Ira Holker, prestou muita atenção ao que se ia dizer.
— Onde está Loube? — perguntou o «rancheiro», sem perder tempo com saudações inúteis.
O empregado do balcão despertou por completo ao ouvir a voz de Holker. Maquinalmente, começou a polir a brilhante madeira do balcão.
— Não sei -- respondeu.
Dizia a verdade. Loube, depois do que acontecera no seu quarto, não dava sinais de vida, pelo menos no bar. Passava as horas fechado na casa de um amigo.
Holker lançou uma maldição e ao descobrir os dois jogadores fez-lhes um sinal para que se aproximassem. Ambos se levantaram ao mesmo tempo e juntaram--se ao «rancheiro», enquanto os pistoleiros aproveitavam a ocasião para beber uns copos de uísque.
— Ides acompanhar-me — disse Holker.
— Quanto? — perguntou um dos jogadores, referindo--se ao preço.
— Cem.
— Não nos interessa, Holker. Supomos que pensas atacar o «rancho» dos Lanuza para acabares com os tipos que eliminaram o juiz, o banqueiro e o armazenista. São demasiado perigosos.
— Tendes medo? — perguntou, ironicamente, Holker.
— Por cem dólares, sim -- respondeu o jogador.
— E por duzentos?
— Menos... mas continuamos a tê-lo.
— Trezentos — ofereceu Holker.
— Já não temos medo — disse o jogador, sorrindo.
— Preparai os vossos cavalos e as armas. Vamos sair imediatamente — ordenou o «rancheiro».
Guadalupe subiu as escadas e, pouco depois, abandonou o estabelecimento pelo lado posterior. Com passo ligeiro, dirigiu-se para a casa dos irmãos Mendoza e repetiu tudo o que tinha ouvido.
Antes que Holker e os seus pistoleiros saíssem da povoação, Pedro e Porfírio fizeram-no a todo o galope, dirigindo-se para o Este, para o «rancho» dos Lanuza.
Quando o «rancheiro» e os seus homens chegaram à distância de cem metros dos edifícios que formavam o «rancho», Ira levantou o braço e deteve a sua montada para examinar o terreno.
— Parece que está deserto — comentou Mansell, que cavalgava à esquerda de Holker.
— Talvez alguém se tenha dedicado a caçoar connosco — acrescentou o gigante Harrow.
— Disparai contra as janelas! — ordenou o «rancheiro».
Uma descarga cerrada rompeu a calma da manhã, e um bando de pássaros levantou voo enquanto os vidros das janelas saltaram feitos em mil fragmentos. Mas nenhum disparo respondeu à descarga. O «rancho» parecia abandonado e Holker começou a recear que o gigantesco pistoleiro tivesse razão.
— Vamos atravessar o pátio — disse o «rancheiro».
— Pode ser perigoso. Dieter e Ronnie podem estar à espera do momento oportuno para dispararem contra nós — disse Mansell, que sempre havia sido um assassino muito cauteloso.
— Tens medo? — perguntou Holker.
— Vai para o inferno, estúpido! — vociferou Mansell, fazendo avançar o seu cavalo.
O pequeno grupo pôs-se em movimento, com grandes precauções, de armas empunhadas. Avançavam em semicírculo e no centro iam o «rancheiro» e Mansell.
Num dos extremos, no da esquerda, cavalgavam os dois jogadores e no outro seguiam Harrow e Josh Carver. Byrne Purvis encontrava-se ao lado de Marsell e dos seus lábios não havia desaparecido o irónico sorriso.
O grupo penetrou no amplo pátio rodeado pelos edifícios dos celeiros, palheiros e currais. Em frente, tinham o edifício principal e as nascentes tão desejadas por Ira Holker. Não sucedeu nada até que os cavaleiros se encontraram a trinta metros do edifício principal.
Quando se encontraram no centro do pátio, cinco carabinas fizeram fogo de pontos diferentes. Duas «Winchester» abriram fogo do edifício central; outras duas fizeram-no de um celeiro situado à esquerda e a quinta ladrou de um dos currais vazios. Uns amigos dos Lanuza tinham-se encarregado de cuidar das poucas reses que estes tinham e, por esta razão, no «rancho» não havia uma única cabeça de gado.
O resultado daqueles cinco disparos foi desastroso para os homens de Holker. Os dois jogadores foram arrancados das suas selas pela força do chumbo. Um deles ficou imóvel, com a cabeça atravessada por um balázio, mas o outro conseguiu levantar-se apesar da ferida que tinha recebido no peito. Deu dois passos, a cambalear como um ébrio, mas Porfírio Mendoza apertou o gatilho pela segunda vez e o jogador tombou no solo com um projétil alojado no coração.
— Estúpido! — exclamou Mansell, quando o chumbo assobiou por cima da sua cabeça.
Referia-se ao «rancheiro» que lutava para dominar o seu cavalo, ferido por um dos projéteis. Mansell desmontou, pois em cima do cavalo oferecia um alvo, perfeito. Também Byrne desmontou e correu para os currais. Josh Carver disparava contra as destroçadas janelas e o gigante loiro arrastava-se pelo solo com uma bala no ventre.
Byrne Purvis sofreu a maior surpresa da sua vida. Uma surpresa desagradável... que teve a virtude de ser a última. Quando lhe faltavam apenas seis metros para atingir os currais, um homem cortou-lhe o caminho.
— Dieter! — exclamou o pistoleiro.
Levantou o braço direito e preparou-se para disparar contra o seu inimigo. Hesitou apenas durante umas pequenas frações de segundo, mas foi o suficiente para que Dieter acabasse com ele.
O jovem tinha abandonado a carabina e empunhara um dos seus revólveres. Naquele momento, demonstrou que tinha assimilado todos os ensinamentos de Read Cline, o velho pistoleiro. Um seco estampido brotou do seu revólver e Byrne encolheu-se ao encaixar o balázio no estômago. Um segundo disparo obrigou-o a girar sobre si mesmo.
Caiu sobre os joelhos e, em seguida, tombou de bruços. Estava ferido de morte e, no entanto, o sorriso não se tinha apagado dos seus lábios. Ainda tinha o revólver na mão e tentou disparar contra Dieter. Este voltou a apertar o gatilho e o projétil atravessou o corpo do pistoleiro levantando um pequeno repuxo de pó ao enterrar-se no solo.
— Nunca vi um bicho que custasse tanto a morrer — murmurou Dieter.
Do edifício principal, Ronnie apontou ao peito de Mansell e, quando o ponto de mira se imobilizou por altura do segundo botão do casaco de cabedal, apertou o gatilho. Mansell sentiu o impacto do chumbo no peito e apoiou--se na parede de um depósito de feno. Tentou levantar o revólver, mas compreendeu que não tinha forças.
— És um estúpido, Holker! — exclamou, enquanto caía lentamente.
A morte alcançou-o quando se encontrava sentado e com as costas apoiadas na parede do palheiro, enquanto dois balázios acertavam em cheio em Josh Carver e o enviavam para o inferno, antes que pudesse soltar um grito.
Porfírio e Pedro Mendoza estavam a pagar-se do assassínio de seu pai. O celeiro tinha sido um excelente posto de caça e disparavam com grande tranquilidade, escolhendo cuidadosamente os lugares onde queriam alojar os seus projéteis.
O gigante Harrow continuava a arrastar-se, cravando as unhas no pó e deixando atrás de si um rasto de sangue. Foi Ronnie quem pôs fim aos seus sofrimentos, fazendo-lhe voar parte da cabeça com uma bala certeira.
Dos sete homens que haviam tentado o ataque, apenas um continuava a viver: Ira Holker. Tinha desmontado e procurado a proteção que lhe oferecia um monte de lenha cortada. Mas, ao ver cair os seus homens, o pânico apoderou-se dele.
Os cavalos galopavam desenfreadamente pelo pátio, aterrados pelos contínuos disparos que atroavam o ar da manhã. Holker pensou que conseguiria apoderar-se de um dos animais e fugir. Abandonou a proteção que a lenha lhe oferecia e correu com todas as suas forças para um dos animais, mas Dieter descobriu-o e, com um único tiro, destroçou--lhe o tornozelo esquerdo. Holker deu um salto, como um coelho apanhado por um projétil em plena corrida.
Ao cair, perdeu o revólver, e, antes que pudesse apanhá-lo novamente, a bota de Dieter pisou-lhe os dedos impiedosamente.
— Terminou a tua carreira de assassino, Holker —disse Dieter.
— Não me mates, «Pecos»! — gritou o «rancheiro».
Os irmãos Mendoza abandonaram o celeiro e colocaram-se ao lado do bandido, com as carabinas prontas a fazerem fogo. Também a rapariga e Ronnie haviam saído do edifício principal.
— Toma, Dieter — disse o jovem, entregando uma corda ao seu amigo.
— Vão enforcar-me? — perguntou Holker, aterrado.
— A Lei diz que os assassinos devem morrer na forca... e tu és um assassino — respondeu Dieter.
Porfírio encarregou-se de desarmar Ira Holker e com um violento pontapé afastou o revólver que tinha ficado muito perto da sua mão. Dieter retirou a bota que esmagava os dedos do «rancheiro». Deixou cair o laço por cima da cabeça de Holker e apertou-o, mas permitindo que o «rancheiro» pudesse falar e respirar. Ao sentir a corda à volta do pescoço, Holker chiou e as suas mãos agarraram-se ao instrumento de morte, tentando afrouxá-lo, mas Dieter manteve a corda esticada e o assassino apenas conseguiu partir as unhas.
— Levanta-te e caminha, canalha! — ordenou, secamente, Dieter.
Holker tentou fazê-lo, mas o tornozelo destroçado impediu-lho. Dos seus lábios começou a sair espuma e estranhos gemidos que recordavam os de um cão doente. Nenhum dos irmãos Mendoza, nem Ronnie, nem a rapariga fizeram o menor gesto para o ajudar. Tão-pouco o fez Dieter, mas ao ver que o assassino de seu pai permanecia imóvel no solo, começou a arrastá-lo para uma das árvores. Escolheu a mesma onde havia sido enforcado António Lanuza.
Passou a corda pelo mesmo ramo e puxou com todas as suas forças. Todas estas operações se realizaram no meio de um silêncio impressionante que apenas era rasgado pelos gemidos de Holker. Estava a suar, e a dor e o pânico misturavam-se nos seus olhos. Os seus pés mal roçavam o solo e a corda obrigava-o a manter o pescoço dobrado.
— O meu nome é Dieter Ritter e no meu corpo há uma cicatriz causada por um balázio que tu me disparaste quando eu era apenas uma criança. Chegou a hora de ajustar contas, Ira Holker — disse, secamente, o jovem.
— O filho de Karl Ritter! — exclamou o «rancheiro».
— O próprio. Os «apaches» não acabaram comigo e tu tão-pouco o conseguiste. Agora, vais pagar pelas mortes de meu pai, de Cole, dos Lanuza e de muitos outros que desconheço — respondeu Dieter.
Os irmãos Mendoza seguraram a corda e, lentamente, içaram Holker. O último grito deste foi cortado bruscamente. Tentou afrouxar a pressão que o afogava... mas a morte tirou-lhe todas as forças.
— Fez-se justiça — limitou-se a dizer Dieter, quando o corpo do assassino se imobilizou.
O galope de vários cavalos fê-los empunhar as armas, mas deixaram-nas novamente nos coldres quando reconheceram vários habitantes de Desolação. Guadalupe tinha-se encarregado de espalhar a notícia do ataque e alguns homens acudiam a prestar a sua ajuda.
— Já não é necessária — disse um dos recém-chegados.
— Obrigado, amigos, mas o pesadelo terminou. Podem ficar com o «rancho» de Holker. Na realidade, pertence--me porque o comprou com a prata que roubou a meu pai... e eu ofereço-vo-lo — disse Dieter.
Em seguida, segurou as mãos de Mercedes e disse--lhe:
— Disseste que se vingasse a morte de teu pai e irmãos obedecerias às minhas ordens fielmente.
— Sim, é verdade.
— Vou dar-te apenas uma, Mercedes.
— Fala.
— Segue-me quando abandonar Desolação — disse Dieter.
— Irei contigo — respondeu, suavemente, a rapariga, em cujos grandes olhos apareceu um clarão de amor.
— Por tua vontade ou por agradecimento? — perguntou Dieter, sem soltar a rapariga.
— Por minha própria vontade... e com muito prazer -- respondeu Mercedes, acariciando o jovem com o olhar.
Dieter olhou para Ronnie e disse:
— Podes ficar com este «rancho», e antes de regressar ao Novo México, para tomar conta do «rancho» de Read Cline, mostrar-te-ei uma mina de prata; eu não a quero porque não desejo mais lutas, mas tu és muito jovem e suponho que deves ter ambições.
— Apenas desejo ser um homem honrado... como tu — respondeu Ronnie.
— Sê-lo-ás, se o decidires ser. Em seguida, passou um dos seus braços por cima dos ombros da rapariga e começaram a andar para as nascentes.
Tinham muitas coisas que se dizerem e era impossível fazerem-no diante de tanta gente.
— Para onde vamos? — perguntou Mercedes.
— Agora, procurar um lugar solitário para eu poder beijar os teus lábios vermelhos... e depois para o Novo México, uma terra mais tranquila que esta.
A rapariga estremeceu ao compreender que Dieter também a amava; ambos tinham sofrido tanto que nem haviam tido tempo para falar de amor. Mas, no Novo México, iam dispor de uma vida inteira para o fazer. Ronnie Denker viu-os desaparecer para lá das nascentes e um alegre sorriso surgiu nos seus lábios.
— O meu amigo tem direito a um pouco de felicidade — murmurou.
De lha dar, encarregou-se a apaixonada e ardente Mercedes Lanuza.
Durante cinco minutos pareceu ter enlouquecido de raiva. Quando começou a acalmar-se, chamou os quatro pistoleiros contratados pelo falecido Felter e gritou:
— Vamos acabar com o maldito Dieter e com o seu amigo Ronnie!
Começou a dar ordens secas para que os vaqueiros os acompanhassem, mas os homens negaram-se em massa. O furor apoderou-se de Holker e, friamente, disparou contra o vaqueiro que tinha ocupado o lugar de Felter. Sem a intervenção dos quatro pistoleiros que se colocaram atrás dele, empunhando as armas, a vida de Ira Holker teria acabado naquele instante.
— Fora das minhas terras imediatamente, maldito bando de cobardes! — ordenou secamente, contendo os seus desejos de disparar pela segunda vez.
Os vaqueiros não se fizeram rogados. Levantaram o cadáver do seu companheiro e, silenciosamente, dirigiram-se para os estábulos.
— Vamos, rapazes. Passaremos pelo «Fortuna» e alguns dos jogadores acompanhar-nos-ão — disse o «rancheiro».
— Não creio que sejam necessários. Somos cinco contra dois... e todos sabemos manejar as armas — respondeu Mansell.
— Eu encarregar-me-ei de matar Dieter — acrescentou Byrne Purvis, acariciando as coronhas dos seus revólveres.
— Apesar de tudo, passaremos pelo bar — insistiu Holker.
Mansell encolheu os ombros. Pensava que o «rancheiro» ia obter um resultado muito parecido ao que havia tido com os vaqueiros. As mortes de Felter, Waltis, Riester e Craige tinham demonstrado a todos os habitantes de Desolação que Dieter e Ronnie eram dois inimigos muito perigosos. O melhor era manterem-se afastados dos seus revólveres.
Mansell, inclusivamente, pensava daquela forma, mas ele recebia dinheiro por matar e, se reconhecesse ter medo, a sua carreira como pistoleiro por conta de outrem teria terminado.
— Você manda, patrão — limitou-se a dizer, enquanto montava no seu cavalo.
Os cinco homens saíram do «rancho» a todo o galope, enquanto os vaqueiros recolhiam os seus escassos haveres e se preparavam para abandonar definitivamente aquele lugar.
Holker estava tão furioso que não tinha pensado no gado que se encontrava nos currais e nos pastos. A sua única ideia era matar os dois homens que se tinham atrevido a fazer-lhe frente. Tinha-se transformado numa fera sedenta de sangue.
Os contínuos fracassos sofridos na localização de Dieter e Ronnie tinham-no enlouquecido de furor e de raiva. Havia mais de quinze anos que não estava habituado a fracassar em nada.
O assassínio de Karl Ritter e de Cole Treger, no desfiladeiro, tinha sido o principio da sua prosperidade.
Quando os cinco cavaleiros chegaram ao povoado, eram exatamente onze horas da manhã e o bar do defunto Bremer estava quase deserto. Os oito homens que tinham sido tirados dos seus quartos para enterrarem os Lanuza tinham decidido sair de Desolação antes que as coisas piorassem e os sacrificados mexicanos perdessem o resto da paciência e fizessem uma matança geral.
-- Regressaremos algum dia. Quando isto for um povoado meio civilizado — disse um dos jogadores, ao sair da povoação.
Atrás do balcão, havia apenas um empregado, meio adormecido, e nas mesas encontravam-se meia dúzia de habitantes e os dois jogadores que haviam tomado parte no assassínio dos Lanuza.
Esfregando as escadas que conduziam ao piso superior, achava-se Guadalupe. A mulher, quando viu entrar Ira Holker, prestou muita atenção ao que se ia dizer.
— Onde está Loube? — perguntou o «rancheiro», sem perder tempo com saudações inúteis.
O empregado do balcão despertou por completo ao ouvir a voz de Holker. Maquinalmente, começou a polir a brilhante madeira do balcão.
— Não sei -- respondeu.
Dizia a verdade. Loube, depois do que acontecera no seu quarto, não dava sinais de vida, pelo menos no bar. Passava as horas fechado na casa de um amigo.
Holker lançou uma maldição e ao descobrir os dois jogadores fez-lhes um sinal para que se aproximassem. Ambos se levantaram ao mesmo tempo e juntaram--se ao «rancheiro», enquanto os pistoleiros aproveitavam a ocasião para beber uns copos de uísque.
— Ides acompanhar-me — disse Holker.
— Quanto? — perguntou um dos jogadores, referindo--se ao preço.
— Cem.
— Não nos interessa, Holker. Supomos que pensas atacar o «rancho» dos Lanuza para acabares com os tipos que eliminaram o juiz, o banqueiro e o armazenista. São demasiado perigosos.
— Tendes medo? — perguntou, ironicamente, Holker.
— Por cem dólares, sim -- respondeu o jogador.
— E por duzentos?
— Menos... mas continuamos a tê-lo.
— Trezentos — ofereceu Holker.
— Já não temos medo — disse o jogador, sorrindo.
— Preparai os vossos cavalos e as armas. Vamos sair imediatamente — ordenou o «rancheiro».
Guadalupe subiu as escadas e, pouco depois, abandonou o estabelecimento pelo lado posterior. Com passo ligeiro, dirigiu-se para a casa dos irmãos Mendoza e repetiu tudo o que tinha ouvido.
Antes que Holker e os seus pistoleiros saíssem da povoação, Pedro e Porfírio fizeram-no a todo o galope, dirigindo-se para o Este, para o «rancho» dos Lanuza.
Quando o «rancheiro» e os seus homens chegaram à distância de cem metros dos edifícios que formavam o «rancho», Ira levantou o braço e deteve a sua montada para examinar o terreno.
— Parece que está deserto — comentou Mansell, que cavalgava à esquerda de Holker.
— Talvez alguém se tenha dedicado a caçoar connosco — acrescentou o gigante Harrow.
— Disparai contra as janelas! — ordenou o «rancheiro».
Uma descarga cerrada rompeu a calma da manhã, e um bando de pássaros levantou voo enquanto os vidros das janelas saltaram feitos em mil fragmentos. Mas nenhum disparo respondeu à descarga. O «rancho» parecia abandonado e Holker começou a recear que o gigantesco pistoleiro tivesse razão.
— Vamos atravessar o pátio — disse o «rancheiro».
— Pode ser perigoso. Dieter e Ronnie podem estar à espera do momento oportuno para dispararem contra nós — disse Mansell, que sempre havia sido um assassino muito cauteloso.
— Tens medo? — perguntou Holker.
— Vai para o inferno, estúpido! — vociferou Mansell, fazendo avançar o seu cavalo.
O pequeno grupo pôs-se em movimento, com grandes precauções, de armas empunhadas. Avançavam em semicírculo e no centro iam o «rancheiro» e Mansell.
Num dos extremos, no da esquerda, cavalgavam os dois jogadores e no outro seguiam Harrow e Josh Carver. Byrne Purvis encontrava-se ao lado de Marsell e dos seus lábios não havia desaparecido o irónico sorriso.
O grupo penetrou no amplo pátio rodeado pelos edifícios dos celeiros, palheiros e currais. Em frente, tinham o edifício principal e as nascentes tão desejadas por Ira Holker. Não sucedeu nada até que os cavaleiros se encontraram a trinta metros do edifício principal.
Quando se encontraram no centro do pátio, cinco carabinas fizeram fogo de pontos diferentes. Duas «Winchester» abriram fogo do edifício central; outras duas fizeram-no de um celeiro situado à esquerda e a quinta ladrou de um dos currais vazios. Uns amigos dos Lanuza tinham-se encarregado de cuidar das poucas reses que estes tinham e, por esta razão, no «rancho» não havia uma única cabeça de gado.
O resultado daqueles cinco disparos foi desastroso para os homens de Holker. Os dois jogadores foram arrancados das suas selas pela força do chumbo. Um deles ficou imóvel, com a cabeça atravessada por um balázio, mas o outro conseguiu levantar-se apesar da ferida que tinha recebido no peito. Deu dois passos, a cambalear como um ébrio, mas Porfírio Mendoza apertou o gatilho pela segunda vez e o jogador tombou no solo com um projétil alojado no coração.
— Estúpido! — exclamou Mansell, quando o chumbo assobiou por cima da sua cabeça.
Referia-se ao «rancheiro» que lutava para dominar o seu cavalo, ferido por um dos projéteis. Mansell desmontou, pois em cima do cavalo oferecia um alvo, perfeito. Também Byrne desmontou e correu para os currais. Josh Carver disparava contra as destroçadas janelas e o gigante loiro arrastava-se pelo solo com uma bala no ventre.
Byrne Purvis sofreu a maior surpresa da sua vida. Uma surpresa desagradável... que teve a virtude de ser a última. Quando lhe faltavam apenas seis metros para atingir os currais, um homem cortou-lhe o caminho.
— Dieter! — exclamou o pistoleiro.
Levantou o braço direito e preparou-se para disparar contra o seu inimigo. Hesitou apenas durante umas pequenas frações de segundo, mas foi o suficiente para que Dieter acabasse com ele.
O jovem tinha abandonado a carabina e empunhara um dos seus revólveres. Naquele momento, demonstrou que tinha assimilado todos os ensinamentos de Read Cline, o velho pistoleiro. Um seco estampido brotou do seu revólver e Byrne encolheu-se ao encaixar o balázio no estômago. Um segundo disparo obrigou-o a girar sobre si mesmo.
Caiu sobre os joelhos e, em seguida, tombou de bruços. Estava ferido de morte e, no entanto, o sorriso não se tinha apagado dos seus lábios. Ainda tinha o revólver na mão e tentou disparar contra Dieter. Este voltou a apertar o gatilho e o projétil atravessou o corpo do pistoleiro levantando um pequeno repuxo de pó ao enterrar-se no solo.
— Nunca vi um bicho que custasse tanto a morrer — murmurou Dieter.
Do edifício principal, Ronnie apontou ao peito de Mansell e, quando o ponto de mira se imobilizou por altura do segundo botão do casaco de cabedal, apertou o gatilho. Mansell sentiu o impacto do chumbo no peito e apoiou--se na parede de um depósito de feno. Tentou levantar o revólver, mas compreendeu que não tinha forças.
— És um estúpido, Holker! — exclamou, enquanto caía lentamente.
A morte alcançou-o quando se encontrava sentado e com as costas apoiadas na parede do palheiro, enquanto dois balázios acertavam em cheio em Josh Carver e o enviavam para o inferno, antes que pudesse soltar um grito.
Porfírio e Pedro Mendoza estavam a pagar-se do assassínio de seu pai. O celeiro tinha sido um excelente posto de caça e disparavam com grande tranquilidade, escolhendo cuidadosamente os lugares onde queriam alojar os seus projéteis.
O gigante Harrow continuava a arrastar-se, cravando as unhas no pó e deixando atrás de si um rasto de sangue. Foi Ronnie quem pôs fim aos seus sofrimentos, fazendo-lhe voar parte da cabeça com uma bala certeira.
Dos sete homens que haviam tentado o ataque, apenas um continuava a viver: Ira Holker. Tinha desmontado e procurado a proteção que lhe oferecia um monte de lenha cortada. Mas, ao ver cair os seus homens, o pânico apoderou-se dele.
Os cavalos galopavam desenfreadamente pelo pátio, aterrados pelos contínuos disparos que atroavam o ar da manhã. Holker pensou que conseguiria apoderar-se de um dos animais e fugir. Abandonou a proteção que a lenha lhe oferecia e correu com todas as suas forças para um dos animais, mas Dieter descobriu-o e, com um único tiro, destroçou--lhe o tornozelo esquerdo. Holker deu um salto, como um coelho apanhado por um projétil em plena corrida.
Ao cair, perdeu o revólver, e, antes que pudesse apanhá-lo novamente, a bota de Dieter pisou-lhe os dedos impiedosamente.
— Terminou a tua carreira de assassino, Holker —disse Dieter.
— Não me mates, «Pecos»! — gritou o «rancheiro».
Os irmãos Mendoza abandonaram o celeiro e colocaram-se ao lado do bandido, com as carabinas prontas a fazerem fogo. Também a rapariga e Ronnie haviam saído do edifício principal.
— Toma, Dieter — disse o jovem, entregando uma corda ao seu amigo.
— Vão enforcar-me? — perguntou Holker, aterrado.
— A Lei diz que os assassinos devem morrer na forca... e tu és um assassino — respondeu Dieter.
Porfírio encarregou-se de desarmar Ira Holker e com um violento pontapé afastou o revólver que tinha ficado muito perto da sua mão. Dieter retirou a bota que esmagava os dedos do «rancheiro». Deixou cair o laço por cima da cabeça de Holker e apertou-o, mas permitindo que o «rancheiro» pudesse falar e respirar. Ao sentir a corda à volta do pescoço, Holker chiou e as suas mãos agarraram-se ao instrumento de morte, tentando afrouxá-lo, mas Dieter manteve a corda esticada e o assassino apenas conseguiu partir as unhas.
— Levanta-te e caminha, canalha! — ordenou, secamente, Dieter.
Holker tentou fazê-lo, mas o tornozelo destroçado impediu-lho. Dos seus lábios começou a sair espuma e estranhos gemidos que recordavam os de um cão doente. Nenhum dos irmãos Mendoza, nem Ronnie, nem a rapariga fizeram o menor gesto para o ajudar. Tão-pouco o fez Dieter, mas ao ver que o assassino de seu pai permanecia imóvel no solo, começou a arrastá-lo para uma das árvores. Escolheu a mesma onde havia sido enforcado António Lanuza.
Passou a corda pelo mesmo ramo e puxou com todas as suas forças. Todas estas operações se realizaram no meio de um silêncio impressionante que apenas era rasgado pelos gemidos de Holker. Estava a suar, e a dor e o pânico misturavam-se nos seus olhos. Os seus pés mal roçavam o solo e a corda obrigava-o a manter o pescoço dobrado.
— O meu nome é Dieter Ritter e no meu corpo há uma cicatriz causada por um balázio que tu me disparaste quando eu era apenas uma criança. Chegou a hora de ajustar contas, Ira Holker — disse, secamente, o jovem.
— O filho de Karl Ritter! — exclamou o «rancheiro».
— O próprio. Os «apaches» não acabaram comigo e tu tão-pouco o conseguiste. Agora, vais pagar pelas mortes de meu pai, de Cole, dos Lanuza e de muitos outros que desconheço — respondeu Dieter.
Os irmãos Mendoza seguraram a corda e, lentamente, içaram Holker. O último grito deste foi cortado bruscamente. Tentou afrouxar a pressão que o afogava... mas a morte tirou-lhe todas as forças.
— Fez-se justiça — limitou-se a dizer Dieter, quando o corpo do assassino se imobilizou.
O galope de vários cavalos fê-los empunhar as armas, mas deixaram-nas novamente nos coldres quando reconheceram vários habitantes de Desolação. Guadalupe tinha-se encarregado de espalhar a notícia do ataque e alguns homens acudiam a prestar a sua ajuda.
— Já não é necessária — disse um dos recém-chegados.
— Obrigado, amigos, mas o pesadelo terminou. Podem ficar com o «rancho» de Holker. Na realidade, pertence--me porque o comprou com a prata que roubou a meu pai... e eu ofereço-vo-lo — disse Dieter.
Em seguida, segurou as mãos de Mercedes e disse--lhe:
— Disseste que se vingasse a morte de teu pai e irmãos obedecerias às minhas ordens fielmente.
— Sim, é verdade.
— Vou dar-te apenas uma, Mercedes.
— Fala.
— Segue-me quando abandonar Desolação — disse Dieter.
— Irei contigo — respondeu, suavemente, a rapariga, em cujos grandes olhos apareceu um clarão de amor.
— Por tua vontade ou por agradecimento? — perguntou Dieter, sem soltar a rapariga.
— Por minha própria vontade... e com muito prazer -- respondeu Mercedes, acariciando o jovem com o olhar.
Dieter olhou para Ronnie e disse:
— Podes ficar com este «rancho», e antes de regressar ao Novo México, para tomar conta do «rancho» de Read Cline, mostrar-te-ei uma mina de prata; eu não a quero porque não desejo mais lutas, mas tu és muito jovem e suponho que deves ter ambições.
— Apenas desejo ser um homem honrado... como tu — respondeu Ronnie.
— Sê-lo-ás, se o decidires ser. Em seguida, passou um dos seus braços por cima dos ombros da rapariga e começaram a andar para as nascentes.
Tinham muitas coisas que se dizerem e era impossível fazerem-no diante de tanta gente.
— Para onde vamos? — perguntou Mercedes.
— Agora, procurar um lugar solitário para eu poder beijar os teus lábios vermelhos... e depois para o Novo México, uma terra mais tranquila que esta.
A rapariga estremeceu ao compreender que Dieter também a amava; ambos tinham sofrido tanto que nem haviam tido tempo para falar de amor. Mas, no Novo México, iam dispor de uma vida inteira para o fazer. Ronnie Denker viu-os desaparecer para lá das nascentes e um alegre sorriso surgiu nos seus lábios.
— O meu amigo tem direito a um pouco de felicidade — murmurou.
De lha dar, encarregou-se a apaixonada e ardente Mercedes Lanuza.
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