— Bem — disse — creio que chegou a hora de nos separar-nos.
—Pensas partir imediatamente para a Califórnia? — inquiriu Nora, com mal disfarçada ansiedade.
— Não. Passarei a noite em Prescou. Procurarei um sítio a meu gosto para passar a noite. Estes hotéis de luxo têm as camas demasiado fofas. E não podem apresentar-se assim diante de Butte. Mandarei vir uma rapariga do armazém com umas quantas roupas. Ainda me resta algum dinheiro e pagá-las-ei adiantadamente. Não mo agradeçam porque não merece a pena.
Diana pousou a sua mão sobre o antebraço do jovem.
— És um grande rapaz, Hal — disse, tratando-o por tu pela primeira vez. — Não sei o que seria de nós sem ti. Recordar-te-emos sempre.
— Fiz-vos passar um mau bocado desnecessariamente — respondeu. — Butte não se haveria negado a entregar os vinte mil dólares. Mas não lhe entreguei a mensagem. Estava a chicotear um vaqueiro quando eu cheguei. Aquilo fez-me ferver o sangue nas veias. Rasguei a carta e dei-lhe uma sova. Em seguida, voltei disposto a tirá-las de ali de qualquer forma.
— Porque o fizeste, Hal? — inquiriu Diana sem se alterar.
—Responda-me primeiro a uma pergunta. Como pôde chegar a prometer Nora a esse energúmeno? É o indivíduo ideal para não fazer feliz uma mulher como ela.
— É um vaidoso. Reconheço-o. Eu tenho a culpa de tudo. Esteve em Santa Fé, no ano passado, por questões de negócios. E enamorou-se de Nora. Minha filha aceitou aquele noivado coagida por mim. Estávamos então à beira da ruína e quis assegurar-lhe o futuro. Há coisa de dois meses recebemos uma carta sua. O trabalho do rancho impedia-o de ir buscar-nos, como era seu desejo, e devíamos vir nós para Prescou o mais depressa possível. O casamento celebrar-se-ia uns dias depois da nossa chegada. O tempo preciso para que Nora preparasse o seu
vestido de noiva e tudo o mais.
— Bom. Agora sinto-me mais contente do que antes, pelo facto de ter procedido como procedi. Parece-me que Butte não tem nada de humano, a não ser a forma exterior. Não quis que Nora lhe ficasse a dever qualquer favor antes de passar a fazer parte das coisas que adornam o seu grande rancho.
Diana estreitou entre as mãos a destra do jovem, olhando-o com expressão diferente da que utilizara até então.
— Talvez tenham sido desnecessários os riscos corridos para nos evadirmos dos domínios de Hayden —disse. — Mas a luta que travaste com os «apaches» e outras coisas mais perdurarão na minha mente sempre que me lembre de ti.
O jovem voltou-se para Nora e acariciou-lhe a face com a ponta dos dedos.
— Só te desejo uma coisa, Nora — disse. — Que sejas tão feliz como mereces.
Abandonou o aposento ao dar-se conta de que a rapariga estava prestes a rebentar em soluços.
Desceu para a rua e começou a atravessá-la em direção ao Armazém Geral, situado no passeio fronteiro ao hotel.
Deteve-se no meio da poeirenta rua ao ouvir uma voz que à sua retaguarda o interpelava.
—Um momento, forasteiro — disse-lhe a voz, arrastando as palavras. — A última vez que esteve aqui esqueceu-se de algo. E estive à espera da sua chegada para lho entregar.
Hal Cargan fez meia volta e encontrou-se com Geat Butte.
—E o que foi, bicharoco? Deixei algum soco por dar?
O rosto do rancheiro congestionou-se.
— Deixou uma onça de chumbo nos meus revólveres. E vou entregar-lha. Ninguém pode bater em Geat Butte impunemente.
— Coragem, gordo.
Abriu as pernas e arqueou o corpo, cravando as suas pupilas nas do seu antagonista.
Nenhum dos dois reparou no cavaleiro que acabava de penetrar na rua principal pelo seu extremo oeste, encaminhando os passos do seu cavalo na direção do jovem.
— Um momento, Butte — falou o cavaleiro, detendo--se a poucos metros de Hal. — Este homem pertence-me.
O jovem pôs-se tenso ao ouvir a voz de David Hayden.
— David Hayden — sussurrou o rancheiro, fitando-o com êxtase. — O rei das montanhas.
— Obrigado pelo apodo de <rei>, Butte. O meu amigo Cargan teria dito o bandido das montanhas.
— Naturalmente — sorriu Hal. — Gosto de chamar as coisas pelo seu nome.
— Este homem insultou-me — disse o rancheiro, recobrando parte do seu aprumo. — E quero fazer-lhe morder o pó...
— Há muito tempo que existe uma conta pendente entre os dois — interrompeu-o o foragido. — Terá de conformar-se em assistir ao seu enterro. Mas há-de morrer às minhas mãos.
— Bem — acrescentou, voltando-se para o jovem. — Devo reconhecer que não te avaliei como merecias. Pensei que dez homens seriam o suficiente para cortar-te a passagem. Por isso, não quis ter o incómodo de dirigir pessoalmente a perseguição. Podes verificar que vim só.
— Isso é tudo o que tens a dizer? — perguntou-lhe Hal, com espantoso sangue-frio.
— Parece-me que sim.
-- Nesse caso, vamos ao que interessa.
Ambos os homens se estudaram brevemente antes de entrarem em ação. Hayden foi o primeiro a lançar as mãos aos seus <Colts>, tirando as armas para fora dos coldres com fantástica velocidade.
Mas Hal foi uma fração de segundo mais rápido. Os disparos do foragido tiveram lugar no preciso momento em que a bala disparada pelo único revólver que Hal sacara lhe atravessava o coração. A contração provocada pela dor desviou a sua pontaria, e os projéteis passaram inofensivos a vários milímetros da cabeça de Cargan.
O chefe dos bandidos girou levemente sobre a sua perna direita e tombou sobre o pó da rua. Hal voltou-se lentamente para o rancheiro, ao mesmo tempo que lia a admiração nos rostos dos circunstantes.
David Hayden era considerado como o homem mais rápido no manejo das armas em todo o Sudoeste dos Estados. E Hal havia-o vencido pela segunda e última vez num desafio cara a cara.
O rosto de Butte estava pálido como o de um cadáver. Um suor frio banhava a sua fronte e havia uma luzinha de pânico nas suas pupilas.
— Quando quiser, Butte — disse calmamente. — Estou preparado.
— Bom... eu... — tartamudeou. — Reconheço que não me portei bem. Perdi as estribeiras e... Bom, creio que o nosso, assunto se resolve com facilidade. Não... não acha?
Hal esboçou um ténue sorriso de ironia. Geat Butte, no fundo, era um cobarde. Voltou-lhe as costas, penetrando no armazém a fim de encomendar os vestidos para as duas mulheres.
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