domingo, 16 de março de 2014

PAS265.Como chamar a atenção da formosa mulher


Roy Bruce parou, exclamando:
- Que formosa mulher!
Não foi um simples madrigal, mas uma reação espontânea, uma espécie de comentário íntimo, sem intenção de que a rapariga o ouvisse. Mas esta bem o ouviu e, embora espreitasse o autor do elogio pelo canto do olho, fez como se o não tivesse visto e apertou o passo exprimindo no rosto um gesto altivo. Estava farta daqueles elogios à sua beleza, não dos elogios propriamente ditos, mas do que tinham de grosseria na maioria dos casos. Em boa verdade o de Bruce traduzia admiração sinceríssima sem qualquer outra intenção; mas, mesmo assim, a interessada não se encontrava com disposição para admitir exceções e considerou-o um mais entre todos.

Roy não ficou contente com a desdenhosa atitude da desconhecida. Estava habituado a que as mulheres o acolhessem com agrado no primeiro minuto, rendidas à sua esbelta e máscula figura, sob o influxo da sua irradiante simpatia. Porque ele era realmente simpático sem afetação. O sorriso fácil, alegria contagiosa, frases oportunas, descaramento e até o seu cinismo, eram fatores decisivos na conquista das boas graças do belo sexo.
Não pretendia que ela lhe agradasse; bastaria que retribuísse o galanteio com um leve sorriso ou um simples gesto de simpatia. Mas, longe disso, a rapariga comportou-se como uma princesa lendária que se sentisse ofendida pelo atrevimento dum humilde jogral.
Foi essa atitude mais que qualquer outro motivo, o que o impeliu a segui-la de longe, atraído pela curiosidade de saber quem era e aonde ia.
Os transeuntes voltavam-se para admirar a formosa mulher, que continuava altivamente o seu caminho com acentuada expressão de desgosto. De repente, dois indivíduos com claros sintomas de embriaguez, barraram-lhe a passagem, dizendo-lhe galanteios de mau gosto. A rapariga parou e, procurando iludi-los, saiu do passeio para o meio da rua. Os grosseiros galanteadores apressaram-se a fazer o mesmo, tomando-lhe o passo entre gargalhadas.
Bruce, divertido a princípio, parou a observar o desenrolar dos acontecimentos. Foi grande o seu assombro ao verificar a reação da desconhecida que, empunhando um pequeno revólver, disse de dentes cerrados:
- Saiam do caminho, imbecis.
Os energúmenos exteriorizaram um excessivo terror para ser verdadeiro, dizendo em ar de medo:
- Não dispare!...
- Saiam do caminho, já disse!
Fingiram obedecer em princípio, mas, logo que saíram da linha de tiro para a direita, um deles agarrou a jovem pelo pulso enquanto ria com mais força:
- Agora vais ouvir tudo o que nos apetecer dizer-te! – convidou depois o amigo. – Aproxima-te, Albert!
Ela debatia-se furiosa, sem conseguir libertar-se.
Roy bendisse o acaso que lhe proporcionava a ocasião de mostrar os seus méritos ante aquela mulher que despertara a sua admiração. Em duas passadas chegou junto dos dois e o punho direito disparou um enérgico murro na mandíbula do mais atrevido o qual soltou a presa disposto a repelir a agressão. Mas o atacante, sem lhe dar tempo a recompor-se, bateu, bateu até o obrigar a cair pela rua fora.
- Cuidado! – gritou alguém.
Voltou-se de repente, a tempo de ver o outro tipo sacar o revólver. Então, com uma velocidade espantosa, tirou o seu e fez fogo. A mão que pretendia feri-lo cobriu-se de sangue e a arma rolou no chão. O primeiro que caíra levantou-se para voltar à carga. Bruce esperou-o a pé firme, disposto a uma verdadeira exibição de boxe.
- Vem aí o xerife! – anunciou uma voz.
Tanto o ferido como o seu companheiro renunciaram à luta edeitaram a correr até dobrarem a próxima esquina. Um pequeno grupo de espetadores aplaudiu o vencedor que olhou em volta, procurando descobrir a linda rapariga, mas teve uma grande deceção, verificando que ela desaparecera.
(Coleção Bisonte, nº 57)

Sem comentários:

Enviar um comentário