À entrada da povoação existia a estalagem do velho Luke que dava albergue aos cavalos e em alguns casos aos seus donos que chegavam a Watsonville e não dispunham de meios para alugar um quarto decente no hotel da cidade.
A primeira pessoa que Gregory viu ao chegar foi um indivíduo andrajoso estendido ao longo da entrada da estalagem, com o rosto oculto por um velho e esburacado chapéu que sem dúvida devia ter pertencido a um homem possuidor de uma cabeça duas vezes maior que a sua.
-Eh! Lá! – gritou Gregory à vista daquela criatura de aspeto miserável.
O outro continuou dormindo rodeado de um exército de moscas que revolteavam em torno do seu chapéu.
Um tiro disparado pelo «gun-man» lançou o alto chapéu pelos ares, continuando o seu proprietário na mesma posição embora os seus olhos se abrissem desmesuradamente, não econhecendo imediatamente o homem que acabva de despertá-lo, daquela maneira tão original.
Podiam-se contar as pessoas que se atreveriam a tratar Freg pela sua deprimente alcunha de «porco sujo», alcunha essa que, sem embargo, tinha bem merecido. Não era fácil encontrar numa só pessoa tanta falta de asseio e tal desmazelo. A barba, assim como o cabelo já grisalho, não viam tesoura desde tempos longínquos e a pele do rosto e das mãos havia adquirido uma cor térrea devido à falta de limpeza.
O que Gregory não conseguira com a bala que acabava de lhe fazer voar o chapéu conseguira-o com o simples emprego do adjetivo «Dirty».
O nauseabundo indivíduo ergueu-se bruscamente como se houvesse sido mordido por uma víbora e olhou o homem que tinha na sua frente o qual lhe mostrava os dentes amarelos.
- As moscas me comam se não és o Gregory!
- Para isso, não é preciso mais que continuares a dormir como estavas há pouco, Freg – replicou com negligência Gregory tratando o seu velho amigo pelo verdadeiro nome. – Não sei se reparaste, meu velho, que, desde que disparei o tiro, elas desapareceram todas.
- Mas quem é que desapareceu e de que me culpas, Gregory?
Este não pôde deixar de rir ao ver a perturbação do amigo e apressou-se a descer do cavalo.
- Preciso de ti, Freg. Posso contar contigo?
- Se se trata de movimento conta comigo, «milorde». Agora reparo que estás gordo e bem parecido, meu velho. Vê-se a légua que comes pelo menos uma vez por dia.
- E tu também o poderás fazer, mas hás-de prometer-me que te lavarás hoje mesmo e mudarás de camisa antes de vires comigo, porque, na verdade, amigo, quase que empestas os ares. Duvido que os donos da mina te tolerem, como acontecia com as moscas.
Já de pé, o homem que possuía um corpo musculoso e ágil, parecia meditar sobre as vantagens da comida, comparando-as com o sacrifício que lhe pediam em troca. Por fim, decidiu-se.
- Se não houver outra solução, podes contar comigo. Bem sabes, Gregory, que pelos amigos até sou capaz do sacrifício que me pedes.
(Coleção Bisonte, nº 54)
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