sábado, 25 de janeiro de 2014

PAS234. Como se os projéteis se cravassem no próprio corpo

A rua estava deserta e solitária. Todos tinham procurado esconder-se, amedrontados e os desocupados que vagueavam pelas ruas procuravam refúgio por trás das portas dos «saloons».
O que dirigia o grupo de malfeitores contemplou Judson com um sorriso de escárnio e depois exclamou:
- Isto é o que acontece aos que querem passar por desembaraçados. Tu quiseste aproveitar-se do dinheiro dos outros e não pagar.
Naquele mesmo instante, Sherry chegou à rua e deteve-se, surpreendido com aquela gente que procurava deixar livre a calçada e aquele grupo de homens que se tinham congregado contra um só, que se mostrava assustado, mas não vencido.
Judson, ante a acusação do chefe dos bandidos, respondeu.
- Sois uns assassinos. E Travers é igual a vocÊs. Fizeram todo o possível para me arruinar. Primeiro afundaram o meu negócio e depois emprestaram-me dinheiro com o fim de ficarem com o estabelecimento.


Um dos malfeitores bateu-lhe com força e derrubou-o. Judson soltou um gemido e camabaleou. Outro dos seus inimigos também o agrediu, por sua vez, empurrando-o para cima do terceiro bandido. ESte agarrou-o pelas costas imobilizando-o.
Um dos seus companheiros aproximou a mão do revólver, enquanto dirigia olhares à sua volta com ar fanfarrão, como a desafiar quem ousasse intervir.
O outro acercou-se de Judson e começou a agredi-lo com fúria selvagem, enquanto o cativo gritava com desespero:
- Travers é um assassino... Travers arruinou-me e ficará com o estabelecimento por meia dúzia de dólares. Sei que me vão matar, mas já não me importo. Assassinos!
Sherry, indignado com aquela cena, deu um passo em frente, decidido a intervir. O espetáculo de três homens que torturavam um, enquanto toda a cidade permanecia acobardada, despertava nele uma fúria silenciosa.
Aqueles três desalmados não eram inimigos perigosos para um homem de verdade. Bastariam dois tiros para os fazer fugir com o pânico refletido nos rostos, que então ostentavam tão orgulhosos.
Mas, de súbito, deteve-se. Judson, como os outros que então se escondiam atemorizados, eram os que tinham querido enforcá-lo semprévio jlgamento. Eram os que o tinham expulsado e que pretenderam roubar-lhe a mulher que amava.
Ele nada tinha de comum com os habitantes de Dottown.
Que se defendessem se tinham coragem. Na luta travada entre Travers e Dottown, ele nada tinha que ver. Não era a sua luta.
Lentamente, recuou, contendo a fúria e contemplando-os com desprezo.
Judson continuava a gritar.
- Arruinaram-me e agora querem matar-me. Sois os pistoleiros de Travers, que é demasiado cobarde para intervir pessoalmente.
O malfeitor agrediu-o no maxilar com ferocidade:
- Cala-te or uma vez.
O outro largou-o e Judson tombou aturdido.
Então os seus trÊs inimigos puxaram pelas armas e apontaram-nas ao caído, sorrindo com cinismo.
- Estás sozinho, Judson.
O agredido assentiu, contemplando a boca dos revólveres que o visavam.
- Sim - disse. - Todos me deixaram sozinho, mas o s que não se atrevem a intervir em meu auxílio não se salvarão. Dan Travers também os arruinará.
Os três malfeitores entreolharam-se.
- Bem. Isto já se acabou - disse o que os capitaneava. - Acabemos de uma vez.
Puxaram pelos gatilhos, esvaziando os tambores no ventre de Judson que se torcia com dores.
Sherry sentiu, por assim dizer, que os projéteis se tinham cravado no próprio corpo.
(Coleção Búfalo, nº 60)

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