- Sei que me odeias, Laffite, e que tudo quanto disser não servirá de nada, Mas, de qualquer maneira, aí vai. Estás enganado. Jamais pretendi aproveitar-me de vocês. Ganhei-vos afeto e sempre quis comportar-me o melhor possível convosco. Nunca deixei de vos pagar as peles por um preço razoável, ficando apenas com uma pequena margem de lucro para mim. Vocês tinham a tradição que o caçador chegado em último lugar aguentaria com o preço mais baixo. Acatava esse costume, mais por graça, do que por outra coisa. Mas depois, quando me compravam as provisões, eu procurava favorecer o que recebera menos, dando-lhe a diferença em mercadorias. Assim, tudo ficava no seu devido lugar e ninguém podia sentir-se prejudicado. Se fizesses um esforço de memória, talvez visses isso claramente. Mas não, o teu ódio por todos não o permite.
- Foi um belo discurso de despedida, mas, como tu próprio o disseste, não te serve de nada. Continua, pede-me que te deixe viver.
- Não, Pierre. Eu não sou Duke e tudo o que disse não foi uma súplica. Desejava apenas que o soubesses, para compreenderes quão odioso é o teu crime. Dispara já. Estou preparado.
O rosto de Laffite tornou-se sombrio. Esperava, sem dúvida, ver um Paul Ray bem diferente. Julgou que o comerciante imploraria piedade, como Duke, mas não acontecera assim e os seus olhos brilharam de raiva.
- Bem, comerciante, aí vai a tua conta.
Premiu duas vezes o gatilho e ouviram-se outras tantas detonações.
Ray estava próximo do abismo, dobrou-se ao ser atingido pelas balas. Todavia, levantou a cabeça, e, com uma máscara de dor estampada no rosto, olhou o homem que o matava.
- Não podes sair triunfante, Pierre. De um momento para o outro… o destino… te fará pagar… por tudo isto.
Ao acabar a frase, deixou-se cair e resvalou no abismo.
Durante segundos, apenas se ouviu o cachoar da água que corria lá em baixo.
Depois, o silêncio foi cortado por uma gargalhada histérica de Laffite.
- Foi um bonito final!
(Coleção Búfalo, nº 52)
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