quinta-feira, 10 de julho de 2014

PAS354. Nunca confies numa rapariga bonita despida

— Não continues! — atalhou Francis. — Se pretendes que me defronte com eles, deixa de sonhar. Não sou nenhuma criança, é...
— Mas portas-te como se o fosses — afirmou Boston, com ar desdenhoso. — Um homem procurava divertir-se como se divertiram ontem à noite os teus amigos.
— Que queres dizem? — perguntou o bandido, com voz rouca.
— O que te diriam Brenann e os outros, se não fosses mestiço. Mas vê-se que há coisas que reservam só para eles, e...
— A que te referes?
— Deita uma vista de olhos para o interior da cabana!
 Obrigando-o a continuar de costas e com os braços no ar, Lone Francis voltou a cabeça por um instante. O que viu deixou-o sem fala. Nem queria acreditar no que via. Era impossível que fosse real, não só a beleza esplendorosa da rapariga, mas que tivesse despido a blusa e o olhasse com aquele gesto de triste resignação.
— Admiras-te? — perguntou Carvett, adivinhando o que se passava na mente do outro. — Pois se os outros aproveitaram, tu...
O mestiço não o ouvia. Nos seus olhos brilhava o fogo de todas as paixões inconfessáveis. A rapariga era a mais bonita que contemplara em toda a sua vida. E, além disso, branca e pura! E tinha-a ali, ao alcance da mão, sem pensar em oferecer resistência!

Por um segundo esqueceu-se de Boston; deixou de lhe apontar os revólveres e voltou-se para a jovem. Procurou retificar em seguida, assaltado pela suspeita duma cilada, mas Carvett aproveitou aquela última oportunidade, atacando-o sem hesitações.
Dum salto, caiu-lhe em cima, fazendo-o rolar pelo chão. Francis não era de grande estatura nem corpulento, mas tinha músculos de aço e a raiva e o desespero multiplicavam as suas energias. Já no chão, voltou-se para o seu inimigo, defendendo-se com unhas e dentes.
Perdera um dos revólveres na queda, mas ainda lhe restava um, que empunhava na mão esquerda. Com' um esforço, Boston conseguiu pôr-se em cima do mestiço, aplicando-lhe sucessivos socos no rosto. Enganou-se, todavia, ao pensar que bastariam dois socos para deixar sem sentidos o seu contendor; mas Francis, não só encaixou todos os socos, corno ripostava com pontapés e cabeçadas.
Um dos joelhos de Carvett segurava contra o solo o braço esquerdo do mestiço, que ainda empunhava um revólver. De repente, Lone conseguiu libertar o braço com um esforço e curvou o punho para fazer fogo sobre o seu inimigo. Instintivamente Boston, fugiu com a cabeça para o lado e a bala raspou-lhe apenas o lado direito, donde brotaram urnas gotas de sangue, que escorreram pela face.
Carvett cravou então as duas mãos no pulso esquerdo de Francis e conseguiu afastá-lo de maneira que os tiros seguintes passaram uns centímetros acima da cabeça. Lone lutava furioso por libertar-se e o seu punho direito atingiu várias vezes o rosto do branco. Boston não afrouxou por isso a pressão e foi torcendo lentamente, com terrível dificuldade, o braço do seu inimigo.
(Coleção Pólvora, nº 3)

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