A rapariga despertara em seu peito sentimentos até ali desconhecidos. Confusamente, pressentia que a seu lado poderia ser plenamente feliz. Mas quem era ele, um modesto «cow-boy», um homem sem fortuna nem outros méritos que o rígido conceito da honradez e a facilidade de manejar os revólveres, para aspirar à mão duma rica herdeira? E isto, na melhor das hipóteses; porque na pior — o caso de Leonard Mimms ser o companheiro de Sid Latham na noite do crime — teria de fazer justiça na pessoa de seu pai, o que abriria entre ambos um abismo intransponível.
Desejava que Mimms estivesse tão inocente como o desejava sua filha. Mas aquilo não passava duma remota esperança, pouco mais que o seu desejo.
Todos os indícios eram contra ele. Até a acusação que Lone Francis começava a formular e fora interrompida pela inoportuna chegada do xerife. O mestiço não chegou a dizer o seu nome, é certo; mas falou do dono de qualquer coisa, corno sendo o empresário do assassínio perpetrado por ele. De que seria dono aquele indivíduo, que tanto interesse tinha em desmascarar? Podia ser de alguma mina, estabelecimento ou rancho.
— E o rancho não pode ser outro senão o «Empire»...
Chegava a tão desoladora conclusão, quando ouviu ao longe o tropel dum cavalo. Vinha do lado onde se erguia o imponente edifício dos Mimms, e era apenas um cavaleiro; embora estivesse ainda muito longe para o identificar, Carvett não teve a menor dúvida de quem se tratava. Doretta cumpria ao pé da letra a palavra dada!
Avançou a pé, procurando não se tornar demasiado visível como medida de precaução, até colocar-se entre as A árvores que se erguiam a quinze ou vinte passos do que foi a entrada principal do «Saguaro Ranch». A rapariga conduziria o cavalo até ali, e Boston esperá-la-ia escondido atrás dalgum dos troncos e com os revólveres ao alcance da mão. Podia não ser ela e não queria sofrer as consequências de qualquer equívoco lamentável.
Depressa se dissiparam as suas dúvidas. Era realmente Doretta e ninguém a seguia de perto. A rapariga estacou o cavalo a meia distância entre a entrada da casa e as árvores, olhando em volta com ar interrogativo. Completamente tranquilizado, Carvett avançou ao seu encontro:
— Bons dias, Doretta! Já vejo que cumpriste a tua promessa de vires falar-me novamente. Espero que a tenhas cumprido também quanto ao resto.
— Eu cumpro sempre o que prometo — afirmou a rapariga com um sorriso, ao mesmo tempo que saltava com agilidade -para o chão.
— Sabes então quem foi o cúmplice de Sid Latham?
A jovem respondeu, contando com todos os pormenores, Sem ocultar absolutamente nada, a conversa que tivera com seu pai. O dono do «Empire Ranch» admitia que se aproveitara do crime, anos depois de cometido, mas repelia redondamente a ideia de qualquer intervenção direta ou indireta no mesmo. O seu papel não era muito airoso; todavia, era cem vezes menos grave do que Boston pensara.
— Tenho de reconhecer que estava equivocado respondeu, pensativo, quando Doretta concluiu.
— Por supores que eu poderia descobrir o outro assassino? — inquiriu a jovem com rapidez.
— Nisso e em mais alguma coisa — respondeu Carvett.
— Que meu pai ajudara Latham talvez? — tornou a perguntar a rapariga, por cujos olhos passou um relâmpago de tristeza.
— Sim. Julgava estar seguro, ontem, de que era um dos culpados. Agora felicito-me por me ter enganado.
— Eu também — afirmou Doretta.
— Mas talvez eu tenha maiores motivos para me alegrar; seria horrível que fosse teu pai precisamente...
Não concluiu a frase nem foi preciso para que a jovem compreendesse o seu significado. Pôs-se muito corada e, num movimento instintivo, ocultou o rosto no peito de Carvett, que a apertou com força nos seus braços. Sem levantar a cabeça, murmurou:
— Lamento não ter pedido ajudar-te mais, Boston.
— Já me ajudaste mais do que supões, querida.
— Que farás agora? --- inquiriu a rapariga, que não mostrava pressa em se soltar dos braços de Carvett. — Não sabes quem é o tipo que procuras, e isso...
— Hei-de descobri-lo — afirmou Boston, com segurança. — Há um tal Lone Francis que o sabe. Ontem à noite estava quase a dizer-mo, quando nos interromperam. A primeira vez que o veja...
— Basta voltares a cabeça para me veres! — disse então uma voz trocista nas suas costas. Colhido de surpresa, Carvett não foi capaz de reagir com a necessária rapidez, embora se o fizesse, certamente, de nada lhe servisse. Ao voltar a cabeça viu o mestiço a uns dez passos de distância com um revólver em cada mão e um clarão homicida nos olhos escuros.
— Quieto! -- gritou outra voz, no momento em que voltava a cabeça. — Estás cercado e não tens salvação possível. Se tentas empunhar uma arma, não só morrerás In, mas também a rapariga...
Trigger Brenann surgira de entre o mato à esquerda de Lone Francis. Também tinha os revólveres nas mãos e estava disposto a apertar os gatilhos sem grandes considerações.
— Cercado? — repetiu Boston, incrédulo, enquanto pretendia ganhar tempo à espera duma oportunidade, embora remota, de poder baixar as mãos ao cinturão.
— Sim — confirmou Brenann. — Já podeis aparecer, amigos! Assim se convencerá o incrédulo de que não tem salvação possível...
Obedecendo à sua ordem, Lubell e Palmer surgiram então do lado oposto onde se encontravam os pistoleiros. Doretta, que se soltara dos braços de Carvett, ao ver o vaqueiro da «Empire» teve uma leve esperança de salvação.
— Hugh! — gritou, dando uns passos ao seu encontro. — Tu não deixarás que esses...
— Quieta, menina! — ripostou, carrancudo, Palmer. — Se esse não levanta os braços, terei de a matar.
Boston hesitou um décimo de segundo. Depois, compreendendo que não estava em jogo só a sua vida, optou por levantar as mãos à altura da cabeça. Se Doretta não estivesse no meio, ter-se-ia atirado ao chão com rapidez tirando os revólveres e no pior dos casos morreria matando. Mas, por uma leve esperança de salvar-se, não podia sacrificar a rapariga.
(Coleção Pólvora, nº 3)
Desejava que Mimms estivesse tão inocente como o desejava sua filha. Mas aquilo não passava duma remota esperança, pouco mais que o seu desejo.
Todos os indícios eram contra ele. Até a acusação que Lone Francis começava a formular e fora interrompida pela inoportuna chegada do xerife. O mestiço não chegou a dizer o seu nome, é certo; mas falou do dono de qualquer coisa, corno sendo o empresário do assassínio perpetrado por ele. De que seria dono aquele indivíduo, que tanto interesse tinha em desmascarar? Podia ser de alguma mina, estabelecimento ou rancho.
— E o rancho não pode ser outro senão o «Empire»...
Chegava a tão desoladora conclusão, quando ouviu ao longe o tropel dum cavalo. Vinha do lado onde se erguia o imponente edifício dos Mimms, e era apenas um cavaleiro; embora estivesse ainda muito longe para o identificar, Carvett não teve a menor dúvida de quem se tratava. Doretta cumpria ao pé da letra a palavra dada!
Avançou a pé, procurando não se tornar demasiado visível como medida de precaução, até colocar-se entre as A árvores que se erguiam a quinze ou vinte passos do que foi a entrada principal do «Saguaro Ranch». A rapariga conduziria o cavalo até ali, e Boston esperá-la-ia escondido atrás dalgum dos troncos e com os revólveres ao alcance da mão. Podia não ser ela e não queria sofrer as consequências de qualquer equívoco lamentável.
Depressa se dissiparam as suas dúvidas. Era realmente Doretta e ninguém a seguia de perto. A rapariga estacou o cavalo a meia distância entre a entrada da casa e as árvores, olhando em volta com ar interrogativo. Completamente tranquilizado, Carvett avançou ao seu encontro:
— Bons dias, Doretta! Já vejo que cumpriste a tua promessa de vires falar-me novamente. Espero que a tenhas cumprido também quanto ao resto.
— Eu cumpro sempre o que prometo — afirmou a rapariga com um sorriso, ao mesmo tempo que saltava com agilidade -para o chão.
— Sabes então quem foi o cúmplice de Sid Latham?
A jovem respondeu, contando com todos os pormenores, Sem ocultar absolutamente nada, a conversa que tivera com seu pai. O dono do «Empire Ranch» admitia que se aproveitara do crime, anos depois de cometido, mas repelia redondamente a ideia de qualquer intervenção direta ou indireta no mesmo. O seu papel não era muito airoso; todavia, era cem vezes menos grave do que Boston pensara.
— Tenho de reconhecer que estava equivocado respondeu, pensativo, quando Doretta concluiu.
— Por supores que eu poderia descobrir o outro assassino? — inquiriu a jovem com rapidez.
— Nisso e em mais alguma coisa — respondeu Carvett.
— Que meu pai ajudara Latham talvez? — tornou a perguntar a rapariga, por cujos olhos passou um relâmpago de tristeza.
— Sim. Julgava estar seguro, ontem, de que era um dos culpados. Agora felicito-me por me ter enganado.
— Eu também — afirmou Doretta.
— Mas talvez eu tenha maiores motivos para me alegrar; seria horrível que fosse teu pai precisamente...
Não concluiu a frase nem foi preciso para que a jovem compreendesse o seu significado. Pôs-se muito corada e, num movimento instintivo, ocultou o rosto no peito de Carvett, que a apertou com força nos seus braços. Sem levantar a cabeça, murmurou:
— Lamento não ter pedido ajudar-te mais, Boston.
— Já me ajudaste mais do que supões, querida.
— Que farás agora? --- inquiriu a rapariga, que não mostrava pressa em se soltar dos braços de Carvett. — Não sabes quem é o tipo que procuras, e isso...
— Hei-de descobri-lo — afirmou Boston, com segurança. — Há um tal Lone Francis que o sabe. Ontem à noite estava quase a dizer-mo, quando nos interromperam. A primeira vez que o veja...
— Basta voltares a cabeça para me veres! — disse então uma voz trocista nas suas costas. Colhido de surpresa, Carvett não foi capaz de reagir com a necessária rapidez, embora se o fizesse, certamente, de nada lhe servisse. Ao voltar a cabeça viu o mestiço a uns dez passos de distância com um revólver em cada mão e um clarão homicida nos olhos escuros.
— Quieto! -- gritou outra voz, no momento em que voltava a cabeça. — Estás cercado e não tens salvação possível. Se tentas empunhar uma arma, não só morrerás In, mas também a rapariga...
Trigger Brenann surgira de entre o mato à esquerda de Lone Francis. Também tinha os revólveres nas mãos e estava disposto a apertar os gatilhos sem grandes considerações.
— Cercado? — repetiu Boston, incrédulo, enquanto pretendia ganhar tempo à espera duma oportunidade, embora remota, de poder baixar as mãos ao cinturão.
— Sim — confirmou Brenann. — Já podeis aparecer, amigos! Assim se convencerá o incrédulo de que não tem salvação possível...
Obedecendo à sua ordem, Lubell e Palmer surgiram então do lado oposto onde se encontravam os pistoleiros. Doretta, que se soltara dos braços de Carvett, ao ver o vaqueiro da «Empire» teve uma leve esperança de salvação.
— Hugh! — gritou, dando uns passos ao seu encontro. — Tu não deixarás que esses...
— Quieta, menina! — ripostou, carrancudo, Palmer. — Se esse não levanta os braços, terei de a matar.
Boston hesitou um décimo de segundo. Depois, compreendendo que não estava em jogo só a sua vida, optou por levantar as mãos à altura da cabeça. Se Doretta não estivesse no meio, ter-se-ia atirado ao chão com rapidez tirando os revólveres e no pior dos casos morreria matando. Mas, por uma leve esperança de salvar-se, não podia sacrificar a rapariga.
(Coleção Pólvora, nº 3)
Sem comentários:
Enviar um comentário