Lone vira morrer muitos, e rira-se, desdenhoso, das suas angústias e terrores. Até então considerara-se tão valente como o maior. Mas uma coisa era ter os revólveres na mão e ver cair os demais, e outra muito diferente era encontrar-se desarmado e esperar que os negros Canos que estavam apontados ao seu peito cuspissem a mensagem da morte. As pernas negavam-se a sustê-lo de pé como se fosse feito de farrapos, e urna mão• de ferro parecia apertar-lhe o pescoço, impedindo-o de respirar: Viu que o seu adversário ia pronunciar a palavra «cinco» e todo á seu aprumo caiu estrepitosamente.
— Não! Por Deus, não dispares! Falarei! Direi tudo o que quiseres...
— Mataste o velho Fasvcett? — perguntou Boston com os olhos fixos no mestiço.
Ainda aterrado, o primeiro impulso de Lone foi abanar a cabeça em sinal negativo. Conteve-se a tempo, receoso de receber urna bala. Não disse nada, talvez porque não conseguia falar. Mas levantou e baixou a cabeça num rotundo gesto de afirmação. Não quero gestos, mas confissões gritou Carvett mal-humorado e ameaçador. — Vais responder a outras perguntas, mas dizendo com clareza nomes e apelidos. Como se chama o que te pagou para assassinares o juiz de paz? Onde está e que interesse tinha no crime?
Francis hesitou, ofegante, suado, com os olhos esbugalhados pelo pânico. Compreendia que a sua declaração podia levá-lo diretamente à forca. Mas tinha de dizer alguma coisa, porque inclusivamente a perspetiva de ser enforcado três dias depois era menos temível que os revólveres empunhados por Boston.
— Ignoro porque desejava a sua morte -- respondeu com lentidão, como se cada palavra lhe custasse uni grande esforço, procurando ganhar tempo, desesperadamente. — Não mo disse nem eu lhe perguntei. É possível que se tentasse averiguá-lo...
— Basta de rodeios! — vociferou Carvett, irritado, furioso com a tática dilatória do mestiço. — Quem é esse indivíduo? Se não o dizes agora mesmo, não terás possibilidades de dizer mais nada. Entendido?
— Sim — respondeu Francis, cujo tremor se acentuou consideravelmente. — O que me encarregou de liquidar Fawcett é o do...
— Quietos todos! — interrompeu-o naquele instante, com grande contentamento seu, uma voz autoritária. — Que aconteceu aqui, e o que fazem vocês?
Patrick L. Martin, xerife de Tucson, acabava de entrar no «Moon Bar» atraído provavelmente pelos tiros. Entrava, corno era lógica, com as mãos apoiadas rias coronhas dos revólveres. Atrás dele; em atitude semelhante, avançava o seu ajudante Homer Croy.
— Ainda bem que chegou, xerife! -- disse Boston, sem mudar de atitude, nem mostrar o mínimo receio. — Chega mesmo a tempo de ouvir a confissão deste bandido.
— Guarde as armas! -- exigiu Pai. — Falaremos com mais calma e entender-nos-emos melhor sem a coação dos revólveres.
— Obedece, rapaz! — aconselhou Homer que, rápido e eficaz como de costume, dera uma volta dissimulada para se colocar atrás deles. — Poderias arrepender-te se recusasses...
Boston hesitou uns segundos. Por fim resolveu meter as armas nos colares. Não receava nada por parte do mestiço, que estava demasiado assustado. Também nada receava do xerife porque acabava de chegar a Tucson, não falara com ninguém e ignorava que ele o procurava por causa da morte de Latham.
— Que se passou aqui? — voltou a perguntar Martin, satisfeito por se ver obedecido.
— Lone Francis quis assassinar-me «pelas costas -- respondeu Carvett. — Disparou antes de eu me poder voltar e se não tenho um pouco de sorte...
—Mentira! — protestou o aludido. — Foi ele quem me atacou quando eu estava desprevenido. e...
Um coro de protestos impediu ouvir as suas últimas palavras. O olhar do xerife ia dum para o outro dos contendores e não duvidava de que lado estava a verdade e a razão.
— Não percamos tempo com discussões idiotas -- disse Boston, quando conseguiu fazer-se ouvir. — Todos os presentes podem contar o que aconteceu. Mas há algo cem vezes mais importantes e grave: este tipo acaba de confessar que assassinou o juiz de paz!
— É verdade? — interrogou Pat, voltando-se para o mestiço.
Francis negou com surpreendente cinismo e energia desesperada. Não dissera nem confessara nada. Colocando-o. sob a ameaça dos revólveres, Carvett acusou-o sem apresentar qualquer prova nem lhe permitir protestar.
— És tão mentiroso como cobarde! -- insultou Boston com desprezo. — Só mereces que eu...
— Cuidado, xerife! — exclamou o mestiço amedrontada, vendo o seu inimigo levar as mãos ao cinturão. — É capaz de assassinar-me na sua presença! Como representante da Lei não pode consenti-lo...
— E não consentirei! -- cortou Pat. Deixe as armas em paz, Boston! E tu, Homer, vigia-o para que não faça tolices.
— O. K., xerife -- resignou-se a obedecer Carvett. -- Mas não se esqueça de que esse canalha matou Fawcett e confessou que o fez por ordem de...
Os gritos de protesto de Francis, inexplicavelmente secundados por vários indivíduos que acabavam de entrar no «Moon Bar», não deixaram perceber o final da frase. Seguiram-se uns momentos de confusão, em que todos pretendiam falar ao mesmo tempo.
— Basta! — gritou Pat, irritado. — Silêncio! Vens comigo à cadeia, amigo — acrescentou, agarrando Francis por um braço. — Ali ninguém nos interromperá.
— Leva-me preso... a mim? -- inquiriu Lone, simulando na perfeição um assombro que as circunstâncias não justificavam de modo algum.
— Claro! Ou esperavas que te desse um prémio?
— Não deve prende-lo só a ele, xerife — interveio com decisão um indivíduo colocado em segundo plano e que não era outro senão Lubeil, o melhor amigo de Trigger Brenann.
— Que queres dizer com isso? -- perguntou Pat, surpreendido e aborrecido.
— Que tem obrigação de levar o outro também. Matou Sid Latham, e se o deixasse escapar...
— Sid Latham era um miserável — replicou Boston, com serenidade. — Há quinze anos assassinou os meus pais. Quando o interroguei sobre o seu crime, respondeu aos tiros. Tive de o matar em legítima defesa e não cometi qualquer delito.
— Isso dizes tu! — replicou Lubell, agressivo...
(Coleção Pólvora, nº 3)
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