segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

PAS237. Despertando para uma nova missão

Os dois bandidos encaminharam-se ao encontro da jovem. Esta empalideceu de terror. O ancião que a acompanhava empalideceu por sua vez, mas levou a mão ao revólver.
- Fora daqui... Deixem-nos em paz.
Chuck, sem esperar que ele fizesse qualquer gesto agressivo, disparou sobre o ancião. Este dobrou-se sobre si mesmo e a jovem lançou um grito de horror. Handy riu por sua vez e, chegando junto dela, disse, pegando-lhe na mão:
- Vamos, preciosa, não te preocupes. Eu costumo ser simpático quando me tratam bem.
A rapariga tentou safar-se daquela garra que a segurava, mas não o conseguiu. Handy continuava a rir, sem se preocupar com o seu temor. A rapariga, aterrada, ergueu a mão livre para lhe bater na cara, enquanto dizia:
- Deixa-me, canalha!


Handy contemplou-a, estupefato, ao mesmo tempo que Chuck exclamava:
- Quem julga que é esta estúpida?
Mas o seu amigo, em vez de se enfurecer, rompeu a rir brutalmente.
- Gosto das raparigas decididas. É muito mais divertido amansá-las.
A jovem tentou novamente libertar-se e, como o não conseguisse, esbofeteou o seu raptor uma vez mais. Handy pensou que a sua paciência chegara já ao limite e exclamou:
- Preferi mostrar-me amável contigo, mas tu não compreendeste. Agora vou ensinar-te como sou.
Sem mais palavras, de empurrões na jovem, e aplicou-lhe depois uma bofetada. O grito dela elevou-se na rua aterrada.
Sherry contemplava a cena, sentindo que uma fúria surda ia despertando no seu coração. Aquele espetáculo iníquo agitava fibras espirituais que ele julgava adormecidas. Aquela cidade, disse consigo mesmo, estava condenada a um inferno pior que a morte. É certo que constituía um castigo para os que uns anos antes tentaram linchá-lo, mas os que mais viriam a sofrê-lo seriam as mulheres e as crianças, que nada tinham que ver com aquele desgraçado assunto. E a imagem da jovem espancada por Handy apresentou-se-lhe como um exemplo do porvir que esperava Lorna.
Ver-se-ia em poder daqueles homens, daqueles seres que nada respeitavam e que nunca tinham em conta as coisas dignas de admiração. Nem um único sentimento nobre podiam albergar no peito. O grito da jovem parece que se lhe cravou no peito como um dardo aceso que lhe recriminava a sua passividade. Alguém tinha de impedir o tormento de tantas mulheres e de tantas crianças, alguém devia conseguir que terminasse para sempre a ameaça que se espalhava sobre os habitantes. daquela cidade e, sobretudo, alguém devia salvar a pequena que Handy estava a torturar.
Para os homens de ação, a palavra «alguém» significa sempre eles próprios e o pensamento não faz mal que impelirem-nos a mover-se.
Quase não deu pelo facto de estar a encaminhar-se para a porta, mas na sua mente gravara-se um firme propósito.
Os outros clientes do estabelecimento contemplaram-no com surpresa, perguntando a si mesmos o que pretendia.
Sherry parou no passeio e gritou:
- Eh! Tu lá, larga-a!
Chuck e Handy voltaram-se admirados, como se perguntassem a que obedecia aquela ordem e se, com efeito, se referia a eles. Depois descobriram Templewood imóvel no passeio, com o corpo rígido, os músculos tensos e um olhar que atravessava os corações. A mão direita permanecia algo elevada, pronta a empunhar o revólver.
Os dois pistoleiros entreolharam-se com uma certa surpresa, enquanto interrompiam o seu «divertimento».
Sherry repetiu:
- Eu disse que largasses a pequena!
Handy encarou o mancebo e exclamou, dispondo-se a continuar:
- Não desafies a morte. Vai-te embora, que ainda estás a tempo.
Eram dois homens e tinham os revólveres na mão. Aquele louco só podia esperar a morte.
Mas Sherry não se alterou.
- Contarei até três. Depois farei fogo.
Handy e Chuck compreenderam que não se tratava de uma vã ameaça e que o forasteiro, a quem não conheciam, pretendia defrontar-se com eles.
O primeiro largou a jovem e visou o mancebo com a arma, enquanto o seu companheiro se decidia a imitá-lo.
Mas nenhum dos dois pôde acionar o revólver.
O «Colt» brotou da mão do mancebo como por magia e na boca negra da arma saíram duas detonações, que ressoaram na rua.
Handy estremeceu e depois foi tombando. O seu companheiro foi-se abaixo com um roble atingido por um raio.
O mancebo ficou só e imóvel no passeio, contemplando os dois cadáveres que jaziam na calçada. Aqueles dois homens, segundos antes, aterrorizavam a rua só com a sua presença. E naquele momento já não eram mais que duas reecordações que pouco a pouco se iriam olvidando da memória de todos.
Mas não terminava ali a sua missão.
No tribunal estavam tentando demonstrar que não era possível culpar os pistoleiros de Travers dos sucessos daquela manhã.
Era para lá que devia dirigir-se.
(Coleção Búfalo, nº 60)

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