sábado, 18 de janeiro de 2014

PAS227. Um anjo baleado

Durante mais de meia hora galoparam em silêncio, subindo e descendo colinas, atravessando vales, rodeando grandes penhascos, atravessando ribeiros. O longínquo fragor de tiroteio atraiu-lhes a atenção. Os sons partiam de uma colina rochosa.
Dirigiram-se para lá num desenfreado galope, mas, antes de lá chegarem, as detonações cessaram subitamente.
Por fim divisaram um cavalo que pastava mansamente, mesmo ao lado de uma pessoa que se encostara estendida no chão pedregoso.
Com uma exclamação de assombro, de maravilhada surpresa, Clifton Kennedy saltou para terra e ajoelhou perto da mulher formosíssima, a estátua carnal do cabelo de fogo.
O rapaz perguntou ao xerife:
- Conhece-a, Dixon?
- Se conheço! É a pobre Mary Namara, a mulher daquele horroroso bandido.
O fatigado e imensamente pálido rosto da mulher de admirável encanto contraiu-se num sorriso que acabou por se transformar num rito de dor. Por entre os dedos da sua mão direita, enclavinhados sobre um dos seios, escorria sangue quente que manchava a decotada blusa da amazona.
Kennedy sentiu-se amargurado. Aquela mulher representava para o rapaz um mundo de sentimentos estranho e perfumado. A pele branca do peito, agora tinta pelo sangue generoso que saía em borbotões, era um grito de revolta, um gemido lancinante.
- Quem… quem lhe fez isto… senhora? – perguntou o rapaz, com a voz afogada pela maior emoção da sua vida.
A mulher abriu os olhos, com cansaço, e olhou o rapaz com verdadeira ternura.
- Os mesmos que… há… pouco… quiseram matar-te… a ti e a … Dixon. Esse… malvado de… Jud… e do seu grupo de… assassinos.
O jovem tirou suavemente a mão de Mary Namara de sobre a ferida. A blusa estava rasgada e ambos os homens puderam verificar que a ferida ão de Mary Namara de sobre a ferida. A blusa estava rasgada e ambos os homens puderam verificar que a ferida a enorme. Embora tivesse sobre ela um lenço a servir de tampão, na pretensão de estancar a hemorragia, o sangue brotava em abundância.
- A senhora não estava só. Quem… quem era o seu companheiro? Certa noite falou-me num guarda-costas. Lembra-se? Eu nunca mais esqueci essa noite. Foi esse homem quem nos ajudou a fugir?
Mary moveu os lábios mas não articulou uma palavra. Moveu a cabeça, afirmativamente, e fechou as pálpebras pesadamente.
(Coleção Búfalo, nº 57)

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