domingo, 26 de janeiro de 2014

PAS235. De alma dilacerada

Três homens entraram no edifício.
Fora um dos armazéns mais importantes da localidade e ainda contava com muitos clientes. Travers considerava-o um bom negócio e decidira anexá-lo.
Mas Aiken o proprietário, nem sequer o escutou quando propôs a compra.
Pela cidade correra o boata do que ia suceder, pois alguma coisa acontecera e receavam que a todos sobreviesse a mesma desgraça, pois todos se sabiam ameaçados por Travers.
Lorna assomou à janela e, quando viu os trÊs homens, receou o pior.
Aiken em pessoa, um ancião de cabelos brancos, saiu ao encontro dos três homens.


Decidido, perguntou, apesar de imaginar do que se tratava:
- Que desejam?
Um deles explodiu:
- Este edifício é nosso! Fora daqui!
Aiken olhou-o, sem se curvar.
- Esta casa é minha. Não me deixarei espezinhar.
O chefe contemplou-o, sorrindo. A esposa de Aiken, tão velha como ele, saíra atrás do marido, pálida e assustada. O bandido fez sinal a um dos homens e este, de um pulo, colocou-se junto da mulher, apontando-lhe o revólver.
Depois, o chefe do grupo inquiriu:
- Estás seguro de que não te vais embora?
Aiken fixou-o um momento e depois baixou a cabeça.
- Como queiram!
Dispunham os dois a ir-se embora, quando um dos bandidos se aproximou do velho  e deu-lhe uma bofetada. Aiken olhou para ele atónito, sem compreender.
- PorquÊ? - perguntou por fim.
O desalmado sorriu, fanfarrão.
- É para não ires de mãos a abanar.
Cabisbaixos, os dois velhos abandonaram o que representava o esforço de toda uma vida.
Lorna, do quarto da sua casa, viu-os afstar-se, sentindo que a alma se lhe dilacerava.
(Coleção Búfalo, nº 60)

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